NIXON: GRAVE A SITUAÇÃO NO LAOS
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Publicado
na Folha de S.Paulo, sábado, 7 de março de
1970
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Neste texto foi mantida a grafia original
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O presidente Richard Nixon pediu ontem à Grã-Bretanha
e à União Sovietica que façam respeitar a neutralidade
do Laos, tal como foi decidido em 1962 na Conferencia de Genebra sobre
os Acordos da Indochina, da qual Londres e Moscou são co-presidentes.
Numa longa declaração de quatro mil palavras, o chefe
da Casa Branca advertiu ontem sobre a gravidade da ofensiva comunista
no Laos, numa aberta violação dos acordos. Revelou que
67 mil soldados norte-vietnamitas encontram-se em territorio laociano
empenhados numa ofensiva para comunizar o país. Declarou que
as forças guerrilheiras do Pathet Lao constituem uma "minoria
insignificante", cabendo toda a responsabilidade ao governo do
Vietnã do Norte.
Por outro lado, o presidente negou que existam soldados norte-americanos
combatendo no Laos e afirmou que o seu governo não tem a intenção
de participar da guerra naquele país. Reconheceu contudo que
conselheiros militares dos EUA ajudam no treinamento do pessoal das
forças laocianas. Afirmou que, a pedido do governo local, ordenou
a realização de operações aereas na parte
setentrional do país e sobre a chamada rota de Ho Chi Minh,
via de infiltração de Hanói no sul.
Em Washington, o embaixador laociano declarou que a ajuda militar
dos EUA é vital para impedir que o país caia nas mãos
dos comunistas.
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Nixon
insiste na neutralidade do Laos |
KEY BISCAYNE, Florida, 6 - O presidente Richard Nixon pediu
hoje aos primeiros ministros Alexei Kosygin e Harold Wilson para ajudarem
a restaurar a posição do Laos como país neutro,
respeitando-se os Acordos de Genebra de 1962.
A União Sovietica e a Grã-Bretanha são co-presidentes
da conferencia onde foram concluidos os acordos, pelos quais o Laos
- um país que fica entre a China, o Vietnã do Norte,
o Vietnã do Sul, o Camboja e a Tailandia - seria considerado
neutro, sem a presença de tropas estrangeiras em seu territorio.
Numa nota oficial de quatro mil palavras onde examina a participação
dos EUA na crise do Laos, Nixon disse que o Vietnã do Norte
já tem ali 67 mil soldados do seu Exercito regular e ameaça
ampliar o dominio que já exerce sobre parte do país.
Nixon afirmou que essa ameaça é maior do que em qualquer
época anterior e por isso escreveu duas cartas destinadas aos
chefes de governo da União Sovietica e da Grã-Bretanha,
pedindo que colaborem com os outros 12 paises que assinaram os acordos
para a neutralidade do Laos.
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As
forças |
Existem atualmente 30 batalhões do Exercito do Vietnã
do Norte no Laos. Nixon afirmou que nas suas ultimas ofensivas, quando
tomaram a planicie dos Jarros, os norte-vietnamitas usaram tanques,
carros blindados e artilharia de longo alcance contra as forças
do governo laosiano.
"As forças regulares norte-vietnamitas praticamente tomaram
a seu cargo o esforço comunista para dominar o Laos",
disse o chefe de governo norte-americano, acrescentando que a participação
dos comunistas laosianos na luta é "insignificante".
"Não queremos nada a mais no Laos além de ver uma
volta à vigencia dos Acordos de Genebra e a retirada das forças
norte-vietnamitas, deixando ao povo laosiano a solução
de suas divergencias, de uma forma pacifica", diz a nota de Nixon.
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Historico |
O documento faz um historico da participação dos EUA
na luta do Laos e dá varios detalhes antes desconhecidos sobre
a proporção das atividades norte-americanas na luta
do pequeno reino do Sudeste Asiatico.
"Estamos prontos a colaborar de todas as formas com os outros
paises interessados na busca da paz. Essa busca deu origem às
cartas que enviei hoje a Londres e Moscou. Esta busca continuará
a guiar nossa politica com relação ao Laos", afirmou.
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A
iniciativa |
Nixon decidiu tomar estas iniciativas e esclarecer a posição
do governo norte-americano devido às fortes criticas que vêm
surgindo no Congresso e na opinião publica sobre o assunto,
temendo que os EUA entrem numa situação semelhante à
do Vietnã.
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Presença
dos EUA |
O presidente dos Estados Unidos afirmou que não há soldados
do Exercito norte-americano lutando no Laos e "nem tenho planos
para introduzir forças de combate em terra" no seu territorio.
Disse que existem atualmente 1.040 norte-americanos que são
funcionarios do governo dos Estados Unidos no Laos. Destes apenas
320 estão fazendo trabalhos de carater militar, assessorando
ou treinando as forças laosianas.
Nixon declarou que não há nenhum caso de um militar
norte-americano de forças terrestres que tivesse morrido em
combate com os comunistas no Laos.
Em Washington, uma fonte da Casa Branca, ampliando as declarações
do presidente, revelou que os Estados Unidos já perderam 400
homens no Laos, todos da Força Aerea. Destes, 200 morreram
e 200 estão desaparecidos ou foram capturados pelos comunistas.
Todos estavam em aviões derrubados pelos comunistas quando
bombardeavam a rota de Ho Chi Minh, um complexo rodoviario que sai
do Vietnã do Norte e entra no Vietnã do Sul através
do Laos, levando suprimentos e reforços para as forças
comunistas que lutam no territorio sul-vietnamita.
Nixon declarou em sua nota oficial que os Estados Unidos vêm
dando assistencia militar a forças regulares e irregulares
laosianas há mais de 10 anos, na forma de treinamento, fornecimento
de equipamentos e apoio logistico. Essa ajuda vem crescendo em função
do aumento da participação norte-vietnamita na luta.
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A
aviação |
O presidente disse que aviões norte-americanos bombardeiam
a rota de Ho Chi Minh e fazem vôos de reconhecimento sobre o
norte do Laos, onde forças comunistas chinesas estão
construindo uma estrada; os pilotos norte-americanos fazem missões
de apoio às tropas de terra do governo laosiano.
Mas, nesses casos, os Estados Unidos estão atendendo a pedidos
formulados pelo governo, chefiado pelo principe Souvanna Phouma, afirmou
Nixon.
"Nosso objetivo foi e continua sendo reduzir a participação
norte-americana, e não aumentá-la, a fim de levar a
paz ao reino segundo os acordos de 1962", disse.
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Apoio
continua |
Nixon afirmou que os Estados Unidos vão continuar a apoiar
o governo do principe Souvanna Phouma.
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Kissinger:
a guerra do Vietnã vai até 1973 |
PARIS, 6 - "O governo de Richard Nixon conseguirá
a paz no Vietnã antes que termine seu mandato, em janeiro de
1973", afirmou hoje Henry Kissinger, principal assessor de Nixon
para assuntos externos.
Em entrevista concedida a televisão francesa, Kissinger afirmou
que a paz chegará antes do fim do mandato de Nixon, embora
os Estados Unidos e o Vietnã do Norte ainda não tenham
entrado em negociações serias.
Acrescentou que o governo Nixon "acredita ser possivel uma paz
que dê ao povo do Vietnã aquilo porque está lutando
há quase uma geração - uma oportunidade para
determinar seu proprio destino. Acredito que conseguiremos isso antes
do termino do mandato de Nixon".
A entrevista foi concedida a reporter francesa Danielle Kunebelle,
que passou dez dias filmando "Um Retrato de Henry Kissinger".
O filme foi ao ar hoje à noite pela rede de televisão
francesa.
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Negociação |
Na entrevista, Kissinger destacou que a politica do governo norte-americano
baseia-se na vietnamização e na negociação.
"Nós preferimos as negociações por ser a
maneira mais pratica e rapida, e tambem porque através de negociações
podemos estabelecer um fim definitivo e uma data para o termino da
guerra."
No entanto, esclareceu que "até agora não mantivemos
negociações realmente serias com Hanoi. Enquanto isso
não acontece, aplicamos o que denominamos de 'vietnamização'
da guerra, mas nós preferimos as negociações".
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O
homem |
O filme mostrou Kissinger de uma forma que poucos norte-americanos
já puderam ver: o principal assessor para assuntos externos
de Nixon apareceu saindo para o trabalho com importantes documentos
em uma das mãos e um pacote de roupas sujas na outra.
Uma equipe de cinegrafistas franceses acompanhou Kissinger durante
dez dias, filmando-o enquanto trabalhava na Casa Branca, em seu apartamento
em Washington ou visitando os pais em Nova York.
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A
juventude |
"Acredito que o problema da nossa era não é a propriedade,
mas sim a burocracia. Acho que um dos motivos da inquietação
da jovem geração no mundo é a insatisfação
ou falta de objetivos num mundo burocratico que não apresenta
propositos elevados e oferece a rotina primaria", disse Kissinger.
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