A guerra religiosa da Índia, iniciada quando fanáticos
hindus tentaram demolir uma mesquita muçulmana na última
terça-feira, e que já envolveu os países vizinhos,
cresceu ontem com a morte de cerca de 60 pessoas, segundo informações
não-oficiais. Desde o início dos distúrbios,
170 pessoas já morreram. Desde setembro, o conflito hindu-muçulmano
já matou mais de 300 pessoas. A violência gerou uma crise
política que pode vir a derrubar o primeiro-ministro Patrap
Singh, e reconduzir ao poder o ex-premiê Rajiv Ghandi.
A cidade
de Ayodhya, no norte do país e a 700 km de Nova Déli,
foi palco novamente dos distúrbios mais graves. Cerca de
10 mil fanáticos hindus enfrentaram com pedradas o cordão
de segurança armado pela política em torno da mesquita
muçulmana, que revidou disparando suas armas. Dezenove pessoas
morreram - oficialmente são 9.
Na
última terça-feira, dezenas de milhares de hindus
vindos de todo o país, já haviam tentado invadir a
mesquita enfrentando os policias, em um conflito que resultou em
nove mortos. Os acontecimentos em Ayodhya se espalharam com rapidez
pelo país.
A polícia
tentou dispersar os manifestantes em Ayodhya usando gás lacrimogênio
e golpes de cassete. Jornalistas que estavam no local afirmam que
os manifestantes subiram nos telhados das casas vizinhas e atiraram
pedras nos policiais que, imediatamente, abriram fogo. As testemunhas
contaram dez cadáveres nas ruas e nos hospitais, mas acreditam
que o número foi maior porque os hindus esconderam alguns
corpos da polícia.
Autoridades
do estado de Gujarat, no extremo oeste do pais, solicitam ao governo
central o envio de suas unidades especiais da polícia para
controlar os distúrbios, que já chegaram à
zona rural e fizeram treze mortos. Por todo o estado de Utar Pradesh,
onde fica a cidade de Ayodhya, foram contabilizadas mais 23 mortes.
As forças de segurança têm ordens de abrir fogo
contra qualquer manifestação.
Os
conflitos na Índia incendiaram os ânimos religiosos
nos países vizinhos. Em Bangladesh, nação islâmica
que possui uma minoria hindu, foram registradas três mortes
e mais de 350 feridos, em três dias de motins em Dhaka, a
capital, e em outras doze cidades. Em Islamabad, no Paquistão,
os muçulmanos convocaram ontem manifestações
por todo o país, para protestar contra os acontecimentos
na Índia.
O primeiro-ministro
indiano, Pratap Singh, marcou uma reunião para amanhã
com seus partidários, para tentar encontrar uma solução
política para a crise no país. Representantes de seu
partido, o Janata Dal, e do partido do Congresso, do ex-premiê
Rajiv Ghandi, acreditam que Singh terá que renunciar antes
mesmo da convocação do voto de confiança do
Parlamento, marcado para o próximo dia 7. A crise poderá
dar condições para que Ghandi volte ao poder, que
ele já deteve por cinco anos, depois que sua mãe,
Indira, foi assassinada em 1984.
|