A PROPOSITO DO CINEMATOGRAPHO FALANTE

Publicado na Folha da Manhã, domingo, 14 de outubro de 1928

Neste texto foi mantida a grafia original

Com a applicação do cinematographo falante, surgiu recentemente uma aguda polemica sobre qual dos meios de expressão é o melhor. O que mais chamará a attenção do publico: as palavras ou as acções dos artistas? Alguns insistem em que os sons provocam mais a curiosidade dos assistentes. Outros, acham que a ação é a verdadeira essencia do cinematographo e sendo a voz, producto das machinas mechanicas, ella só serve para distrahir a attenção do publico.
Um dos mais conhecidos directores da Metro Goldwyn Mayer expondo as suas idéas a este respeito, assim se exprime: "É provavel que cheguemos a conseguir o nosso fim, trocando a visão com o sonido, por meio de um systema e não por selecção. Por exemplo: faz pouco tempo as cores naturaes na photograhpia foram obtidas nos laboratorios e os resultados obtidos foram excellentes. Nesta base e com os estudos recentes que foram feitos, a photographia em cores tomou uma tal perfeição, que se pode perfeitamente usar a côr na impressão da pellicula.
Muitos não duvidaram em prognosticar que as pelliculas de côres se generalisariam chegando a serem tão communs como as que hoje existem. Entretanto, não demorou em que fosse descoberto que as novidades da côr distrahia a mente nas partes mais culminantes do drama reflectido na tela. Logo depois, surgiu um systema de usar as cores unicamente em certas passagens para dar uma melhor impressão de effeito esthetico, mantendo-se invariavelmente o branco e o preto, para poder assim ficarem registrados os verdadeiros e intensos momentos da dramaticidade da scena.
A psychologia comprova isto. Ainda que com nossos olhos apreciamos a natureza em suas proprias cores, o mesmo não aconteceu com a nossa mente.
Vê-se isto, quando caminhamos em um lugar cheio de gente, onde não notamos as côres da gravata dos que vemos passar ao nosso lado, nem tão pouco, dos que param para nos cumprimentar, a não ser que uma nota de cores vivas na gravata ou na camisa, nos chame a attenção, distrahindo-nos do que passa em nosso redor. Quando vemos um formoso panorama que possue excepcional colorido, não deixamos de notar logo esse colorido, o que nem sempre acontece nas coisas e paysagens que vemos e constantemente nos rodeam.
Assim tambem é que quando vemos as pelliculas communs em branco e preto os olhos vêm o que a mente está acostumada a presenciar.
A voz na pellicula é a mesma cousa. A mente é usada para observar o que na téla se desenvolve e quando os actores começam a falar distrahem a attenção que se tem na téla. A subconsciencia nos fará ver isto, uma illusão e não uma realidade. Emquanto ás palavras, basta dizer que ás vezes que nos momentos mais intensos de uma scena dramatica o silencio é mais conveniente de que as palavras."


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