A MAQUILAGEM ATRAVÉS DOS TEMPOS

Nada de novo sob o sol... - Do Renascimento aos nossos dias

Publicado na Folha da Manhã, domingo, 30 de março de 1947

Neste texto foi mantida a grafia original

Dizem que a mulher durante a infancia e adolescencia é como Deus a fez, mas depois dos quinze anos é como o deseja ser. Realmente, em todas as epocas os meios artificiais modificaram o rosto da mulher, conforme o seu capricho. Os seus segredos de toucador sempre foram uma varinha de condão.
A pintura vermelha, que aviva o colorido das faces e dos labios sempre se usou; acentuar com vermelho a mocidade do rosto é mais elementar que qualquer outro retoque. O vermelho é a côr predileta de todas as raças, é a côr do sangue, o tom que mais impressiona a retina.
O conceito da beleza, entretanto, varia com facilidade assombrosa; não é estranho, pois, que de uma raça a outra de uma a outra epoca seja a beleza completamente diferente. A maquilagem sempre fez o milagre de converter a mulher na "mulher do tipo da moda".
Nada de novo se usa hoje para o retoque feminino que não esteja já registrado na Historia. Mesmo a depilação das sobrancelhas era usada exageradamente pelas damas do Renascimento italiano.
O seculo XVIII foi o mais submetido às tiranias da maquilagem. A mulher de então empregava a seguinte maquilagem: depois de branquear o rosto, desenhava as sobrancelhas de preto, pintava as veias de azul. As grandes damas abusavam da "pintura". E é por isso que as damas retratadas pelos pintores da epoca nos parecem hoje verdadeiras bonecas de porcelana.
A mulher do seculo XVIII era escrava de sua beleza e da sua juventude. Madame Du Barry fez loucuras para obter de Cagiliostro o segredo de uma pomada que devia conservar eternamente a juventude.
Na epoca do Diretorio as mulheres procuravam renovar ainda mais as suntuosidades romanas: muitas se banhavam com leite, framboesa, etc.
As mulheres do Romantismo foram as unicas que renunciaram ao vermelho das faces: a côr sã que demonstra uma perfeita saude não restava de acordo com o momento espiritual em que viviam. O romantismo tornou as faces palidas e sem côr os labios, escurecendo os olhos com sombras de seus amores tristes e infelizes.
A reação não tardou a chegar e a mulher da segunda metade do seculo passado fez voltar a côr às faces e o vermelho aos labios.
Em 1960, a mulher teve o tipo de beleza exuberante, que desapareceu na primeira grande guerra. Apareceu depois o tipo contrario: a silhueta caracteristica de formas femininas: o rosto se ajusta à silhueta.
Hoje, temos a beleza despreocupada: a cutis branca da mulher antiga já não se admite. Triunfa o aspecto natural, é esse o prototipo da beleza. Por imposição da vida, não se pode mais ser uma figurinha de fragil porcelana, unicamente bela.



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