ASSASSINADO CRIADOR DO APARTHEID
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Publicado
na Folha de S.Paulo, quarta-feira, 7 de setembro de 1966
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Neste texto foi mantida a grafia original
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JOANESBURGO, 6 (FOLHA) - O primeiro-ministro da União Sul-Africana,
Hendrik Verwoerd, criador do "apartheid", foi assassinado
hoje a golpes de faca dentro da Camara dos Deputados em Cidade do
Cabo, capital legislativa do país.
Verwoerd, de 65 anos, foi golpeado duas vezes no pescoço e
uma no peito por um dos porteiros do Parlamento, o cidadão
branco de origem grega, Dmitri Stafendas, que até o momento
em que foi dominado gritava palavras de insulto ao chefe do Estado.
Verwoerd estava sentado em sua poltrona na Camara, quando Stafendas
aproximou-se tranquilamente do primeiro-ministro, aparentemente para
lhe entregar um recado. Parou em frente a Verwoerd e quando o chefe
de Estado olhou para ele, recebeu o primeiro golpe no pescoço.
O provável sucessor do primeiro-ministro assassinado será
o ministro da Justiça Balthazar Vorster, de 50 anos, um fanatico
racista que chefia a ala extremista do Partido Nacional.
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Verwoerd
distinguiu-se sempre por sua invariavel obstinação racista |
Hendrik Frensch Verwoerd, principal apostolo da politica sul-africana
de segregação racial que se tornou mundialmente conhecida
sob a denominação de "apartheid", nasceu em
Amsterdã, de pais holandeses instalados na Africa do Sul (por
simpatizarem com os boeres) desde o dia 8 de setembro de 1901. Assassinado
ontem pelas mãos de um elemento de sua propria raça,
completaria amanhã 65 anos. Em 9 de abril de 1960, logo após
a inauguração da Feira Internacional de Comercio, fôra
baleado duas vezes por um fazendeiro inglês e hospitalizado
com graves ferimentos.
Tendo estudado na Universidade de Stellenbosch, e em varias cidades
alemãs, tornou-se professor de Psicologia em 1924. Orador fluente
e vibrante, Verwoerd destacou-se politicamente em 1937, quando ajudou
o lançamento do jornal "Die Transvaler". Eleito senador
em 1938, foi em 1950, ao tornar-se ministro para Assuntos Nativos,
que elaborou as sucessivas leis do "apartheid" e incrementou
os serviços sociais para os negros africanos, insistindo sempre
em seu desenvolvimento separado.
Quando se tornou primeiro-ministro da União Sul-Africana em
outubro de 1960, Verwoerd proclamou que o seu imediato objetivo era
a proclamação do regime republicano. Alcançou
a realização desse proposito através de um referendo
de eleitores brancos. Muito trabalhador e atento aos minimos pormenores
de cada tarefa, distinguia-se pela tenacidade e coragem pessoal. Intolerante
com a oposição, com a qual se mostrava frequentemente
desdenhoso, costuma invocar preceitos biblicos para justificar sua
politica de discriminação racial.
Logo nos primeiros anos do após-guerra, começou Verwoerd
a desempenhar seu papel ativo na politica da Africa do Sul. Tornou-se
sucessivamente membro da Executiva do Partido Nacional, membro do
seu Conselho Federal e seu vice-presidente para o Transvaal. Trabalhou
arduamente pela vitoria que os nacionalistas conquistaram na primeira
eleição geral em 1948, embora ele proprio tenha sido
derrotado no distrito de Alberton.
Pouco mais tarde, quando o primeiro governo nacionalista sul-africano
se formou sob a chefia de Daniel Malan, revelou-se toda a obstinação
de Verwoerd como lider do "apartheid".
Em seguida, ano após ano, ele e outros ministros criaram a
legislação destinada a reforçar a segregação
dos negros nos trens, nos onibus, nos bondes, nas estações
ferroviarias, nas agencias postais, nas escolas, nas universidades,
nos clubes, nos lugares publicos em geral, nos empregos qualificados
e em todas as demais esferas da vida do país.
O principal objetivo de Verwoerd era reduzir gradualmente o numero
de nativos nas ocupações, mas o crescimento das industrias
criou problemas serios nessa direção e ele teve de entrar
em conflito com poderosas areas mercantis e outros interesses urbanos.
O ato da educação bantu de 1953 foi talvez a mais combatida
das medidas postas em pratica pelo "apartheid"nessa epoca.
Transferia-se o controle da educação dos africanos das
provincias para o ministro dos Assuntos Nativos, que era ele. A Igreja
Catolica recusou-se a entregar suas escolas e perdeu os subsidios
governamentais. A Igreja Anglicana fechou suas escolas, mas outras
instituições missionarias, incluindo algumas anglicanas,
entregaram as suas ao governo, a maior parte sob protesto.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Verwoerd, que era tambem anti-semita
furioso, mostrou em seu jornal sua simpatia pelo regime nazista. Na
Africa do Sul, em 1936, ainda antes do conflito e três anos
após a ascensão de Hitler ao poder, Verwoerd liderou
um pequeno grupo de professores de Stelenbosch numa demonstração
contra a entrada na Africa do Sul de refugiados judeus da Alemanha.
Em janeiro de 1961, na conferencia dos primeiros-ministros da Commonwealth,
Verwoerd pedira que se aprovasse a manutenção da União
Sul-Africana, que se transformara em republica, no selo daquela organização.
Diante da hostilidade de varios Estados-membros, é que Verwoerd
decidiu retirar seu país da comunidade britanica de nações.
Logo depois da proclamação do regime republicano na
Africa do Sul, o país ficou convulsionado, com prisões
em massa, tiroteios, declaração do estado de emergencia
e, finalmente, o atentado quase fatal contra a vida de Verwoerd. Em
março de 1960, o Congresso Nacionalista Pan-Africano convocou
uma campanha nacional contra a lei que exigia que todos os homens
africanos levassem passes consigo para fins de identificação.
Milhares de africanos responderam à convocação
do Congresso, e o conhecido incidente de Sharpeville ocorreu. Nessa
cidade nativa, perto de Vereeniging, a policia abriu fogo contra os
africanos, matando 67 e ferindo 183. Um pronunciamento oficial sustentou
que a policia atirara em defesa propria, depois que uma multidão
calculada em 20 mil pessoas tentara destruir a sede policial. Os nacionalistas
africanos, não obstante essa explicação do governo,
não deixaram de definir a ocorrencia como "o massacre
de Sharpeville".
O velho sonho republicano de Verwoerd tornou-se realidade no dia 31
de maio de 1961. Ele e seus país vinham representando oficiosamente
papel-chave no mais explosivo problema da Africa: a independencia
da Rodesia. Embora apoiando sem disfarce o regime de minoria branca
rodesiana do "premier" Ian Smith, a União Sul-Africana
tem mantido no plano oficial uma aparente neutralidade. Sem duvida,
o apoio material do governo de Verwoerd à frente dos destinos
da Africa do Sul ajudou a posição de Smith contra Londres
em grande escala. Mas a politica de Verwoerd, evitando oficialmente
o reconhecimento do novo regime rodesiano, abriu caminho somente às
sanções da ONU que atingem a propria União Sul-Africana.
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"Apartheid":
politica oficial e rigorosa de segregação total da população
não-européia |
A Africa do Sul ainda hoje, 314 anos após sua tomada por colonizadores
holandes, encarregados de estabelecer no continente negro uma feitoria
de reabastecimento de navios que trafegavam entre a Holanda e as Índias
Orientais Neerlandesas, continua sendo uma verdadeira possessão
dos brancos, que constituem a minoria da população,
mas detêm em suas mãos o poder politico e mantêm
a majoritaria população negra sob a odiosa politica
do "apartheid".
Do que dizem os dirigentes da minoria branca, para justificar perante
o mundo moderno sua politica de separação, há
uma coisa que não deixa de ser verdade: "Este estado de
separação tem sua origem na historia, por volta do seculo
XIII", quando os brancos se estabeleceram ao sul enquanto os
negros se caminhavam para ali, vindos do norte.
Na verdade a politica de colonização dos paises europeus
durante os seculos XV, XVI e XVII atendeu às necessidades de
expansão comercial da epoca. Os povos exploradores que se aventuraram
pela Africa e America sabiam bem o que queriam das novas regiões
exploradas: metal precioso e as especiarias, com seu alto valor comercial.
Por isso mesmo nunca hesitaram em empregar os mais terriveis metodos
de dominio sobre os novos nativos que encontraram nas novas terras
descobertas. Sempre que puderam, aproveitaram-se dos nativos menos
civilizados para atingir seus objetivos. Foi a partir dessa epoca
de descobertas e colonizações que a historia da humanidade
registrou o ressurgimento da escravidão humana, desaparecida
no Ocidente desde a desintegração do Imperio Romano.
Exatamente os negros africanos é que foram as vitimas daquilo
que na epoca se justificou como a afirmação de que tais
seres não eram abrangidos pelos "direitos das gentes".
Estabeleceu-se assim a escravidão negra, marco inicial de um
processo que modernamente culminaria com a discriminação
contra as pessoas de cor.
Surgindo na historia como possessão holandesa, a Africa do
Sul foi entregue aos ingleses em 1815 pelo Congresso de Viena. Descoberto
o ouro na região, os boers (colonos holandeses), diante da
invasão dos aventureiros ingleses, internaram-se no rio Orange
e no Transvaal. A negativa do presidente do Transvaal, Paulo Kruger,
de conceder permissão aos estrangeiros para a exploração
das regiões mineiras provocou o envio de tropas inglesas e,
como consequencia, a sangrenta Guerra dos Boers de 1899, da qual a
Inglaterra saiu vitoriosa.
Em 1909 surgiu o Dominio da União Sul Africana, que durante
a Segunda Guerra Mundial lutou ao lado da metropole. Com as eleições
gerais de 1948, subiriam ao poder os brancos do Partido Nacionalista,
com seu programa de segregação racial. Desta epoca até
hoje a politica oficial da minoria branca dominante com relação
à população negra tem sido o "apartheid".
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A
segregação |
Já em 1949 os nacionalistas, descendentes dos primeiros colonos
holandeses, fizeram editar o Ato de Proibição dos Casamentos
Mistos. Mais tarde, em abril do ano seguinte, surgiu o Ato da Imoralidade,
que proibiu relações entre mulatos e brancos da Provincia
do Cabo. Em junho do mesmo ano, o Ato de Recenseamento obrigou toda
a população do país a registrar-se por grupos
raciais e a usar cartões de identidade, para impedir que um
mulato passasse por branco. Em julho de 1950, foi baixada a lei basica
do "apartheid", o Ato dos Grupos e Areas: dividiu a Africa
do Sul em areas segregadas, determinando onde cada grupo racial poderia
viver. Em agosto do mesmo ano, houve o Ato de Supressão do
Comunismo, utilizado contra a oposição. Em junho de
1951, o Ato de Separação dos Eleitores retirou dos mulatos
da Provincia do Cabo a condição de eleitores comuns.
Contra esta atitude discricionaria insurgiu-se a Corte Suprema da
Africa do Sul, que a declarou inconstitucional. Entretanto, a resistencia
da Corte Suprema não pôde durar muito, pois o Parlamento
aumentou o numero de membros do tribunal e para as novas vagas foram
nomeados nacionalistas.
De 1953 a 1958 o "apartheid" teve forte recrudescimento:
o regime da separação foi levado de forma compulsoria
às universidades e o Ato de Redistribuição dos
Nativos de Joanesburgo fixou os nativos em determinados locais. Em
1957 foi tambem estabelecida a separação nas igrejas.
Nas eleições gerais de 1958 só os brancos votaram
e a minoria de eleitores confirmou os nacionalistas no poder. Naquele
mesmo ano assumiu o cargo de primeiro ministro o radical Hendrik Verwoerd.
Pela legislação em vigor, é total a segregação
da população negra. Toda desobediencia a essas leis
é severamente punida. Os indigenas que violam os dispositivos
legais, ousando penetrar nas areas reservadas aos brancos, são
amarrados e chicoteados em publico.
Na maioria das cidades sul-africanas vêem-se nos edificios cartazes
com os dizeres: "Não-europeus e vendedores, entrada pela
garagem". Nos elevadores: "Este elevador é somente
para europeus. Há o elevador de serviço para vendedores
e não-europeus".
O que se vê todo dia são brancos e negros entrando e
saindo por portas diferentes, tomando onibus, taxis ou bondes de cores
diferentes para se dirigirem a bairros reservados a cada uma das comunidades
que se separam por grades de três metros de altura.
Os "donos" das principais ruas urbanas são os brancos:
aos negros é vedado transitar junto com os europeus. Nas casas
comerciais, cujos donos são europeus, tambem os fregueses indianos
só são atendidos depois de todos os europeus presentes.
As portas das igrejas, jardins, museus, salões de leitura,
teatros, cinemas, hoteis e repartições do governo estão
fechadas para pessoas de raça negra ou indiana. Nenhum individuo
não-europeu pode frequentar bibliotecas ou piscinas publicas.
As restrições segregacionistas envolvem totalmente a
vida dos não-europeus. Eles não podem ter propriedades
fora das areas especificadas. Não têm representação
no Parlamento: não podem ser votados e nem votam. Os que trabalham
em fabricas ou oficinas não podem ingressar nos mesmos sindicatos
a que pertencem os trabalhadores europeus. São vedados aos
indianos e negros todos os empregos publicos, mesmo os mais humildes.
Com exceção de poucas escolas destinadas especialmente
à sua frequencia, todas as demais estão fechadas para
os não-europeus. Recusam-se passaportes aos estudantes negros
premiados com bolsas para cursarem as universidades indianas. Os não-europeus
das forças armadas não recebem armas e só podem
executar serviços subalternos de não combatentes, como
cozinheiros e carregadores.
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O
dominio da minoria |
Na Africa do Sul, os 3 milhões de brancos exercem dominio sobre
os 12 milhões de negros de maneira oficial e declarada. O "apartheid"
vigora como politica oficial desde 1948, mas intensificou-se a partir
de 1958, quando Hendrik Verwoerd assumiu o poder.
Em outubro de 1960 os brancos aprovaram em plebiscito a mudança
do regime politico da União Sul-Africana: proclamou-se a Republica
(31 de maio de 1961) e foram rompidos todos os laços com a
Comunidade Britanica.
Os disturbios raciais foram sendo enfrentados com crescente energia.
Em março de 1960, a policia abriu fogo contra milhares de negros
reunidos em Sharpeville para protestar contra a lei que obriga os
não-europeus a usar cartões de identidade. Houve uma
centena de mortes.
Com a intensificação dos disturbios raciais, foi promulgada
em maio de 1963 uma lei que confere amplos poderes ao governo e submete
os infratores a rigorosas penas, inclusive de morte.
Diante do flagrante contraste entre a situação em seu
país contraste entre a situação em seu país
e no resto do mundo civilizado, os dirigentes brancos da Africa do
Sul, procuram razões de ordem moral até religiosa para
justificar a segregação imposta aos negros.
Em 1954, Daniel Malan, então primeiro-ministro, afirmava: "Logo
de inicio, devemos compenetrar-nos de que o "apartheid",
separatismo, segregação ou diferenciação
- seja qual for o nome dado à tradicional politica da Africa
do Sul - é parte integrante da tradição sul-africana,
tal como vem sendo praticada desde o estabelecimento dos holandeses
no Cabo, em 1652, e ainda é apoiada pela grande maioria dos
brancos sul-africanos nos principais partidos politicos.
"A consciencia da cor, profundamente arraigada nos sul-africanos
brancos - um fenomeno inacessivel à compreensão dos
mal informados - provem das diferenças fundamentais existentes
entre os dois grupos: o branco e o preto. A diferença de cor
é meramente uma manifestação fisica do contraste
existente entre dois modos de vida irreconciliaveis, entre o barbarismo
e a civilização, entre o idolatrismo e a cristandade,
e finalmente entre numeros esmagadores, de um lado, e numeros insignificantes,
de outros."
Estas afirmações de doze anos atrás são
ainda hoje bastantes atuais. Falando a um jornal carioca, o ministro
Theodore Hewitson, chefe da Missão Diplomatica da Republica
da Africa do Sul que visitou recentemente nosso país declarou:
"Apartheid" é uma palavra da língua "Afrikaans"
que significa um estado de separação. Este estado tem
sua origem na historia, por volta do seculo XVII, quando a nação
branca se estabeleceu na parte sul do continente. Nessa epoca, as
diferentes nações encontraram-se e estabeleceram-se
em suas areas respectivas, ou "home-lands", conservando
suas proprias personalidades, linguas, costumes, tradições
e modos de vida. Estas nações têm mantido suas
identidades separadas através de três seculos consecutivos.
"Assim, a população da Africa do Sul consiste hoje
de grupos nacionais discrepantes: de um lado, a nação
branca e de outro lado, as nações bantu. Seculos de
experiencia na Africa e em outras partes do mundo, demonstraram que
a participação do controle politico sobre uma unica
area geografica entre grupos nacionais rivais tem sempre resultado
em conflitos, que podem conduzir à completa subjugação
de um grupo ou à concordancia da area disputada. Não
existe sequer um unico exemplo, na historia recente, de participação
bem sucedida de controle politico sobre uma unidade territorial indivisa."
Concluiu o ministro sul-africano afirmando que a violencia não
representa solução para o problema de seu país.
"A Africa do Sul", disse ele, "tem sido sempre um país
com uma multiplicidade de povos, cada um com sua propria area territorial
ou "home-lands". Deixemos que continue sendo assim. A essencia
da politica do "apartheid" é, por conseguinte, promover
o desenvolvimento de cada uma destas "home-lands" com unidade
territorial separada, na qual cada povo possa encontrar a expressão
mais ampla de sua propria identidade, com o controle completo sobre
seus proprios interessados."
Os negros africanos do sul nunca aceitaram passivamente a dominação
dos brancos. Segundo Albert Luthuli, Premio Nobel de Paz, "o
povo da Africa do Sul tem longa tradição de luta por
nossos direitos nacionais, que data do começo do desembarque
e conquista dos brancos há 300 anos. Nossa historia é
de oposição ao dominio, protesto e recusa em submeter-se
à tirania. Basta considerar alguns de nossos grandes nomes:
Chaca, grande guerreiro e construtor da nação, que juntou
as tribos na nação zulu; Molchoechoe, estadista e construtor
da nação que criou a nação basuto fora
do alcance das garras dos brancos sul-africanos; Hintsa, dos Khosas,
que preferiu a morte a entregar seus territorios aos invasores brancos."
Hoje a resistencia à dominação é mantida
pelas sofridas organizações partidarias dos negros e
mestiços. O Congresso Nacional Africano foi fundado em 1912
e congrega boa parte da população negra. Defende a unidade
dos africanos e o fim da segregação racial. Desde 1960
suas atividades foram oficialmente suspensas. Seu lider é Alberti
Luthuli.
O Congresso Pan-Africano surgiu em 1959 como dissidencia da organização
de Luthuli, mas no ano seguinte foi tambem colocado fora da lei. Defende
a politica de que somente os negros e os mulatos devem gozar dos direitos
fundamentais e que os brancos são uma minoria estrangeira.
Seu lider é Robert Sobukwe. Tambem o Partido Comunista, que
foi posto na ilegalidade em 1950, se opõe aos nacionalistas.
Atualmente os lideres brancos enfrentam tambem a oposição
de estudantes universitarios. A União Nacional dos Estudantes
Sul-Africanos tem-se manifestado varias vezes contra a tradicional
politica do governo de seu país.
Recentemente os estudantes iniciaram luta sistematica contra um projeto
de lei que institui a segregação racial nos "campus"
das universidades e proibe a participação de estudantes
não-brancos em qualquer associação estudantil
de qualquer grupo etnico que não se dedique exclusivamente
a questões de estudo. Outro projeto proibe que as universidades
façam restrições a estudantes ou funcionarios
que defendam a discriminação racial e impede que os
conselhos universitarios retirem o reconhecimento das organizações
só de brancos, como aconteceu no ano passado na Cidade do Cabo.
Estes projetos impedirão as atividades da União Nacional
de Estudantes Sul-Africanos, organização multi-racial
e fortemente antigovernamental, nas quatro universidades de lingua
inglesa do país. Margareth Marshal, jovem de 21 anos recem-eleita
presidente da UNESA, e John Daniel, vice-presidente, comentando os
projetos, declararam que eles representam os passos finais para roubar
a autonomia universitaria e "que os estudantes lutarão
contra esta legislação, como nunca lutaram antes."
Na situação da Africa do Sul, o certo é que,
se concederem direito de voto à maioria que dominam, os brancos
provavelmente perderão o poder. Por isso os negros têm
sido tão firmemente afastados da vida politica do país.
Mas até quando poderá durar este estado de coisas? |
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