ASSASSINADO PROMOTOR DO CASO MEINHOF


Publicado na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 8 de abril de 1977

Um comando terrorista assassinou ontem o procurador-geral da República Federal Alemã, Siegfried Buback, no centro da cidade de Karlsruhe. O procurador, que era conhecido em seu país como "o inimigo número 1 do terrorismo" atuou como promotor no processo "Baader-Meinhof" e também foi o responsável pelas investigações que culminaram na prisão do espião da Alemanha Oriental Gunter Guillaume (a prisão deste provocou a renúncia de Willy Brandt ao cargo de Chanceler).
O governo de Bonn, ontem mesmo, ofereceu uma recompensa de 200 mil marcos (mais de Cr$ 1 milhão) por uma pista que conduza aos assassinos.

Terroristas matam procurador-geral da RFA

"Grupo Ulrike Meinhof" fuzila seu inimigo n° 1

KARLSRUHE, RFA - O procurador-geral da República Federal da Alemanha, promotor Siegfried Buback, de 57 anos, foi assassinado ontem por terroristas que posteriormente afirmaram pertencer ao "Grupo de Ação Ulrike Meinhof", em três curtos telefonemas à agência noticiosa DPA.
Buback foi morto com uma rajada de metralhadora, disparada por dois motociclistas que encostaram ao lado de seu carro numa rua do centro de Karlsruhe, ontem de manhã. Seu motorista, Franz Goebel, também morreu e seu guarda-costas, George Wurzer, ficou gravemente ferido.
Os terroristas aguardaram o carro de Buback parar num sinal fechado, a 300 metros de seu gabinete. Quando o sinal abriu, o que estava na traseira da moto tirou a metralhadora de dentro do casaco e abriu fogo. O procurador recebeu várias balas no pescoço. Seu motorista tombou sobre o volante e caiu do automóvel, que continuou andando até bater no meio-fio. Segundo testemunhas um dos terroristas era mulher. A policia encontrou a moto e disse ter prendido um suspeito, mas não deu outros detalhes.

Quem era

Buback dirigiu as investigações sobre o grupo anarquista Baader Meinhof, responsável por uma série de violentos atentados terroristas, incluindo o assassínio de um juiz em Berlim Ocidental, o sequestro de um líder político dessa cidade, um ataque contra a embaixada alemã em Estocolmo e atentados a bomba contra instalações do Exército norte-americano em Frankfurt e Heidelberg, em que morreram quatro soldados.
O promotor Buback foi um dos iniciadores da repressão ao terrorismo de extrema-esquerda no país e era considerado o inimigo número um dos terroristas alemães.
Foi nomeado procurador-geral e encarregado do Tribunal Federal de Karlsruhe, sob cuja jurisdição estão os crimes de espionagem e terrorismo, a primeiro de maio de 1974, depois de prestar serviços nos setores de contra-espionagem do órgão. Foi Buback quem dirigiu as investigações sobre o caso do espião alemão oriental Guenter Guillaume, colaborador intimo do ex-chanceler Willy Brandt, que o tornaram conhecido em todo o país. Segunda-feira ele apareceu em público pela última vez, ao dar entrevista coletiva à imprensa para falar de dois alemães presos como terroristas na Suécia e extraditados à Alemanhã Federal.
O ex-chanceler Brandt lamentou a morte de Buback e afirmou que foi "um assassinato covarde... uma brutal escalada de violência... que atenta contra a ordem do Estado".
Buback prevenira no inicio do ano que os atentados e a violência política estavam aumentando. Com sua morte, eleva-se a dez o número de atentados cometidos contra representantes da Justiça na RFA, desde 15 de maio de 1972. Todos os atentados cometidos depois dessa data foram contra personalidades que se ocupavam dos grupos extremistas como o Baader-Meinhof.

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