O PAPA PAULO 6° ESTÁ MORTO


O chefe da Igreja Católica sofreu um ataque cardíaco quando rezava

Publicado na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 07 de agosto de 1978

"Com profunda angústia e dor, fomos informados de que o papa Paulo morreu às 21 e 40 de hoje, domingo, dia 6 de agosto". Com essas palavras, o porta-voz do Vaticano, Pierfranco Pastore, anunciava ontem a morte de Paulo 6°, aos 80 anos de idade, em consequência de um ataque cardíaco, sofrido três horas antes, quando fazia orações em seu leito.
Várias vezes nos últimos meses, o papa previra a aproximação de sua morte. Há apenas cinco dias, durante uma cerimônia religiosa, antecipou que o momento não podia estar muito distante.
Com o desaparecimento de Paulo 6°, o cardeal Jean Villot, "camerlengo", assume a direção da Igreja, até que o Sacro Colégio de Cardeais eleja o novo papa.
Haverá um período oficial de luto de nove dias, durante o qual o corpo permanecerá em câmara ardente, na Basílica de São Pedro, onde amanhã será celebrada a primeira missa em sufrágio do papa.
O conclave que elegerá o novo chefe da Igreja deverá ser realizado num prazo de 15 dias. Há mais de 130 cardeais no Sacro Colégio, mas apenas 115 deles podem votar. Além disso um edito de Paulo 6°, limitando a idade para a eleição, torna mais de 80 cardeais inelegíveis.
Três cardeais italianos e três de outras nacionalidades são mencionados como os mais prováveis ocupantes do trono de São Pedro.
Os italianos são os cardeais Sérgio Pignedoli, Sebastião Baggio e Giovanni Benelli; e os estrangeiros são o argentino Eduardo Pirônio, o austriaco Franz Koenig e o alemão Johannes Willebrands.
Baggio, de 65 ambos, é prefeito da Congregação para Bispos, diplomata experimentado que serviu na América Latina e Europa. Não se identifica nem com a ala conservadora e nem com a liberal da Igreja.
Benelli, de 57 anos, foi auxiliar direto de Paulo 6° como subsecretário de Estado do Vaticano. É identificado com a ala conservadora.
Pignedoli, de 68 anos é o presidente do Secretariado para Não-cristãos. Nos meios eclesiásticos é considerado progressista. Propiciou novas relações com o credo islâmico e com outros do terceiro mundo.
O argentino Eduardo Pirônio, de 58 anos, de ascendência Italiana, é o diretor da Congregação para Religiosos, órgão que supervisiona as atividades de sacerdotes e missionários.
O cardeal Franz Koenig, arcebispo de Viena, teve papel importante nos esforços que Paulo 6° desenvolveu para melhorar as relações com os governos da Europa Oriental. Tem, contudo, 75 anos de idade.
Johannes Willebrands, de 68 anos, arcebispo de Utrecht, tem vasta experiência pastoral e esteve no Vaticano como secretário da Congregação para a Unidade Cristã. É considerado progressista.
Assim que a noticia da morte de Paulo 6° foi divulgada, milhares de romanos dirigiram-se à Praça São Pedro para rezar.
Em Brasília, o presidente Geisel decretou luto oficial de três dias e enviou mensagem de condolências a Roma, em nome do povo e do Governo brasileiros.

Morre o papa Paulo Sexto

ROMA - "Com profunda pena e emoção, devemos anunciar que o papa Paulo VI morreu esta noite às 21h40 em sua residência de veraneio de Castel Gandolfo".
Com este comunicado, o porta-voz oficial do Vaticano, Pierfranco Pastore, anunciou ontem a morte, aos 80 anos, do papa Paulo VI, ocorrida às 16h40 (hora de Brasília). Três horas antes o Sumo Pontifice, que estava acamado devido a uma crise de artrite, sofrera um ataque cardíaco e faleceu em seguida a um edema pulmonar - consequência de acumulação anormal de líquido nos pulmões.
O papa Paulo VI, líder de 600 milhões de católicos em todo o mundo, várias vezes nos últimos meses previu a aproximação de sua morte. Há apenas cinco dias, durante uma cerimônia religiosa, antecipou, que sua morte não podia "estar muito longe". Pouco antes do anúncio oficial da morte, funcionários do Vaticano realizaram uma inspeção nas grutas vaticanas, onde os Pontifices são sepultados.
Segundo fontes da Santa Sé no momento de sua morte, encontravam-se na cabeceira do Pontifice seus dois médicos pessoais, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Jean Villot, e vários sacerdotes. O desenlace ocorreu rapidamente, apenas três horas e 15 minutos após o ataque cardíaco.
Aproximadamente 200 pessoas estavam diante da residência de verão do papa em Castelgandolfo, quando sua morte foi anunciada às 22 horas (17 horas em Brasília). Nesse momento, todas as luzes da cidade apagaram-se e os sinos começaram a repicar, enquanto a multidão rezava.
Os médicos que atenderam o Papa Paulo 6° informaram que ele sofreu o ataque cardíaco, quando assistia em seu leito a uma missa celebrada pelo seu secretário particular.
O Vaticano havia anunciado anteontem que o papa, por conselho de seus médicos, estava recolhido a um "completo descanso" por uns poucos dias em Castelgandolfo, depois da crise de artrite.

Caso Moro

Os observadores do Vaticano afirmaram que era a primeira vez em seu reinado de 15 anos que o Papa Paulo 6° não celebrava o tradicional "angelus" em Castel Gandolfo, devido a artrite - doença que restringe os movimentos das pernas e provoca dores intensas.
Contudo a declaração não mencionou o estado geral do chefe da igreja Católica. Algumas fontes haviam assinalado que o Sumo Pontifice não tinha febre e atribuíram a artrite ao calor úmido dos últimos dias. A declaração do Vaticano informara tão somente que o ataque de artrose começou há "alguns dias".
O Pontifice sofreu uma forte gripe que durou cerca de 15 dias durante a Páscoa, que requereu a aplicação de antibióticos e o obrigou a cancelar pela primeira vez sua procissão de via crucis na Sexta-feira da Paixão. O papa havia se submetido a uma cirurgia em 1968 na próstata e desde então só se disse que sofria de resfriados e gripes.
Na última terça-feira o papa visitou a aldeia de um cardeal já falecido e que havia sido seu superior no Serviço Exterior do Vaticano e afirmou na ocasião: "Esperamos encontrá-lo depois da morte, que para nós não pode estar longe".
O semanário italiano "Panorama" afirmou recentemente que o papa sofrera uma forte crise emocional em consequência do sequestro e assassinato do ex-primeiro-ministro Aldo Moro, que era seu amigo pessoal. Segundo o semanário, depois da morte de Moro, em maio desse ano, o papa passou a ingerir estimulantes cardíacos.

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