NIXON MANDA SOLTAR O TENENTE CALLEY
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Publicado
na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 2 de abril de 1971
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Neste texto foi mantida a grafia original
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O presidente Richard Nixon ordenou ontem a imediata libertação
do tenente do Exercito William Calley, que 24 horas antes fôra
condenado à prisão perpetua pela Corte Marcial instalada
em Fort Benning, na Georgia, acusado de assassinado de 22 aldeões
sul-vietnamitas na localidade de My Lai, em março de 1968.
O secretario de Imprensa da Casa Branca, Ronald Ziegler, convocou
os jornalistas em San Clemente, California, onde se encontra o presidente
para passar o fim de semana e deu a surpreendente noticia. Ziegler
disse que Calley ficará em liberdade até que seja feita
uma revisão a fundo do veredicto de culpa.
"Não se trata de uma medida legal - declarou Ziegler -
foi tomada por decisão do presidente".
Interrogado se Nixon interferira na qualidade de comandante-em-chefe
das Forças Armadas dos Estados Unidos, Ziegler declarou que
Nixon agira como presidente.
"O tenente Calley viverá agora da mesma forma como viveu
durante a Corte Marcial. Gozará de liberdade no acampamento
de Fort Benning, mas sua liberdade será vigiada".
Revelou ainda que Nixon transmitiu a ordem de libertação
diretamente ao chefe do Estado-Maior Conjunto, almirantes Thomas Moorer
que a passou imediatamente ao general Albert O'Connor, comandante
do III Exercito em Fort Benning. Ato contínuo, o tenente Calley
foi retirado da prisão do acampamento militar e reconduzido
ao seu antigo alojamento.
O porta-voz da Casa Branca concluiu afirmando que Nixon levou em consideração
os milhares de telegramas e telefonemas "favoraveis numa proporção
de cem para um para que se concedesse clemencia ao tenente Calley".
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As
reações |
Democratas, republicanos, liberais, extremistas, hippies, apoliticos
e cidadãos comuns condenaram, em sua maioria, a sentença
pronunciada contra o oficial de 27 anos. Os editoriais da imprensa
e as declarações de congressistas afirmavam unanimemente
que Calley foi uma especie de "vitima solitaria" da guerra
do Vietnã, e que os responsaveis deveriam ser procurados nos
escalões mais altos de todos os setores do governo.
Até mesmo o senador William Fulbright, presidente da poderosa
Comissão de Relações Exteriores do Senado, manifestou-se
contra a sentença afirmando que ela fazia lembrar os julgamentos
contra os generais alemães e japoneses após o termino
da II Guerra Mundial. Tambem o senador Edward Kennedy criticou o veredicto.
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