VIETNÃ: CHEGA A HORA DA DECISÃO

Publicado na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 1º de maio de 1972

Saigon - As forças sul-vietnamitas lutavam desesperadamente ontem para conter violentos ataques desfechados pelos comunistas em todas as frentes da guerra na vespera de um 1º de maio que se antecipava critico para o Vietnã do Sul.
Na capital sul-vietnamita, a 35 quilometros da qual são avistados importantes contingentes blindados comunistas, comentava-se ontem que a ofensiva inimiga atingirá seu ponto fulminante esta semana, para forçar negociações definitivas sobre o fim da guerra.

Como está a guerra

Os comunistas mantinham a iniciativa, ontem, em todas as frentes da guerra.
Esta era a situação no Vietnã do Sul:
Frente Norte - A cidade de Quang Tri foi totalmente ocupada pelos comunistas e continua sob pesado bombardeio de aviões sul-vietnamitas e norte-americanos; em Hué, antiga capital imperial, a população se retira ante a perspectiva de que a qualquer momento a cidade caia em poder do inimigo.
Frente Central - Kontum está totalmente cercada; até a noite de ontem, os soldados sul-vietnamitas resistiam desesperadamente, mas sua queda é considerada iminente.
Frente-Sul - Pela primeira vez na atual ofensiva, as superfortalezas voadoras B-52 bombardearam posição inimiga a 5 quilometros de Saigon. Mais ao sul, comunistas cambojanos e norte-vietnamitas tomaram ontem a cidade de Kompong Trach, abrindo caminho para uma penetração em territorio sul-vietnamita pelo delta do rio Mekong.

Frente Saigon: brecha a 65 km

Saigon - Um 1º de maio de vitoria norte-vietnamita e sangrenta derrota sul-vietnamita, era previsto ontem pelos observadores situados tanto em Quang Tri, Hué, Da Nang, Kontum e Plaiku, como também em Saigon, a 35 km de onde foram avistadas importantes formações inimigas de blindados.
As forças comunistas mantinham ontem, no 33º dia de sua ofensiva e na vespera do Dia do Trabalho, a iniciativa em todas as frentes no norte, no Planalto Central e na região de Saigon, podendo atacar numa só ou nas três frentes de combate ao mesmo tempo.
A radio da Frente de Libertação Nacional Vietcong lançou ontem uma palavra de ordem aos operarios de Saigon: sublevar-se hoje, Dia do Trabalho. No entanto, reinava ontem inteira calma na capital sul-vietnamita e nada indicava que os trabalhadores locais se pretendessem lançar à luta.
Mesmo assim, os comunistas conseguiram criar panico e todos os observadores anunciaram algo "muito duro" para as proximas 24 horas.
Outros indicios inquietantes surgiram, por outro lado, perto da aglomeração Saigon-Cholon-Gladinh. Uma extensa caravana de veiculos norte-vietnamitas, escoltados por carros blindados, acabava de penetrar na provincia de Tay Ninh, vindos do Camboja, e se encontravam ontem à tarde a 50 km a oeste de Saigon.
Pela primeira vez, desde o inicio da atual ofensiva, os B-52 norte-americanos bombardearam formações blindadas inimigas a 5 km de Saigon. Desde a ofensiva do Tet, em 1968, não havia bombardeios aereos tão perto da capital.

Brecha

As forças vietcongos e norte-americanas abriram uma nova e importante brecha nas linhas de defesa de Saigon, aproximadamente a 65 km da capital.
Segundo um comunicado do comando de Saigon, os comunistas ganharam terreno na região limitrofe com o Camboja, denominada "Bico de Pato".
As forças comunistas circulam agora livremente pela Rodovia Numero Um, no trecho que vai de Saigon a Phnom Penh, capital do Camboja.
Perto de Chon Thanh, a aproximadamente 10 km de Saigon, as forças governamentais lutavam furiosamente contra os atacantes comunistas.
Acrescentou o porta-voz que, nos ultimos dias, os sul-vietnamitas travaram combate com forças inimigas numa localidade do sul da Estrada Numero Um, a apenas 6 km de Saigon.
Na sexta-feira, um comboio de caminhões comunistas escoltados por um tanque, foi localizado pelos aviões "aliados", que destruiram cinco veiculos.

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