O GENERAL FRANCO ASSUMIU O COMMANDO DAS FORÇAS REBELDES


Publicado na Folha da Manhã, sexta feira, 2 de outubro de 1936

Neste texto foi mantida a grafia original

O vapor hespanhol "Cabo de Santo Antonio" foi impedido pelas autoridade uruguayas de atracar no porto de Montevidéo — Reiniciaram-se as sessões legislativas das Côrtes Hespanholas — As forças desencadearam vigoroso ataque contra os governantes, no setor de Siguenza


Foi aprovado um voto de confiança no governo presidido pelo sr. Azanã — Canhões anti-aéreos foram postados nas immediações do parlamento, na previsão de possiveis bombardeios


MADRID 1 — Reuniram-se as Cortes Hespanholas, sendo a sessão aberta, ás 10 horas, sob a presidencia do sr. Martinez Barrios.
Na bancada governamental achavam-se os srs. Largo Cabaliero, presidente do Conselho, os ministros da Guerra, da Marinha, das Communicações da Justiça, do Interior, do Trabalho, das Obras Publicas o ministro sem pasta sr. Irujo, representante dos católicos e nacionalistas bascos, e o sr. Giral, representante da esquerda republicana.
Na tribuna destinada ao Corpo Diplomatico acreditado na Capital hespanhola viam-se diversos representantes consulares, entre os quaes o embaixador da União Sovietica.
Durante a sessão, que durou pouco tempo, o sr. Barrios declarou que as Cortes se reuniam de accordo com o preceito constitucional e dispensava-se de narrar os factos dolorosos que eram do conhecimento de todos os deputados accrescentando, por fim, que ali se encontrava o novo gabinete afim de receber o voto de confiança do parlamento.
Se elle mereceu —declarou Martinez Barrios— podeis dar esse voto sinceramente.
A Camara approvou o voto de confiança requerido e, em seguida, foi approvada a autonomia das provincias bascas, de acordo com a concessão feita à Catalunha.
A seguir a Camara resolveu adiar os seus trabalhos para o dia 1 de setembro sendo então suspensa a sessão.

Approvado um voto de confiança no governo

MADRID 1 — As Côrtes reuniram-se às 10 horas de hoje e votaram uma moção de solidariedade ao governo. Os Estatutos Bascos foram approvados por acclamação e as sessões da Côrte foram suspensas até primeiro de dezembro.

Conceção de autonomia às provincias bascas

MADRID 1
— As Côrtes approvaram por unanimidade a concessão de autonomia ás provincias bascas.

Fim de se evitarem bombardeios dos aviões rebeldes não foi noticiada a hora da sessão das cortes

MADRID 1 — Cumprido os requisitos constitucionaes, não obstante o facto de a milicia de Madrid estar empenhada em combates renhidos á distancia de apenas uma hora da capital, o gabinete chefiado pelo sr. Largo Caballero compareceu esta manhã perante as Côrtes.
Onze ministros tomaram assento nas cadeiras cobertas de setim azul, que se destinam aos membros do governo. Dois outros ministros, o do trabalho e o da Lavoura,. Encontram-se neste momento em Barcelona. O ministro dos Negocios Estrangeiros está em viagem de Genebra.
O sr. Largo Cabellero, vestido de traje preto de passeio, camisa branca e gravata negra, em signal de luto pelo fallecimento da esposa, parecia sereno, embora um pouco abatido. O sr. Martinez Barrios ostentara sua tranquilidade habitual. Entre o publico presente nas galerias, viam-se numerosos operários. O sr. Marcel Rosemberg, embaixador dos Soviets, acompanhado de dois auxiliares, atravessou a rua, vindo de seu aposento, no Palace Hotel, e tomou assento na tribuna diplomática. Era o unico representante de um governo estrangeiro que estava presente á sessão. O número de jornalistas hespanhoes fora imitado e apenas um ou outro correspondente estrangeiro era visivel no recinto, destinado aos representantes da impressa. Havia poucos guardas, no edificio. Fóra, viam-se os guardas de assalto, os membros da guarda nacional republicana e outros armados de fuzis. Voando alto, quasi invisiveis, faziam evoluções 4 aeroplanos legalistas. Na praça Neptuno e nos predios das immediações da séde do Congresso tinham sido dispostos canhões anti-aereos, apontando para o céo e attentos a qualquer perspectiva de um raide imigro. As Cortes, de conformidade com a constituição da Republica deverão reunir-se no primeiro dia util do mez de outubro. Foi o que se fez. Apenas as sessões se realizam normalmente ás 16 horas, e, desta vez, com o proposito de impedir que os rebeldes ponham em pratica algum projecto possivel de ataque aereo contra o congresso e contra os deputados da Frente Popular, ficou decidido que a sessão seria realizada ás 10 horas da manhã.
A imprensa foi expressamente prohibida de mencionar a hora da sessão parlamentar e os despachos dos correspondentes da imprensa estrangeira tambem foram censurados nesse ponto.

A sessão durou apenas meia hora

MADRID 1 — Na sessão das Côrtes, hoje realizada, os chefes dos differentes grupos parlamentares annunciaram que era com enthusiasmo que voltavam a moção de confiança no governo.
O nacionalista basco, sr. Aguirre, declarou:
"Somos profundamente christãos, mas estamos com o povo, pois delle sahimos. O paiz basco está de pé, para a luta contra o fascismo".
O sr. Santalo, representante da Esquerda catalã, disse:
"O governo tem nossa confiança plena e sem condições, afim de vencer o fascismo, e organizar a republica dos trabalhadores.
O sr. Diaz affirmou que "a classe nefasta dos fascistas" seria vencida e que os fascistas não eram nem patriotas, nem hespanhoes."
O sr. Albornoz, da Esquerda Republicana, declarou que dava o seu voto sem hesitação, tanto mais quando o chefe do governo falara em nome do liberalismo hespanhol, sem qualquer allusão extremista.
O sr. Pedro Rico, alcaide de Madrid, em seguida, apresentou a ordem do dia de confiança que comporta a concessão e plenos poderes.
A moção de confiança foi votada entre acclamações.
O presidente pediu que fosse adoptado o processo de urgencia para a approvação do estatuto basco e da lei de finanças. Os dois projectos foram igualmente votados.
A Camara encerrou os trabalhos a 1 hora e 12, tendo a sessão durado apenas meia hora.

Prossegue sem interrupção o avanço dos inserructos em direção à capital

JACA, 1 — A estação de radio local annuncia que o avanço as tropas insurréctas em direcção a Madrid prossegue sem interrupção e que a situação das provincias que ainda se encontram em poder dos governistas é dificilima, sobretudo no que concerne á subsistencia.
O posto governamental, pelo radio de Gijon, annunciou que actualmente só se podia fazer uma refeição por dia.
Os legalistas que cercavam Oviedo procuravam entrar em contacto com a população por intermedio dos elementos sympathicos, afim de obter pão, de que careciam completamente.

Serão interrogados os funccionários publicos que não partiram para o "front"

MADRID, 1 — Os funccionarios publicos que constituem uma grande parte da população masculina da classe media, republicana liberal —deverão submeter-se a um interrogatorio embaraçoso, antes de serem reintegrados, nos seus commodos empregos. O governo de Madrid quer saber agora por quaes motivos não partiram para o "front" e continuaram sentados em seus tambores dos varios ministerios. Assim, pela primeira vez, a "classe do funcionalismo publico" será chamada a abandonar suas posições, de traz das quaes varias gerações de "auxiliares civis do governo" souberam conservar seus empregos, a despeito das revoluções e das mudanças de regime. Um ministro socialista declarou nestes dias: — "Já não há lugar em Madrid para os neutros", reportando-se não aos estrangeiros por cuja segurança o governo de Madrid insiste em responder, mas, sim ao grande numero de funccionarios, que começa a duvidar qual das duas facções em luta levará as palmas da victoria.

As forças revolucionarias mantem completo dominio sobre Toledo

Entrinceirados no Seminario local cincoenta governamentaes suicidaram-se para não cahirem em poder dos insurrectos, que os cercavam — Scenas dolorosas registram-se na cidade devastada pela guerra

SAINT JEAN DE LUZ, 1 — Segundo um radio captado de Toledo 50 governamentaes entrincheirados no seminario daquella cidade oppõe desesperada resistencia aos ataques nacionalistas, ha 4 dias.
O edificio do Seminario está cercado por todos os lados, pelo fogo intenso das metralhadoras dos nacionalistas, e torna-se impossivel uma retirada.
Os sitiados, até, aqui, se recusaram a se render. Entre os mesmos, se encontram algumas mulheres e crianças, esposas ou filhos de militantes da Frente Popular.
Por esta razão o general Varella teria enviado esforços para obter a rendição, independente de bombardeio. Um capitão é um subtenente, que se encontravam entre os milicianos, foram mortos quando pretendiam fugir. Seus corpos crivados de balas, se encontram expostos na entrada do Seminario, numa casa em que se abrigam nacionalistas.

Suicidio impressionante

TOLEDO, 1 (Das agencias internacionais) — Gritando "Vila la muerte!", quarenta anarchistas, encerrados no seminario, realizaram um espectacular suicidio em massa. Após beberem grande quantidade de "anizete", incendiaram o edificio e se deixaram queimar vivos.
Assim contou-me o general José Varella, commandante da columma junto á qual encontra-se nossa reportagem.
Approximei-me do edificio incendiado do qual se elevavam colummas de fumo, de centenas de pés. No interior, viam-se ricos brocados, pinturas, obras de arte e cortinas de velludo incendiadas. O característico cheiro de carne queimada recordava-me, a todo instante, que lá havia os corpos dos 40 suicidas, carbonizando-se.
Os anarchistas occultaram-se, quando os nacionalistas entraram em Toledo, no seminario, velho edificio de 3 andares á beria do Tejo. Mas a luta travada nas ruas de Toledo, separou-os dos companheiros, cortando-lhes todas as possibilidades de retirada. Ahi ficaram, pois, até serem descobertos pelas tropas nacionalistas na noite da terça-feira.
O general Varella accrescentou que milhares de anarchistas morreram no hospital San Juan, tambem queimados vivos, encontravam-se elles no hospital, quando foi circundado pelas tropas insurrectas e incendiado, após violento canhoneto.
Os anarchistas não quiseram abandonar a resistencia, e pereceram todos carbonizados.
O general Varella affirmou que entre os inimigos capturados, foram descobertos 15 communistas russos.


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