O EXAGERO INVADE A MODA

Publicado na Folha da Manhã, domingo, 20 de abril de 1947

Neste texto foi mantida a grafia original

Nova York, abril - Os estampados de fantasia, com motivos animais, tais como coelhos, galinhas, elefantes e dezenas de outros bichos domesticos ou selvagens, causaram sensação na recente exposição de modas de Hollywood, organizada por Adrian, de Nova York.
Essa coleção exposta por Bonwit Teller, no Hotel St. Regis. sustentou a reputação de Adrian como o mais imaginativo e mais talentoso desenhista de modas da California. O exagero era a nota principal de muitas criações, sem duvida para atrair a atenção das artistas de cinema. As saias estreitas eram tão estreitas, que os modelos vivos mal podiam andar. Por sua vez, as saias amplas eram tão amplas, que os modelos ficavam embaraçados. Isso, no que respeita aos vestidos para noite. Alguns conjuntos não tinham mangas, enquanto outros tinham dois casacos. Havia chapéus em forma de carros, e de tamanho enorme.
Apesar de todas essas excentricidades, a coleção foi muito apreciada. Entre as muitas criações expostas, incluiam-se aplicações de tecidos de algodão, feitas com tanta habilidade que chegavam a parecer bordados, e arranjos assimetricos em que capinhas misteriosamente cortadas apenas de um lado emprestavam graça e arte aos modelos.
As saias estreitas para noite prendiam-se nos joelhos e caiam atrás em pequenas caudas. Um estampado desenhado por Salvador Dali em cores cinzento e branco era utilizado em um desses vestidos que modelavam as formas.
Os vestidos para noite de saias amplas dividiam-se em dois generos: um, muito sofisticado e tipo "mulher fatal", feito de tafetá preto, com decotes baixos; outro, tão simples como uma madrugada no campo. No ultimo grupo, eram frequentes os motivos animais e as aplicações.
Os conjuntos sem mangas visavam oferecer maior conforto no verão e eram executados com grande habilidade. Os ombros eram sempre ampliados de maneira a formar uma especie de capinha sobre o braço. Um conjunto de "faille" azul-marinho, com incrustações de "foulard" pintado era completado por uma blusa de tecido pintado, com mangas compridas. As mangas da blusa compensavam muito bem a falta de mangas do casaco.
Os conjuntos com dois casacos tinham por baixo um comprido casaco justo e sobre ele um bolero sem mangas. As linhas da barra do bolero, do casaco e da saia eram lindamente espaçadas, para dar uma impressão de três fileiras.
Eram inumeras as capinhas e as mangas curtas tipo quimono, e eram usadas tanto sobre os vestidos para dia como sobre os modelos para noite. Um vestido para baile atraiu muita atenção. Era curto na frente e comprido e amplo atrás, mas com laços presos ao pulso para segurar a saia ao dançar. Para provar sua utilidade, o modelo dançou uma valsa.
Os vestidos para dia desenhados para esta estação são todos compridos, com ombros bem retos e sem enchimento nos quadris. Adrian acredita nos quadris naturais e nos ombros retos, pensem o que pensarem os outros desenhistas.
Uma modista que acredita em ombros com enchimentos é Carrie Munn. Sua recente exposição provou esse fato e mostrou como é possível fazer coisas originais. A desenhista abandonou os tipos de vestidos justos, em favor das saias amplas e engomadas.
Um pequeno chapéu em cores diferentes combinava com todos os vestidos para dia. Era muito simples, usado no alto da cabeça. Entre os modelos semelhantes destacavam-se os feitos de veludo preto e de cetim colorido, cobertos por uma malha preta.



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