E O BIQUINI FICA QUARENTÃO

Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 20 de julho de 1986


Parece que foi ontem, mas já tem quatro décadas: no último dia 5, o biquíni soprou quarenta velinhas. Dentro do primeiro modelo, todo em algodão com estamparia imitando a página de um jornal, as curvas da dançarina Michèle Bernardini. Seu autor, o "designer" francês Louis Réard, ficou tão rapidamente famoso quanto a moça, mas só ela recebeu cinquenta mil cartas de admiradores, depois de ser vista e fotografada à beira de uma piscina, durante um desfile de modas em Paris.
Quatro dias antes do momentoso evento - isto é, a 1º de julho de 1946 - os americanos haviam realizado uma série de testes atômicos num pequeno atol do Pacífico, chamado Bikini. Ao terminar de costurar o seu minúsculo maiô de duas peças, Réard guardou-o numa caixa de fósforos e comentou: "Voilá un biquini".

Moda explosiva

A sensação de jornais, revistas e papos maliciosos custou a chegar às lojas. E, quando chegou, não emplacou de saída. Por algum tempo, o maiô de duas peças tradicional, já um tanto ousado para a época, ainda reinou nas praias e nas piscinas. Mas, assim que pegou, o mais bem sucedido exercício de minimalismo com uma tesoura funcionou como um rastilho de dinamite. Não deu outra coisa: o "boom" do biquíni abalou as estruturas da cultura ocidental.
Epicentro da explosiva moda: Saint-Tropez, balneário do sul da França, onde o cineasta Roger Vadim criou o mito de Brigitte Bardot, em meados da década de cinquenta. Conveniências: para as mulheres gordas ou pergaminhadas por celulites, todas. Foi aí que descobriram a maior utilidade terapêutica do biquíni: incentivar as mulheres a manterem a linha.
Diminuindo sempre de tamanho, o biquíni perdeu em 1964 a parte de cima, quando virou "topless" (uma idéia do "designer" americano Rudi Gernreich), para voltar à sua forma original, na década passada. Forma original é modo de dizer.
Com apenas uma parte do novo biquíni dava para fazer três iguais ao lançado em 1946. Tão pequeno ficou que até mudou de nome: tanga, um dos orgulhos da imaginação brasileira. O resto do mundo boquiabriu-se. Não sabia de nada. Ainda faltava inventar o fio dental, outra criação nacional de reputação planetária.
O que virá depois? Se for o que se imagina, o nome mais adequado, por enquanto, é chernobyl.


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