DIOR E BOUSSAC, OS DITADORES DA ALTA MODA
Publicado na Folha da Manhã, domingo, 12 de maio de 1957
Neste texto foi mantida a grafia original

Paris e o mundo da elegancia internacional celebram este ano o centenario do modelo, o cinquentenario da criação do tipico "atelier" de Paris e o 10º aniversario de Christian Dior como "couturier". Pode-se realmente considerar este ultimo como o grande homenageado, sendo que a sua fantasia organização de carater industrial, representa a maxima expressão moderna das duas inovações revolucionarias que marcaram epoca na historia da "haute couture".
Com efeito, Dior é o digno sucessor do celebre costureiro parisiense Worth, de origem inglesa, que há apenas um seculo atrás, transformou a sua famosa esposa no primeiro modelo. Tambem a outra inovação de Worth, isto é, a apresentação das primeiras criações já confeccionadas, realizada há 50 anos atrás, está estreitamente ligada ao 10º aniversario de Christian Dior, o monarca da moderna organização desse setor.
Carlos Frederico Worth foi o "couturier" das rainhas, foi o fornecedor dos mais elegantes vestidos da imperatriz Eugenia, a exigente Maria Montijo de Teba, condessa de Guzman, que dominou Luís Napoleão e da Castiglione, a bizarra florentina que realmente imperou na corte de França.
Igualmente Christian Dior, predomina hoje, sem rival, sobre as maiores casas de Paris. Na ocasião do aniversario acima, até o "Time" publicou a fotografia do celebre costureiro no seu numero de 4 de março deste ano e a imprensa de todos os continentes presta sincera homenagem ao grande senhor da Moda.
Dior domina a "Haute Couture". O grupo das suas casas, que forma um poderoso complexo na França e no estrangeiro com caracteristicas de verdadeira industria, teve, em 1954, um balanço de 6 bilhões de francos.
O periodo que seguiu logo após a guerra foi bastante dificil. A "couture" francesa ainda estava inativa depois de terrivel tragedia e surgia a rivalidade norte-americana e italiana. Mas Dior realizou um verdadeiro milagre: destacou-se do grupo dos "couturiers" parisienses e seguiu decididamente à meta final numa corrida triunfal que está sendo exaltada e celebrada este ano.
Nesse episódio brilhante da historia da alta moda e costura, destaca-se a figura do líder incontestavel da industria textil, um dos gigantes da produção francesa: Marcel Boussac.
Boussac e Dior são os ditadores da moda; os dois nomes encerram o misterio de toda Paris elegante e da elegancia do mundo inteiro. É claro que as qualidades do ideador de modelos são diferentes daqueles necessarias ao dirigente do movimento de uma maquina de tamanha grandeza. Este ultimo deve ser um organizador formidavel, cuja importancia é tão vital quanto a genialidade do criador de modelos.
Monsieur Boussac, o maior e mais admirado criador de tecidos é a eminencia parda da moda francesa seu verdadeiro e legitimo rei.
Um exercito fabuloso de desenhistas, criadores, tecnicos, costureiros, modistas, todos eles altamente especializados e capacitados para transformar fibras de algodão em maravilhas de bom gosto e elegancia, trabalham sob a sua direção.
O valor desse imperio é estimado em cerca de 60 bilhões de francos e Boussac controla, em certos setores, 25% dos tecidos de algodão utilizados no vestuario de 10% da totalidade das fibras de algodão empregadas na França para varias aplicações. Hoje em dia, os tecidos Boussac compreendem cerca de 10.000 combinações diferentes de desenhos e tinturas.
Monsieur Boussac informou recentemente à imprensa francesa que, dentro em breve, terá tecidos fabricados no Brasil por um dos maiores estabelecimentos fabris da America do Sul.
Os dois ditadores da alta moda, Boussac e Dior, se completam. Dior é o genial criador, o artista, que dita a Moda a todo o mundo elegante; Boussac é o poderoso industrial, que representa a força da "haute couture".
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