COMPLETADOS NA CONFERÊNCIA DA CRIMÉIA
OS PLANOS MILITARES PARA O ANIQUILAMENTO FINAL DA ALEMANHA
Roosevelt declara que nunca as potências aliadas
estiveram tão intimamente unidas
Em discurso no Congresso, o presidente dos Estados Unidos
relata os resultados da reunião dos três líderes
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Publicado
na Folha da Manhã, sexta-feira, 02 de março
de 1945
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Neste texto foi mantida a grafia original
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WASHINGTON, 1 - É o seguinte o texto do relatório
do presidente Roosevelt, sôbre a Conferência da Criméia,
apresentado pessoalmente hoje ao Congresso, em sessão conjunta:
"É bom estar de volta à pátria. Foi uma
longa jornada. Espero que todos concordem em que foi uma jornada útil.
Falando com tôda a franqueza, a questão de se saber se
ela foi inteiramente útil, ou não, está em grande
parte nas vossas mãos, pois que, a não ser que todos
vós, no recinto do Congresso dos Estados Unidos, com o apoio
do povo americano, concorram nas decisões alcançadas
em Yalta, dando-lhes o vosso apoio ativo, aquela reunião não
terá produzido resultados duradouros.
Essa é a razão pela qual aqui me apresento, perante
vós, o mais rapidamente possível, após o meu
regresso. Desejo fazer um relatório pessoal a vós e
ao mesmo tempo ao povo dos Estados Unidos. Numerosos meses de trabalho
árduo estão a frente de todos nós, e gostaria
de sentir que, quando fôr lançada a última pedra
da estrutura da paz internacional, esta terá sido obra em benefício
da qual todos nós, da América, trabalhamos com determinação
e altruisticamente. Retorno desta jornada, que me levou a 7 mil milhas
de distância da Casa Branca, tranquilizado e inspirado. Os Roosevelts
não são, como podeis pensar, avessos às viagens.
Muito pelo contrário. Por mais distante que estivesse, mantive-me
sempre continuamente informado do andamento dos negócios dos
Estados Unidos. O milagre moderno das comunicações rápidas
fêz com que êste mundo se tornasse muito pequeno, e devemos
ter sempre isso em mente, quando pensarmos ou falarmos de relações
internacionais.
Recebi durante minha jornada uma verdadeira torrente de telegramas
de Washington e, exceto quando o silêncio do rádio era
necessário por motivos de segurança, pude enviar continuamente
os meus telegramas a qualquer parte do mundo e, como é natural,
em caso de grave emergência, poderíamos até mesmo
ter quebrado a regra da segurança."
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Os
dois objetivos da Conferência da Criméia |
"Venho da Conferência da Criméia com a firme crença
de que tivemos um bom princípio na estrada que conduz à
paz mundial. Na Conferência da Criméia, tínhamos
dois propósitos primordiais: o primeiro era levar à
derrota a Alemanha, com a maior rapidez possível e com a menor
perda possível de soldados aliados. Êsse objetivo está
sendo agora visado com as maiores fôrças disponíveis.
O exército e o povo alemães estão sentindo cada
vez mais o poder crescente dos nossos combatentes e dos exércitos
aliados. Cada hora nos dá novo orgulho, em resultado do avanço
heróico das nossas tropas sôbre o solo alemão,
marchando para se unir ao heróico exército russo.
O segundo propósito consistia em continuar na construção
dos fundamentos do acôrdo internacional, que trará a
ordem e a segurança após o caos da guerra, e que poderá
proporcionar garantias de uma paz duradoura às nações
do mundo. Também na direção dêsse objetivo
tremendos esforços estão sendo feitos. Em Teerã,
há mais de um ano, foram apresentados grandes planos militares
pelos chefes de Estado Maior das três mais poderosas nações.
Entre os líderes civis aliados presentes em Teerã, verificou-se
apenas a troca de pontos de vista e expressões de opinião.
Não houve acordos políticos e, aliás, não
se tentou estabelecer nenhum. Na Conferência da Criméia,
porém, verificou-se ter chegado o momento de estudar casos
específicos no terreno político. Assinalaram-se de todos
os lados, nessa conferência, esforços entusiásticos
para atingir um acôrdo. Desde a época da Conferência
de Teerã desenvolveu-se entre todos nós maiores facilidades
para negociações uns com os outros, o que augura a duradoura
futura paz do mundo.
Jamais oscilei na minha crença de que um acôrdo para
assegurar a paz mundial e a segurança internacional pode ser
alcançado. O lapso de tempo, entre Teerã e Yalta, sem
uma conferência de representantes civis das três maiores
potências, provou ser por demais longo, pois foi de 14 meses.
Durante êsse longo período, os problemas locais puderam
tornar-se agudos em regiões como na Polônia, na Grécia,
na Itália e na Iugoslávia. Por essa razão, decidimos
em Yalta que, mesmo que as circunstâncias tornassem impossível
aos chefes de Estado dos três governos reunirem-se mais a miúdo
no futuro, faríamos tudo ao nosso alcance para que houvesse
contatos pessoais mais frequentes para a troca de pontos de vista.
De acôrdo com essa divisão, ficou determinada a reunião
periódica dos ministros do Exterior da Inglaterra, Rússia
e Estados Unidos em intervalos de 3 ou 4 meses. Estou certo de que,
com essa nova medida, não se repetirão os incidentes
que êste inverno perturbaram os amigos da colaboração
mundial.
Quando nos reunimos em Yalta, além de lançarmos os fundamentos
dos nossos planos estratégicos e táticos para a vitória
militar completa e final sôbre a Alemanha, estudamos também
numerosos problemas de consequências políticas de primordial
importância. Em primeiro lugar, havia os problemas da ocupação
e contrôle da Alemanha, após a vitória, a destruição
completa de seu poder militar e a garantia de que nem o nazismo nem
o militarismo prussiano poderiam renascer e tornar a ameaçar
a civilização mundial.
Em segundo lugar, havia o apaziguamento de pequenas divergências
que ainda permaneciam entre nós, no que concerne à organização
da segurança internacional, após a Conferência
de Dumbarton Oaks.
Em terceiro lugar, havia alguns problemas políticos e econômicos
comuns a tôdas as regiões que haviam sido ou seriam libertadas
dos nazistas.
Em quarto lugar, havia os problemas especiais criados pela Polônia
e Iugoslávia."
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Nunca
as potência aliadas estiveram tão intimamente unidas |
"Vários dias foram dispendidos nas discussões dêsses
momentosos assuntos, e, de nossa parte, argumentamos livre e francamente
à mesa da conferência. Ao final das discussões,
surgiu um acôrdo unânime sôbre todos os pontos.
E mesmo mais importante do que um acôrdo de palavras, posso
dizer que alcançamos a unidade de pensamento e a maneira de
prosseguirmos de mãos dadas. Era esperança de Hitler
que não chegássemos a um acôrdo, que uma ligeira
fenda surgisse na sólida muralha da unidade aliada, fenda que
lhe daria e aos seus "gangsters" uma última esperança
de escapar ao seu destino justo. Êsse foi o objetivo que a máquina
de propaganda alemã visou alcançar nestes últimos
meses. Mas Hitler fracassou. Jamais, em ocasião alguma, as
grandes potências aliadas estiveram tão intimamente unidas,
não só nos seus objetivos de guerra, como também
nos seus objetivos de paz. E elas estão determinadas a continuar
unidas e com tôdas as nações amantes da paz, para
que o ideal de uma paz mundial duradoura se transforme numa realidade.
Os chefes de Estado Maior da Rússia, da Inglaterra e dos Estados
Unidos realizaram reuniões diárias uns com os outros
e conferenciaram frequentemente com o marechal Stalin, com o primeiro
ministro inglês, sr. Winston Churchill, e comigo, sôbre
o problema da coordenação dos esforços estratégicos
e táticos de todas as fôrças aliadas. Nessa tarefa,
completaram seus planos para o aniquilamento final da Alemanha.
Por ocasião da Conferência de Teerã, a frente
russa estava tão afastada das frentes britânica e americana
que, embora certa cooperação estratégica de longo
alcance fôsse possível, não era permitido às
nações aliadas realizar uma coordenação
diária tática. Mas as tropas russas cruzaram agora a
Polônia e estão combatendo no solo oriental da Alemanha;
as tropas britânicas e americanas encontram-se agora em solo
alemão, junto ao Reno, na frente ocidental. Hoje, a situação
é diferente. Uma ligação tática mais íntima
tornou-se possível e, na Conferência da Criméia,
esta ligação foi realizada.
Foram tomadas as providências para um intercâmbio diário
de informações entre os exércitos sob o comando
do general Eisenhower e o dos marechais soviéticos, na frente
oriental, e ainda entre os exércitos aliados na Itália,
sem que essas informações precisem obrigatoriamente
passar pelos chefes de Estado Maior em Washington e Londres, como
no passado.
Já foi possível ver-se um resultado dêsse intercâmbio
de informações no recente bombardeio por aviões
americanos e inglêses de pontos que estão diretamente
relacionados com o avanço russo sôbre Berlim. De agora
por diante, os bombardeadores pesados americanos e britânicos
serão utilizados no apoio diário de nossas próprias
fôrças na frente ocidental. Atualmente, êsses aparelhos
estão empenhados no bombardeio e metralhamento de objetivos
estratégicos, visando prejudicar ou mesmo impedir o movimento
das reservas de materiais alemãs destinadas às frentes
oriental e ocidental e procedentes de outras partes da Alemanha e
da Itália.
Foram também tomadas as providências para uma distribuição
mais eficaz de todo o material disponível e para o transporte
aos locais onde êsses materiais possam ser melhor utilizados,
num esfôrço de guerra combinado americano, britânico
e russo.
Os pormenores de todos êsses planos e arranjos são segredos
militares, mas êles apressarão o dia do colapso final
da Alemanha.
Os nazistas já estão sentindo mais de perto os seus
sofrimentos. Amanhã, essa proximidade aumentará ainda
mais, e o mesmo acontecerá no dia seguinte, e todos os dias
não haverá tréguas para os alemães. Não
desistiremos um momento sequer da nossa tarefa, até que se
consiga a rendição incondicional. O povo e os soldados
alemães deverão compreender que, quanto mais cedo desistirem
e se renderem aos grupos ou individualmente, tanto mais cedo sua presente
agonia cessará."
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A
rendição incondicional não significará
a escravização da Alemanha |
"Os alemães devem compreender que, só através
de uma rendição completa, poderão se restabelecer
novamente como povo, que poderia ser aceito como um vizinho decente.
Esclarecemos novamente em Yalta, e aqui repito de novo, que a rendição
incondicional não significa a destruição ou a
escravização do povo germânico. Os líderes
nazistas sustiveram deliberadamente essa parte da declaração
de Yalta, não a distribuindo à imprensa e ao rádio
alemão. Procuram êles convencer o povo da Alemanha de
que a declaração de Yalta significa escravidão
e destruição para todos os alemães, pois essa
é a forma pela qual os nazistas esperam salvar sua própria
pele e ludibriar seu próprio povo, para que êle continue
uma resistência inútil. Entretanto, esclarecemos devidamente,
nessa conferência, o que realmente significa para a Alemanha
a rendição incondicional. Significa o domínio
temporário da Alemanha pela Inglaterra, Rússia, França
e Estados Unidos. Cada uma dessas nações ocupará
e dominará uma zona separada da Alemanha, e a administração
das 4 zonas será coordenada em Berlim pelo Conselho de Contrôle,
composto pelos representantes das 4 nações.
A rendição incondicional também significa o fim
do nazismo e do Partido Nazista e de tôdas as suas leis e instituições
bárbaras. Significa o fim de tôda a influência
militar na vida pública, privada e cultural da Alemanha. Significa,
para os criminosos de guerra nazistas, uma punição rápida,
justa e severa. Significa o completo desarmamento da Alemanha, a destruição
do seu militarismo, do seu equipamento militar e da sua produção
de armamentos, a dispersão de tôdas as suas fôrças
armadas e o desmembramento permanente do Estado Maior alemão,
que por tantas vêzes abalou a paz do mundo. Significa que a
Alemanha terá de fazer reparações em espécie
dos danos que causou às vítimas inocentes de sua agressão.
Obrigando a Alemanha a reparações em espécie,
em fábricas, em máquinas, em material rodante e em matérias-primas,
evitaremos o êrro feito após a última guerra,
ao exigirmos reparações em forma de dinheiro, que a
Alemanha jamais poderia pagar. Não queremos que o povo alemão
pereça a míngua ou se torne um pesado fardo para o resto
do mundo. Os nossos objetivos no contrôle da Alemanha são
simples e visam assegurar a paz do mundo do futuro. Grandes experiências
nos demonstraram que êsse objetivo será impossível
de atingir se a Alemanha retiver a capacidade de fazer guerras de
agressão. De outro lado, êsse mesmo objetivo não
prejudicará o povo alemão. Muito pelo contrário,
protegê-lo-á contra a repetição de fatos
que o Estado Maior e o "kaiserismo" lhe impuseram antigamente
e que o "hitlerismo" impôs agora, com cem vêzes
mais fôrça. Nossa tarefa consistirá em remover
o câncer do povo alemão, que durante gerações
produziu apenas a miséria e o sofrimento para todo o mundo.
Durante minha permanência em Yalta, vi exemplos da fúria,
da implacabilidade e da destruição que resultam do militarismo
alemão.
Yalta não tinha significação militar de espécie
alguma e não tinha defesas. Antes da primeira guerra do século
XX, foi a estância balneária dos czares e da aristocracia
da Rússia. Depois disso e até a invasão da União
Soviética pelos alemães, os palácios e "vilas"
de Yalta foram utilizados como centros de recreação
do povo russo. Os oficiais nazistas apoderaram-se dêles para
seu próprio uso e, quando o exército russo expulsou
os nazistas da Criméia, os palácios e "vilas"
de Yalta foram saqueados pelos nazistas e depois foram destruídos,
não sendo nem a mais modesta das casas poupada pelos alemães.
Nada mais restou em Yalta senão ruína e desolação.
Sebastopol também foi teatro de destruição. Somente
12 edifícios ficaram intatos em tôda a cidade. Além
disso, li o que sucedeu com Varsóvia, Lídice, Roterdam
e Coventry. Além disso, vi Sebastopol e Yalta e agora sei que
não há espaço bastante nesta terra para o militarismo
alemão e para a decência cristã."
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A
organização internacional da paz |
"De igual importância às providências militares
tomadas na Conferência da Criméia, são os acordos
alcançados quanto à organização internacional
geral para o estabelecimento de uma paz duradoura. Os fundamentos
desta foram lançados em Dumbarton Oaks. Houve, porém,
em Dumbarton Oaks, um ponto em tôrno do qual não foi
alcançado o almejado acôrdo. Êsse ponto abrange
o processo de votação no Conselho de Segurança.
Na Conferência da Criméia, os americanos fizeram uma
proposta sôbre êsse assunto, proposta que, depois de discussões
amplas, foi unânimemente aprovada pelas outras duas nações.
Ainda não me é possível anunciar os têrmos
daquele acôrdo publicamente, mas isso acontecerá dentro
em breve. Quando forem conhecidas as conclusões tomadas na
Conferência da Criméia no que diz respeito à votação
no Conselho de Segurança, acredito que julgareis razoável
a solução dêsse complicado e difícil problema.
Ela é fundada na justiça e assegurará a cooperação
internacional na manutenção da paz.
Uma conferência de tôdas as nações unidas
do mundo reunir-se-á em São Francisco, no dia 25 de
abril, e lá tôdas as nações esperam confiantemente
executar uma carta definida da organização, sob a qual
a paz do mundo será preservada e as fôrças da
agressão, consideradas permanentemente fora da lei.
Desta vez, não faremos o êrro de esperar até o
fim da guerra para estabelecer a máquina da paz. Desta vez,
à medida que combatemos juntos para por têrmo à
guerra o mais ràpidamente possível, trabalhamos juntos
para evitar que a guerra se repita novamente. Tenho pleno conhecimento
do fato constitucional, como tôdas as nações unidas,
de que esta carta deverá ser aprovada por dois têrços
do Senado dos Estados Unidos, assim como também outras providências
tomadas em Yalta. O Senado dos Estados Unidos, através dos
seus representantes apropriados, foi mantido constantemente informado
do programa dêste govêrno na criação de
uma organização de segurança internacional. O
Senado e a Câmara dos Representantes estarão ambos representados
na Conferência de São Francisco. Delegados congressistas
à Conferência de São Francisco serão em
igual número republicanos e democratas. A delegação
americana àquela conferência será, no sentido
completo da palavra, sem partido.
A paz mundial não é uma questão de partido e
muito menos uma vitória militar. Quando a nossa república
foi pela primeira vez ameaçada pela ambição nazista
de conquista mundial, em 1940, e depois pela traição
japonêsa, em 1941, o partidarismo e a política foram
postos de lado por quase todos os cidadãos americanos e todos
os recursos foram aplicados na tarefa que deveria preservar a segurança
comum. É de se esperar, portanto, a mesma consagração
à causa da paz, por todos os patriotas americanos e por todos
os entes humanos do mundo. A estrutura da paz mundial não pode
ser trabalho de um homem, de um partido ou de uma nação.
Ela não pode ser uma paz americana, ou uma paz britânica,
russa, francesa ou chinesa. Ela não pode ser a paz das grandes
nações, ou das pequenas nações. Precisa
ser a paz que repouse no esfôrço cooperativo de todo
o mundo. Ela não poderá ser uma estrutura de perfeição
completa a princípio, mas poderá ser paz e será
paz verdadeira, baseada nos princípios sólidos e justos
da Carta do Atlântico, na concepção da dignidade
humana e nas garantias de tolerância e liberdade de religião
e culto.
À medida que os exércitos aliados marcharam na direção
da vitória militar, livraram povos cujas liberdades haviam
sido esmagadas pelos nazistas durante quatro anos e cuja economia
foi levada à ruína pelos nazistas. Houve exemplos de
confusão política e de intranquilidade nessas regiões
libertadas, como na Grécia, na Polônia, na Iugoslávia
e em outras regiões. Pior ainda, nessas regiões começou
a crescer, de forma vagamente definida, a idéia de "esferas
de influência", incompatível com os princípios
básicos da colaboração internacional. Se tivéssemos
permitido que o seu desenvolvimento prosseguisse, essa idéia
poderia ter tido trágicos resultados. É inútil
tentar lançar a culpa dessa situação a esta ou
àquela nação em particular, pois que se trata
de uma espécie de acontecimento que é quase inevitável,
a não ser que as três maiores potências do mundo
continuem a trabalhar ininterruptamente juntas e a assumir uma conjunta
responsabilidade para a solução dos problemas que possam
surgir e pôr em perigo a paz mundial."
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O
auxílio das grandes potências aos países libertados |
"Reunimo-nos na Criméia determinados a resolver o problema
das regiões libertadas. Sinto-me orgulhoso ao confirmar ao
Congresso que conseguimos um acôrdo, um acôrdo unânime.
As três nações mais poderosas do mundo concordaram
que os problemas políticos e econômicos das regiões
libertadas do jugo nazista, ou de qualquer nação satélite
do "eixo", constituem responsabilidade conjunta dos três
governos. Estas agirão em conjunto durante o período
temporário de instabilidade, após as hostilidades para
auxiliar o povo das regiões libertadas, ou de qualquer antigo
Estado satélite, a resolver seus próprios problemas,
através de processos democráticos solidamente estabelecidos.
Os três governos esforçar-se-ão por ver que as
autoridades dos governos provisórios, nessas regiões,
sejam tão representativas quanto possível de todos os
elementos democráticos da população e que as
eleições livres se realizem o mais ràpidamente
possível.
A responsabilidade pelas condições políticas
predominantes a milhares de quilômetros de distância já
não pode mais ser evitada por esta grande nação.
Como já disse, o mundo é bem pequeno. Os Estados Unidos
exercem agora vasta influência em favor da causa da paz em todo
o mundo e continuarão a exercer essa influência só
se fôr da sua vontade continuar a compartilhar da responsabilidade
pela manutenção dessa mesma paz. Seria para nós
uma trágica perda, se agora fugíssemos a essa responsabilidade.
As decisões finais concernentes aos diferentes teatros da guerra
serão tomadas em conjunto, e por essa razão serão
muitas vêzes o resultado de compromissos que têm duplo
caráter: o da concessão de favores e o do recebimento
de outros. Os Estados Unidos não terão sempre, em tudo,
cem por cento a seu favor, nem a Rússia nem a Grã-Bretanha.
Não teremos sempre soluções ideais para os complexos
problemas internacionais, muito embora estejamos continuamente determinados
a avançar na direção de nossa meta. Mas estou
certo de que, sob os acordos alcançados em Yalta, surgirá
uma Europa política mais estável do que nunca. Como
é natural, uma vez que haja expressão livre da vontade
dos povos, em quaísquer países, a nossa responsabilidade
imediata cessará, com exceção única de
uma ação que possa vir a ser objeto de acôrdo
na organização da segurança internacional.
As nações unidas também em breve precisarão
começar a prestar o seu auxílio às regiões
libertadas, para que estas possam reconstruir de forma adequada a
sua economia e, de seu lado, também possam reassumir o lugar
que lhes cabe no mundo. A máquina de guerra nazista privou-as
das matérias-primas, das máquinas, dos caminhões,
dos vagões e das locomotivas. Deixou suas indústrias
paralisadas e grande parte de sua agricultura inteiramente desmantelada.
Se conseguirmos que as rodas e as engrenagens da vida normal de um
país possam começar a girar de novo, não estaremos
apenas prestando um socorro; será em benefício do interêsse
nacional de todos nós que essas regiões libertadas tenham
restaurada sua capacidade de se apoiarem a si próprias, dispensando
um socorro contínuo da nossa parte."
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A
Polônia ressurgirá livre, independente e próspera |
"Um dos exemplos notáveis da ação conjunta
das três maiores nações aliadas nas regiões
libertadas é a solução do problema da Polônia.
Tôda a questão polonesa era uma fonte potencial de conflito
na Europa de após-guerra, mas fomos à Conferência
da Criméia determinados a achar um denominador comum para sua
solução. E o achamos. Nosso objetivo consistia em prestar
nossa colaboração, para criar uma nação
forte, independente e próspera, com um govêrno que será,
em última análise, escolhido pelo próprio povo
polonês. Ainda mais. Para alcançar êsse objetivo,
era necessário determinar a formação do novo
govêrno polonês, de caráter muito mais representativo
do que era possível, enquanto a Polônia estivesse escravizada.
Consequentemente, foram tomadas as providências necessárias
em Yalta, para reorganizar o govêrno provisório existente
na Polônia em mais amplas bases democráticas, de forma
a incluir os líderes democráticos atualmente em território
polonês e os outros ainda no exterior. Êste novo govêrno
polonês, reorganizado, será reconhecido por todos nós
como govêrno temporário da Polônia. Contudo, o
novo govêrno provisório polonês de União
Nacional terá de assumir o compromisso de fazer realizar eleições
livres, logo que seja possível, na base do voto secreto e do
sufrágio universal.
Durante a história da Humanidade, a Polônia foi o corredor
através do qual foram desencadeados os ataques à Rússia.
Por duas vêzes a Alemanha atacou a Rússia através
dêsse corredor. Para garantir a segurança européia
e a paz mundial, torna-se necessária uma Polônia forte
e independente. A decisão tomada quanto às fronteiras
da Polônia inclui um compromisso sob o qual os poloneses receberão
uma compensação territorial no norte e a oeste, em troca
do que perderam em resultado do estabelecimento da linha Curzon. As
fronteiras ocidentais polonesas serão permanentemente fixadas
na Conferência da Paz. Concordou-se que uma longa linha litorânea
seria incluída. É bem conhecido o fato de que as populações
a leste da linha Curzon são predominantemente compostas de
russos brancos e ucranianos e que as populações a leste
da linha Curzon são predominantemente polonesas. Convém
lembrar que, em 1919, os representantes das nações aliadas
concordaram em que a linha Curzon era, na realidade, a fronteira razoável
entre essas populações.
Estou convencido de que o acôrdo sôbre a Polônia,
sob as circunstâncias atuais, é o mais esperançoso
possível, para que se possa criar um Estado polonês livre,
independente e próspero.
Além disso, a Conferência da Criméia foi a reunião
das três maiores potências militares, sôbre cujos
ombros repousam a principal responsabilidade e o maior fardo da guerra.
Embora por esta mesma razão a França não houvesse
participado da conferência, ninguém deve presumir que
se não tenha reconhecido naqueles trabalhos o papel da França
no futuro da Europa e do mundo. A França foi convidada a aceitar
uma zona de domínio na Alemanha e a participar como membro
número quatro do Conselho de Contrôle Aliado, da Alemanha.
Ela foi convidada para participar como potência promotora da
Conferência Internacional de São Francisco. Ela será
membro permanente do Conselho de Segurança Internacional, com
mais quatro outras potências. E finalmente convidamos a França
para que se associe a nós nas responsabilidades conjuntas sôbre
as regiões libertadas da Europa.
Também chegamos a um acôrdo quanto a Iugoslávia,
tal como já foi anunciado em nosso comunicado, acôrdo
êsse que já está em processo de execução."
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A
guerra do Pacífico será longa e custosa |
"Como é perfeitamente natural, a Conferência da
Criméia versou unicamente sôbre a guerra da Europa e
sôbre os problemas políticos europeus, e nada teve a
ver com a guerra do Pacífico.
Em Malta, porém, os Estados Maiores combinados, britânico
e americano, elaboraram seus planos para incrementar os ataques ao
Japão. Os senhores da guerra japonêses sabem perfeitamente
que não foram esquecidos. Êles já sentiram a fôrça
dos nossos aparelhos "B-29" e dos nossos aviões com
base em porta-aviões. Já sentiram o poder naval dos
Estados Unidos. E não parecem muito ansiosos em sair de suas
tocas para experimentá-lo de novo. Os japonêses sabem
o que significa ouvir a frase "Fuzileiros navais norte-americanos
desembarcaram" e podemos acrescentar, tendo Iwo Jima em mente,
que a situação está em nossas mãos.
Também os japonêses sabem o que está reservado
para o território metropolitano do Japão, agora que
o general Mac Arthur completou sua marcha magnífica de volta
a Manila e que o almirante Chester Nimitz está estabelecendo
suas bases aéreas na porta dos fundos do próprio Japão,
em Iwo Jima. Entretanto, ainda precisamos percorrer árdua estrada
para chegar a Tokio. A derrota da Alemanha não significará
o fim da guerra contra o Japão. Muito pelo contrário,
a América precisará estar preparada para uma luta, longa
e custosa, no Pacífico. Mas a rendição incondicional
do Japão é tão essencial quanto a derrota da
Alemanha, se quisermos que os nossos planos de paz do mundo logrem
êxito. O militarismo japonês precisa ser extirpado, tão
completamente quanto o militarismo germânico.
De regresso à pátria, vindo da Criméia, avistei-me
pessoalmente com o rei Farouk, do Egito, com o imperador Hailé
Seilassié e com o rei Hen Saud, da Arábia Saudita. Nossas
conversações tinham de versar em tôrno de assuntos
de interêsse comum e elas serão de grande vantagem comum,
porque nos proporcionaram a oportunidade de nos encontrarmos, conversar
face a face e de trocar pontos de vista através de uma conversação
pessoal, ao invés de uma correspondência formal.
Durante minha viagem, tive a oportunidade de ver nosso exército,
nossa marinha e nossa aviação em plena operação.
Todos os cidadãos americanos sentir-se-ão orgulhosos
das nossas fôrças armadas, como eu me sinto neste momento,
se puderem ver e ouvir o que eu vi e ouvi. Contra os soldados profissionais,
marinheiros e aviadores mais eficientes do mundo, os nossos homens
resistiram, combateram e venceram. Esta é a nossa oportunidade
de fazer com que os filhos e netos dêsses heróicos combatentes
não tenham de repetir essas façanhas dentro de alguns
anos."
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Sólido
planejamento da paz futura |
"A Conferência da Criméia foi um marco na história
da América. Em breve será apresentada ao Senado dos
Estados Unidos e ao povo americano a grande decisão, que determinará
a segurança dos Estados Unidos e do mundo durante as futuras
gerações. Não poderia haver têrmo médio.
Teremos de assumir a responsabilidade de entrar numa colaboração
mundial, ou então teremos de arcar com a responsabilidade de
outro conflito mundial. Sei que o planejamento mundial não
é encarado com satisfação em algumas seções
da opinião pública americana. No entanto, nos nossos
negócios internos, trágicos erros foram cometidos pela
simples falta de planejamento, enquanto, de outro lado, grandes melhoramentos
foram introduzidos na vida humana e grandes benefícios surgiram
para a humanidade, em resultado de um planejamento inteligente e adequado
como sejam a restauração das regiões desertas,
o desenvolvimento de vales fluviais inteiros e a construção
de habitações adequadas. O mesmo será verdade
no tocante às nações.
Pela segunda vez, esta geração encontra-se face a face
com o objetivo de evitar guerras. Para atingir êsse objetivo,
as nações do mundo terão ou de elaborar planos
ou então nada conseguirão. Mas, agora, um terreno sólido
para êsse planejamento foi conseguido e submetido à humanidade,
para as devidas discussões e para que seja tomada a decisão
final.
Entretanto, nenhum plano é perfeito. Qualquer plano que venha
a ser adotado na Conferência de São Francisco terá
de ser objeto de profundas meditações durante anos,
tal como sucedeu com a nossa própria constituição.
Ninguém poderá dizer exatamente quanto tempo qualquer
plano durará.
A paz só pode realmente perdurar enquanto a humanidade nela
de fato insistir, e enquanto a humanidade se dispuser a trabalhar
e a se sacrificar por ela.
Há vinte e cinco anos, os combatentes americanos voltaram-se
para os estadistas do mundo, como que numa muda prece, para que êles
terminassem o trabalho da elaboração da paz, pela qual
haviam lutado e sofrido. Mas, naquela época, fracassamos perante
aquêles homens. Entretanto isso não poderá suceder
agora, se quisermos que o mundo sobreviva.
A Conferência da Criméia foi um esfôrço
das três nações líderes do mundo, realizado
com êxito, para encontrar o terreno comum em que a paz possa
repousar. Significa o fim de um sistema de ação unilateral
de alianças exclusivas, de esferas de influências, de
equilíbrio de poderes e, ainda, de todos os outros expedientes
que foram tentados durante séculos, mas que malograram.
Propomo-nos, agora, a substituir tudo isso por uma organização
universal, na qual tôdas as nações amantes da
paz terão, por fim, o direito de ingressar.
Estou confiante em que o Congresso e o povo dos Estados Unidos aceitarão
os resultados daquela conferência, como constituindo os primórdios
de uma permanente estrutura de Paz, sôbre a qual poderemos começar
a construir, com a mercê de Deus, aquêle mundo melhor,
no qual deverão viver nossos filhos e netos, vossos e meus,
e, na verdade, os de todo o mundo".
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