A MODA
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Publicado
na Folha da Manhã, domingo, 19 de janeiro de 1930
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Neste
texto foi mantida a grafia original
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A cinta tornou-se indispensavel com o uso dos vestidos lisos em torno
das ancas, principalmente com o vestido princeza, tão na moda
e tão bonito.
Felizmente, porém, a cinta está longe de ter qualquer
afinidade com o notavel espartilho das nossas avósinhas, que,
coitadinhas, além das torturas inflingidas naturalmente pela
vida, inventavam o cilicio das barbatanas que as martyrisava sob fórma
de elegancia, de moda.
Felizmente nós agora temos o bom gosto de inventar para a nossa
moda, habitos confortaveis e estheticos, obedecendo intelligentemente
ao criterio hygienico do bem estar organico, tomando por base a famosa
campanha de Jean Jacques Rousseau, victoriosa no tempo do Imperio,
victoria essa que durou pouquissima, pois em 1830, já voltavam
a torturar as mulheres as saias rodadissimas, os "dessous"
engommados e os detestaveis espartilhos.
É que, como nestes ultimos tempos, os puritanos e a Egreja
não cessavam de pregar contra a immoralidade das modas, clamando
perto das autoridades, pregando nos pulpitos, exigindo dos fieis a
volta aos costumes e trajes discretos dos tempos aristocratas da bella
França dos reinados. E venceram puritanos e Egreja. Desta vez,
porém, as duas grandes forças tiveram que luctar com
uma época digna da evolução dos cem annos vividos
e soffridos. Debalde nos querem convencer de que somos immoraes com
o nosso corpo liberto de apparelhos ciliciantes. Nós não
acreditamos. Não tememos o olhar severo que nos caustica. E
se encompridarmos a saia agora, é unicamente porque já
nos fartamos de a usar curta.
A cinta moderna, é quasi uma faixa forte, mais para conter
as ancas, que para apertar. Tanto que mesmo as mocinhas magras devem
usar para certas "toilettes" lisas nas ancas. E sempre,
com os vestidos princeza.
Como camisas de noite, os modelos de luxo trazem renda creme na parte
alta, formando pala mais ou menos larga. São sem mangas, muito
cavadas e longas, com bastante roda, quando em tecido fino. E com
menos roda quando em tecido mais espesso. Para essa roupa interna
de luxo, o melhor tecido é o bom crepe "Georgette",
que lava bem e é duravel. Tambem é usado o crepe da
china, que então é mais espesso, e em alguns casos melhor,
pois é mais pratico.
Para a roupa mais simples - ou em seda ou mesmo em "voile"
de algodão, fazem-se essas mesmas combinações,
ou mesmo com renda na parte alta, ou com o mesmo tecido, ou em filó
dobrado, e a parte baixa em estampado. Fica muito bonitinha a roupa
interna em tecido estampado. Ha com fundo preto, marron, cinza, estampado
com florezinhas meu'das, rosinhas, ou violetas, ou myosotis, ou mimosas,
jasmins... assim como ha tambem com fundo branco, creme, queimado,
azul, rosa, amarello, todas as côres claras, com as mesmas flôres,
sempre se destacando em côres, ou tambem com desenhos engraçados,
gatinhos correndo atraz de ratinhos, de novellos de lã, gatinhos
bebendo leite num pires, ratinhos em muitas posições,
borboletas, ou desenhos egypcios tambem.
A camisa de noite nesse tecido estampado é muito bonita, toda
da mesma fazenda, prendendo nas hombreiras com franzido, sendo que
as hombreiras têm uma fórma de pala muito estreita. Essas
hombreiras amarram sobre os hombros com fita ou com tiras da mesma
fazenda, o que me parece mais bonito.
Como roupa interna, a "lingerie" em tecido estampado só
deve ser usada com vestidos de lã ou qualquer outra fazenda
espessa.
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