KENNEDY À MORTE. BALEADO NA CABEÇA


Publicado na Folha de S.Paulo, quarta-feira, 5 de junho de 1968

Neste texto foi mantida a grafia original

Los Angeles, 5 - O senador Robert Kennedy foi ferido gravemente, esta madrugada, com dois tiros na cabeça, no Hotel Embassy de Los Angeles.
Logo depois, o senador foi levado inconsciente, primeiro para o Central Receiving Hospital e, em seguida, para o Hospital do Bom Samaritano, onde deveria ser operado esta amanhã por uma equipe de seis neurocirurgiões.
Às 6h04 (hora de Brasilia) o estado de Kennedy era critico. Às 7h12, era levado à sala de operações.
O filipino atirou 7 ou 8 vezes, de cerca de 3 metros de distancia. Alem de Kennedy, ficaram feridos Paul Schrade, presidente da seção local do Sindicato dos Operarios da Industria Automobilista, Stephen Smith, diretor da campanha eleitoral de Kennedy, e uma jovem não identificada de cerca de 25 anos.

O atentado

Roberto Kennedy comemorava com numerosos simpatizantes, no salão do Hotel Embassy, os resultados das eleições no Estado da California. Depois de pronunciar discurso em que anunciava sua vitoria na previa, Kennedy, acompanhado por alguns dos seus auxiliares mais diretos, desapareceu por um corredor situado atrás da tribuna da qual havia falado. Finalizara dizendo: "E agora, encontro em Chicago". É lá que se realizará a convenção democrata.
O corredor leva à cozinha do hotel e nele há um elevador de serviço pelo qual o senador pretendia chegar a seus aposentos. Um homem armado de revolver ali o esperava. Pequeno, moreno, muito jovem, vestia camiseta e blusão. Disparou 7 ou 8 vezes, de cerca de 3 metros.
Kennedy caiu, sangrando na cabeça. Caido, murmurava algo. Sua esposa, Ethel, aproximou-se e pediu a todos que se afastassem do senador, para que ele pudesse respirar.
Todos cairam em cima do agressor, que se defendeu com vigor contra os que tentavam dominá-lo. Gritava. Muitos queriam surrá-lo, mas os partidarios de Kennedy evitaram, gritando: "Nós o queremos vivo", diversas vezes.
Enquanto isso, começava a reinar uma confusão indescritivel no saguão do hotel. Os alto-falantes não paravam de solicitar a presença de algum medico entre os presentes.
Um dos primeiros a acudir foi Ross Milier, cirurgião negro. Anunciou que o pulso de Kennedy batia então à razão de 130 por minuto.
Um serviço de ordem improvisado começou a evacuar o saguão do hotel. O aparecimento da jovem ferida junto a Bob Kennedy criou um clima dramatico, foi colocada na tribuna da qual Kennedy falara.
Kennedy foi levado urgentemente ao "Central Receiving Hospital" e, em seguida, transferido para o Hospital do "Bom Samaritano" imediatamente, foi-lhe feita tranfusão de sangue e recebeu a extrema-unção. O senador, foi em seguida introduzido em uma sala de urgencia, anunciando-se que seu estado era critico.
Enquanto isso, no hotel, as testemunhas oculares começavam a dar suas versões do caso, por vezes contraditorias, sempre cheias de emoção. Uma das testemunhas sofreu uma crise cardiaca e teve de ser hospitalizada.

A policia não diz quem é o agressor

Los Angeles, 5 - Reina o mais profundo misterio sobre a identidade do autor do atentado de que foi vitima, hoje, em Los Angeles, o senador Robert Kennedy.
Segundo informações da Policia, poderia tratar-se de um filipino, um latino-americano, um eurasiano ou mesmo de um arabe.
O individuo, de uns 25 anos, não reclamou advogado quando lhe foi dito que poderia fazê-lo. Ao que parece, se expressa em inglês com muita dificuldade.
Thomas Reddin, chefe da Policia de Los Angeles, comunicou que o agressor foi internado em uma cela de maxima segurança. As autoridades querem evitar que se renove o episódio de Dallas, quando o suposto assassino do presidente Kennedy foi morto, por sua vez, por Jack Ruby.
Reddin declarou que, no momento do drama, o autor do atentado não se encontrava nem sob a influencia do alcool nem de drogas. Aduziu que em seus bolsos não foi encontrado nenhum documento, mas apenas pedaços de papel que poderiam ter relação com seu gesto.
A Policia fez saber que, no momento, não seria distribuida nenhuma foto do individuo.
As testemunhas oculares puderam ver, nos minutos que se seguiram à tragedia, o agressor, um jovem trigueiro de baixa estatura, levado pela Policia a um carro de presos, protegido da multidão que o queria linchar.
Segundo a tradição estabelecida depois dos casos de John Kennedy e do pastor Martin Lugher King, a Policia publicou um comunicado dizendo que nada permite fazer pensar que o atentado tenha sido causado por uma conspiração.
Contudo, alem dessa afirmação de rotina, nada se soube sobre os motivos ou a personalidade do detido.
A Policia ocupou o saguão do hotel onde ocorreu o atentado e iniciou uma ativa investigação com todo o arsenal técnico que possui.

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