AUDREY HEPBURN
A jovem "alta, muito ossuda, de pés excessivamente grandes
para se tornar uma star" fez desses "defeitos" o
ponto de seu estilo
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Publicado
na Folha de S.Paulo,
segunda-feira, 26 de abril de 1976
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Neste
texto foi mantida a grafia original
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Mais manequim que estrela, mais princesa que atriz, Audrey afastou-se
por um bom tempo das badalações hollywoodianas para
ser única e tão somente esposa, dona de casa e mãe.
De volta às telas em "Robin e Marian", ela ainda
lembra a doce e tranquila garota de "A Princesa e o Plebeu",
seu maior sucesso.
Após muitos anos afastada das badalações e de
Hollywood, casada desde 1969 com o psiquiatra italiano Andrea Dotti,
Aydrey Hepburn repentinamente voltou ao noticiário cinematográfico
internacional. Foi vista em Los Angeles na entrega do Oscar e participou
da festa relembrando os velhos tempos de Hollywood. Esteve em Nova
York para a estréia de "Robin e Marian", seu filme
de retorno após 8 anos afastada das câmaras e encontrou
sua amiga Elizabeth Taylor na platéia de um teatro novaiorquino.
Por coincidência, ambas decidiram na mesma noite, assistir a
mesma peça na Brodway. Como está hoje Audrey Hepburn
em seu glorioso retorno?
Quando sorri, ela lembra ainda aquela doce garota tranquila de "A
princesa e o plebeu", que fez todo mundo comentar: "É
muito alta, muito ossuda e tem pés grandes demais para se tornar
uma "star".
Desde aquela data já se passaram 20 anos, houve dois casamentos,
dois filhos nasceram e foi candidata ao "Oscar" pelo menos
por cinco vezes. Mas para Audrey Hepburn o tempo parece parado, conservando-lhe
quase intacta a pureza, a espontaneidade e o sorriso. Logo a estaremos
vendo na tela, após oito anos de ausência, no papel de
Lady Marian, a mulher de Robin Hood, o legendário arqueiro
da Floresta de Sherwood.
"Robin e Marian", dirigido pelo inglês Richard Lester,
não é a história tradicional do herói
que todo mundo conhece, seja de revistas ou de filmes anteriores.
O filme começa com o retorno de Robin das Cruzadas, dezoito
anos depois da data em que todos os filmes já feitos ou histórias
escritas terminaram. "Eu não quis aceitar o papel de uma
mulher de 46 anos, que é a minha idade", declarou Andrey
recentemente em uma entrevista.
"No entanto é uma história poética e a minha
participação é muito bonita. Quanto ao que seja
ou não real, não sei. O que sei foi baseado em documentos
sobre um célebre renegado, um certo Robin Hood, que roubava
dos ricos para dar aos pobres. Assim como existe uma balada que fala
de sua amada Marian, que tornou-se abadessa de um convento. Mas, segundo
minha opinião, o fato mais interessante é que se trata
da história de um grande amor que durou a vida toda."
Audrey sorri quando lhe perguntam o que sente ao retornar ao cinema.
"Não gosto de falar de "retorno", pois na realidade
eu jamais abandonei o cinema e não tenho nenhuma intenção
de abandoná-lo. Só estive ocupada com outras coisas.
Nestes oito anos, para mim, o que mais importava era minha casa, meu
marido e meus filhos. Sempre desejei fazer outro filme, mas não
havia tido nem tempo e nem ocasião para isso."
Em "Robin e Marian", ao lado de "Sabrina" está
Sean Connery nas vestes do protagonista, um Robin Hood cinquentão.
Além dele, Robert Shaw (de "Tubarão") Richard
Harris e Nicol Williamson. Na direção, Richard Lester
permitiu a todos, como sempre, serem espontâneos e dar sugestões,
a ponto de rodar cenas novamente a pedido dos atores. E para Audrey
Hepburn, acostumada em Hollywood do "passado", o inicio
desta experiência foi um choque. "No fim acaba sendo sempre
produto do diretor", disse ela.
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Porte
de princesa |
Audrey
Hepburn nasceu em Bruxelas, Bélgica, em 1929. A mãe
era van Heemstra (não é surpresa a origem nobre de Audrey),
que realmente tem porte de princesa de origem judia, e embora o pai
fosse inglês de origem irlandesa, a família teve problemas
sérios durante a ocupação nazista e precisou
se refugiar no underground. Um meio irmão de Audrey (que é
filha única) foi mandado para o campo de concentração.
"Ficávamos sem ter o que comer durante tantos dias que
eu emagreci até ficar anêmica", lembra ela, mas
não gosta de falar no assunto: "foi há muito tempo
e estou certa de que já passei por outros períodos mais
difíceis na minha vida. O superficial não é importante,
as experiências mais profundas é que me formaram. Basicamente,
tudo que acontece na vida é essencial, mas o que conta é
a experiência, as atitudes que sou capaz de tomar depois".
Sobre o personagem do filme, Audrey explica: "É uma heroína
que ficou em casa e envelheceu. Isto é normal, acontece com
todo mundo. Os heróis se cansam, envelhecem, cometem erros,
fracassam e um belo dia morrem. Muita gente me pergunta por que tomei
este risco de voltar ao cinema depois de tanto tempo. Eu sei que é
um risco, mas faz parte da vida, a gente tem que escolher, optar,
enfrentar, e estar preparada para sair perdendo também. Não
gosto de preparar os resultados das coisas, não sou rígida
a este ponto, mas sei o que estou arriscando, minha vida nem sempre
foi a de Sabrina, tive decepções, como todo mundo. Mas
tive menos do que se tivesse arriscado em coisas impossíveis
de ganhar.
No momento não sei dizer se vou fazer outro filme, não
tenho planos futuros. Tudo depende de ofertas que não interfiram
na minha vida particular."
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