MORRE MAE WEST, UM MITO DOS ANOS 30

Publicado na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 1980


Hollywood - Um dos mitos do cinema da década de 30, Mae West, morreu anteontem em Hollywood aos 87 anos de idade. O falecimento ocorreu três semanas depois que a atriz havia deixado o hospital de Los Angeles onde fora internada para tratar uma embolia cerebral.
A atriz, cuja voz áspera e andar excitante seduziu toda uma geração de norte-americanos, reduzira sensivelmente suas aparições em público nos últimos anos.
Apesar disso, não havia abandonado a atividade cinematográfica. Em 1978 participou do "Sexteto" e no princípio deste ano realizou vários filmes publicitários para televisão.
Muitos colegas e admiradores de Mae, considerada o "símbolo sexual" da América nos anos 30, correram à residência da atriz para prestar-lhe a última homenagem.

A carreira

Mae West que nasceu em 1892, no Brooklyn, Nova York, filha do boxeador Jack West e de mãe francesa, começou aos 5 anos a trabalhar no teatro. Estudou bailado, atuou em espetáculos de variedades e em 1918 lançou o "shimmy" tipo de dança que alcançou grande popularidade nos anos 20. Escreveu novelas como "The Constant Sinner" e numerosas comédias, como "Diamond Lil", caracterizadas pelo tom frívolo e picante. Algumas delas foram interpretadas pela própria Mae no teatro e no cinema.
Desde o começo da carreira, no "Caf'Conc", em 1917, ela já chamava atenção com sua voz quebrada, a silhueta de formas pronunciadas e a atitude provocante. Converteu-se em pouco tempo no que se chama uma estrela.
Sua consagração teatral veio em 1926, com a peça "Sex", de sua autoria. A peça narra a história de uma prostituta do porto de Nova York. Tanto o texto quanto a forma de atuar de Mae West eram de tal forma insólitos para a época, que os jornais se negaram a dar publicidade à obra.
Apesar disso, o espetáculo resistiu a 375 apresentações com a casa lotada, até que a Sociedade para a Supressão do Vício conseguiu retirar a peça de cartaz. A autora foi condenada a 8 dias de prisão, por "corromper a juventude".
Em 1928 escreveu "Diamond Lil", que mais tarde se converteria em um filme com a descoberta de Cary Grant por Mae West. Uma nova versão desse filme foi rodada na década de 50.
Anos mais tarde ele diria: "Convenci-me de que se pode dizer tudo em cena, sob a condição de utilizar um tom irônico." Sem dúvida, era necessária toda a ironia de Mae West para que os ousados diálogos de suas obras fossem tolerados em 1928.
No ano de 1932 chegou a Hollywood com um contrato da Paramount de 5.000 dólares por semana. Trabalhou sucessivamente em "Night After Night", "She Done Him Wrong" (que bateu todos os recordes de bilheteria) e em "I'm no Angel", todos eles filmes sem mensagens substanciais e de cujos roteiros participou, que destacavam seu "toque" sexy.
Durante todo esse período, o mito de Mae West, languidamente estendida em um sofá, ou envolvida por uma pele branca de raposa com um pródigo decote e uma das mãos apoiada na cadeira, invade a América.
Sua foto pulula nos quartéis, os adolescentes a escondem em seus livros, os choferes a exibem em seus caminhões. Seu nome lembra o pecado tal como ele era concebido pela puritana América da época.
O busto avantajado levou-a inclusive a "participar do esforço de guerra": A RAF (aviação inglesa) deu seu nome aos coletes salva-vidas.
Os anos 50 e a modificação da imagem da mulher viram Mae West afastar-se do cinema. Porém não do show business. Organizou então uma turnê por night-clubs, onde cantava seus êxitos de antes da guerra, cercada por jovens embevecidos muito mais por suas expressões corporais que por seu talento.
Em 1955, a atriz publicou a coletânea de suas canções: "The Fabulous Mae West". Em 1966, dois álbuns de rock com membros do famoso conjunto inglês "The Beattles".
Desde então, só apareceu em dois filmes: "Myra Breckenbridge", em 1969, e "Sextet" (Sesteto), em 1978, este último baseado em sua primeira obra, de 52 anos atrás.

Os homens

Em 1959, ela publicou seu livro de memórias: "A Bondade Nada Tem a Ver com Isso". É uma autobiografia como a de tantas outras atrizes. Mas contém uma das marcas registradas de Mae, a franqueza e a ironia. Na qual, por exemplo, diz que não foi ébria durante toda a sua vida: "Meu vício foi outro, ainda é outro - o homem."
A artista conta que, apesar de amar os homens, casou-se apenas uma vez, aos 17 anos. O casamento foi uma decepção e ela nunca mais quis saber de compromissos. Todavia, conheceu homens de todos os tipos, desde grandes milionários até políticos, agentes, atores, produtores, juízes, financistas etc.
Essas memórias mostram bem as aventuras de Mae, que dizia: "Os melhores homens são os que já passaram dos 40, muito ricos e não muito seguros de si."
Ultimamente vivia mais ou menos refugiada entre suas duas propriedades: uma na região de Los Angeles e outra, um apartamento, em Hollywood. As duas residências mobiliadas no estilo e gosto dos anos 30.
Cercada por seus dois macacos, Mae West recebia raras visitas e sempre em seu leito: "Todo mundo sabe que onde melhor trabalho é na cama."



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