PARA COURRÈGES, NO MUNDO DA MODA, SÓ COURRÈGES
E CHANEL
O
estilista francês está em São Paulo para um
curso de alta costura que termina hoje.
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Publicado
na Folha da Tarde, quinta-feira, 17 de dezembro de 1987
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O estilista André Courrèges, 64, que mudou a história
da moda na década de 60, assim como Christian Dior, em 1947,
no pós-guerra, está em São Paulo.
Veio para o "1º Encontro Internacional de Moda", que
termina hoje no hotel Brasilton (rua Martins Fontes, 330). Ao chegar,
disse: "Nos anos 70, a moda não evoluiu. Atualmente, as
inquietações e os problemas do homem impedem a evolução
em todas as formas de arte. Isto explica a tendência a recorrer
incessantemente ao passado. Moda e estilo são coisas diferentes.
A moda é superficial, passageira - o chamado modismo. O estilo
permanece, é inconfundível, e acompanha as transformações
da vida. Não pretendo, nem nunca pretendi fazer moda, mas representar
o estilo de uma época. Os dois grandes estilistas das últimas
décadas foram Chanel e Courrèges", concluiu.
A modéstia não precisa necessariamente ser atributo
dos gênios, mesmo porque, Courrèges é, sem dúvida,
um deles.
Para quem não sabe, ele é o verdadeiro criador da minissaia
(erronamente atribuída à Mary Quant que, segundo Courrèges,
"difundiu sua idéia de uma forma vulgarizada nos anos
70"), da pantalona, do "collant", em sua controvertida
coleção de inverno 63/64. Nela, foi formulado pela primeira
vez o conceito de roupa feminina como "segunda pele da mulher".
Suas criações se incorporaram de tal forma ao nosso
cotidiano, que nos perguntamos como as mulheres se arranjavam antes
sem elas.
Por isso, mais do que um grande estilista, André Courrèges
foi um gênio inovador. Há uma lenda, nos bastidores da
alta costura, que a história da moda se conta "A.C. (Antes
de Courrèges) e D.C. (Depois de Courrèges)".
Na verdade, André Courrèges nasceu na cidade francesa
de Pau, a 9 de março de 1923. Formou-se engenheiro. Em 1948,
mudou para Paris, deixou a profissão e entrou para a "maison"
do espanhol Cristóbal Balenciaga - "o arquiteto da alta
costura" - com quem permaneceu durante onze anos. Embora afirme
que "nos primeiros cinco anos aprendia coisas novas todos os
dias e, nos outros seis, perdeu tempo", o fato é que,
tanto sua vocação pela engenharia como a influência
do mestre explicam sua obsessão pelas linhas geométricas
- um tanto frias e arrojadas para a época - que provocaram
controvérsias e resistências às suas propostas.
Ficou famoso por seu rigoroso senso de proporção e conhecimento
dos segredos de um corte perfeito.
No final dos anos 70, desgostoso com o que chamou "pirataria
do seu estilo", não apresentou novas coleções,
até montar uma organização através da
qual pôde exercer controle sobre o número de cópias
de seus modelos.
Courrèges foi também um dos grandes incentivadores da
moda "prêt-à-porter quando, em 67, lançou
a linha "Couture Future" - roupas fabricadas em série
dentro dos critérios de qualidade da alta costura. Logo após,
viria a linha masculina de produtos e acessórios, como perfumes,
óculos, gravatas etc., e hoje estende sua criação
ao "designer" de móveis, telefones, pranchas de surfe
e bicicletas.
Ontem, participou de almoço com empresários na Federação
do Comércio para relançar sua grife no Brasil e propor
a construção de um "Fashion Center" em São
Paulo.
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