MUSEU DO LOUVRE ABRE AS PORTAS A SAINT-LAURENT
O
estilista francês está em São Paulo para um
curso de alta costura que termina hoje.
|
Publicado
na Folha da Tarde, segunda-feira, 16 de junho de 1986
|
|
As simples iniciais de seu nome, YSL, tornaram-se símbolo de
elegância e sofisticação no mundo inteiro. Aos
50 anos, Yves Saint-Laurent tornou-se o primeiro costureiro a entrar
para o Museu do Louvre em Paris, que inaugurou a exposição
"Yves Saint-Laurent: 28 Anos de Criação".
Em Nova York, há dois anos, ele foi o primeiro artista vivo
a expor no Metropolitan Museum.
A mostra, organizada pelo Museu das Artes da Moda de Paris, ligado
ao Louvre, reúne trezentos modelos, dos quais cinquenta podem
ser vistos pela primeira vez, já que faziam parte de coleções
privadas ou pertenciam a personalidades como a duquesa de Windsor,
a princesa Grace de Mônaco, Catherine Deneuve ou Jane Birkin.
As demais peças são parte da coleção do
próprio costureiro ou do Metropolitan Museum.
Ao contrário da exposição de Nova York, que foi
organizada por Diana Vreeland, diretora do "Vogue" e do
Costume Institute do Met, a de Paris obedece a escolha do próprio
Saint-Laurent. Os cinco andares do pavilhão Marsan, recentemente
restaurado para servir de sede ao Museu da Moda, foram inteiramente
ocupados pela exposição.
Desta vez, Saint Laurent não quis seguir uma cronologia, reunindo
peças de épocas diferentes segundo critérios
de cor, forma, tecido, tendência ou inspiração.
Assim, uma das mais belas salas reúne quase exclusivamente
vestidos negros, pontuados aqui e lá de vestidos de noite lilás
e violeta. Outra reúne os diferentes tipos de smoking para
mulheres, uma ousadia de Saint-Laurent que hoje está perfeitamente
incorporada ao dia a dia da moda.
Um andar reúne os modelos da fase conhecida como exotismo e
folclore, ou seja, de inspiração chinesa, russa, espanhola
ou africana.
A medida em que se vai subindo os andares, de uma maneira geral vai
se recuando no tempo. Até chegar aos primeiros modelos criados
por Saint-Laurent, quando ainda trabalhava para Christian Dior, a
famosa coleção Trapézio. Um setor é reservado
aos modelos inspirados no trabalho de grandes pintores e artistas,
como Picasso, Matisse, Velasquez, Goya, Cocteau, Mondrian, Andy Warhol,
ou na Pop Art, em Mademoiselle Chanel e Luchino Visconti.
Uma seção é dedicada às roupas criadas
para o teatro, cinema e ópera, inclusive o teatro de revista.
Também pode ser visto o fardão criado para Marguerithe
Youcenar, a primeira mulher a entrar para a academia na França.
A maioria das criações de Saint-Laurent é indatável,
o que permitiu misturar peças de várias épocas.
A exposição inclui modelos da coleção
de 1986, como um magnífico vestido de noiva branco meia-cauda
com bolinhas escuras e laço na cintura. Muitas vezes descobre-se
que o vestido maravilhoso diante do qual as visitantes ainda suspiram
e que certamente faria furor na próxima festa, tem mais de
20 anos.
A moda passa, o estilo fica, costuma dizer Yves Saint-Laurent. A atual
exposição é boa oportunidade para descobrir o
famoso estilo YSL: uma mistura de simplicidade extrema e sofisticação
absoluta, que se traduz na união perfeita entre o corpo e a
roupa. Um corte sem dúvida impecável - e o costureiro
passou muito tempo estudando corte para chegar a essa perfeição
-, mas também uma grande cultura geral e artística e
muita sensibilidade para o que os franceses chamam de "l`air
du temps". Ou seja, um olho sempre na rua para sentir o que as
pessoas realmente querem usar naquele momento.
Segundo muitos dos especialistas que se debruçaram sobre o
fenômeno YSL nos últimos anos, a genialidade do costureiro
consiste em observar a rua e transformar as tendências da época
em clássicos eu nunca saem da moda. Outra característica
do costureiro que salta aos olhos nessa exposição: todos
os modelos são perfeitamente usáveis. Nenhuma extravagância
gratuita, como na maior parte dos desfiles de alta-costura.
Através dos anos, a silhueta Saint-Laurent permaneceu imutável:
uma mulher elegante, de saia reta, ombros quadrados e cintura fina,
de preferência vestida de negro ou vermelho e guardando inteira
liberdade de movimentos.
Há 25 anos Yves Saint Laurent inventa formas e cores que entraram
na história da elegância. Ele é um dos embaixadores
da genialidade francesa através do mundo. A moda é hoje
plenamente reconhecida como uma forma de arte e o seu museu permite
reconhecer o talento de Saint-Laurent. Palavras de um crítico
de moda? Não, de François Mitterrand e é a primeira
vez que um presidente rende uma tal homenagem a um costureiro.
|
©
Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos
reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em
qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização
escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.
|
|