A CONFECÇÃO DE ROUPAS EM SERIE PREOCUPA OS ALFAIATES ITALIANOS

"O bacilo da estandardização difunde-se gradativamente em todas as camadas sociais", declarou o sr. Manfredini, secretario-geral do Sindicato das Livres Confecções Artesanais, no decorrer do VIII Festival da Moda Masculina, realizado em Remo

Publicado na Folha da Manhã, sabado, 21 de novembro de 1959

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SÃO REMO, novembro - Os alfaiates e os oficiais de São Remo lançam seu grito de guerra contra o crescimento do comercio de confecções em serie, durante uma convenção promovida pela ARSUM (Associazione Regionale Sarti Uomo Su Misura), no VIII Festival da Moda Masculina.
"O bacilo da estandardização - disse o secretario-geral do Sindicato das Livres Confecções Artesanais, sr. Manifredini - "difunde-se gradativamente em todas as camadas sociais, criando novas situações e novos problemas economicos e tecnicos. Os italianos são ainda os ultimos entre as grandes nações do mundo a serem atingidos. Todos sabem e calculam o desenvolvimento que terá esta industrialização das roupas masculinas, mas o que se pode adiantar é que existe certa resistencia na aquisição dos ternos feitos em serie pelo consumidor forçado pela tradição ou pelo bom gosto, ou ainda pelo individualismo a preferir uma roupa feita sob medida. Segundo os mestres alfaiates seria necessario encontrar uma solução plausivel para distinguir a sua genialidade de individual e as exigencias da industrialização das roupas prontas." Dizem os interessados que procuram inserir na sua produção industrial toda a capacidade da alfaiataria italiana: estuda-se a possibilidade de adestramento especializado nas escolas profissionais.
"Os alfaiates, foi dito na convenção, constituem uma força que nobilita o país, são uma fonte de riqueza e decoro, e o serão ainda mais quanto maior for a sua capacidade de adaptação aos novos tempos. No que concerne aos alfaiates italianos é um aspecto e não o ultimo, de uma Italia que nobilitando o seu trabalho, sabe diferenciar-se e elevar-se a fim de não cair pantano".
É preciso reconhecer-se que de fato o prestígio do trabalho italiano no campo do vestuario masculino é universalmente conhecido. Efetivamente a "italian line" conquistou os cinco continentes: não existe loja de roupas para homens em Regent Street (Londres), Madison Avenue (Nova York), rue de la Paix (Paris), Mont Blanc (Genebra) e mesmo na Lenin de Moscou, que não exponha uma confecção com um cartaz ao lado: "Italian Line".
Voltando a falar no Festival da Moda Masculina, não deve passar desapercebido o episodio ocorrido com um dos "manequins", talvez o primeiro desde que surgiu esta nova profissão.
O cansaço de exibir-se e portanto de mudar toda a roupa por vinte e oito vezes seguida (desde as meias até o chapéu) forçou a um dos participantes ao desfile a recusar apresentar um "smocking" de tecido leve com talhe mais feminino que masculino. Houve certa polemica nos amplos camarins e por sorte, ainda em tempo retiraram da coleção duas outras peças um tanto exoticas e apresentadas por um alfaiate romano, e cuja linha, é claro, saia dos limites da sobria elegancia masculina.
A "linha dorica" mais exatamente denominada "Legge Sanremo" respeitada pelos alfaiates até certo ponto, apresentou no desfile confecções para manhã e tarde. A cor predominante foi o azul-marinho em todas as suas tonalidades: tambem o cinza, verde escuro e marrom.
Para o proximo ano dita a moda que os paletós sejam com dois botões, sem aberturas laterais, mais longos (dois centimetros e meio). Tudo isto foi decidido não só para fins esteticos, mas principalmente para combater a concorrencia das roupas prontas em serie - é claro que se torna dificil quando o paletó já está pronto acertá-lo perfeitamente em qualquer corpo, visto que a cintura é mais alta. As calças tendem para a linha reta, com ou sem dobras, que no ano passado eram toleradas somente nas calças de passeio, agora se vêem até nas esportivas. O sobretudo será mais curto um pouco, reto sem aderencias e por vezes sem cinto.
Quanto ao desenho dos tecidos a "linha dorica" requer um contraste de listras claro-escuras com faixas longitudinais em combinações "tonsur ton". Em homenagem ao clima de distensão, existente entre Oriente e Ocidente, um famoso alfaiate romano, "o alfaiate dos políticos" como se define ele proprio, apresentou um capote de "cashmeer" cinza com gola de "astrakan" preto.
Um deputado conservador inglês presente ao Festival de São Remo assim opinou: "Hoje em dia, a moda italiana, particularmente no campo masculina, dita lis na Inglaterra. Nesta noite tive a oportunidade de ver coisas maravilhosas. Parabens!"



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