ELSA SCHIAPARELLI, O CHOQUE DA MODA NOS ANOS 30
|
Publicado
na Folha de S.Paulo,
domingo, 12 de agosto de 1984
|
|
Uma das mais famosas estilistas dos anos 30, Elsa Schiaparelli, avó
de Marisa Berenson, fazia de sua moda uma homenagem à sensualidade
da mulher, especialmente a de trinta anos. Elsa, ou "a italiana",
como a chamavam, era feia. E tornou incrivelmente belas as mulheres
de sua época.
Ela nasceu em 1890 e sua mãe - de tal forma austera que não
ia às recepções reais na Itália, porque
as mulheres usavam vestidos decotados - não se cansava de lhe
dizer: "Elsa, você é feia. Como você pode
ser feia!"
E a menina não duvidava disso. Tanto que imaginava que, se
cobrisse seu corpo de flores, ela se pareceria com um jardim celeste,
maravilhosamente diferente de todas as mulheres. Com alguma dificuldade,
obteve sementes e simplesmente as "plantou" na boca, nas
orelhas, e o que conseguiu foi quase morrer sufocada. Mas a nostalgia
da inalcansável beleza persistia anos mais tarde, quando ela
imaginou, para a tampa de seu perfume "Schoking", uma cabeça
em forma de ramo de flores.
Em Paris, abandonada pelo marido Willy de Kerlor (com quem teve a
filha Gogo, mãe de Marisa Berenson), durante a Primeira Guerra,
foi recusada por várias maisons "eu não conhecia
nada de costura" - escreveu Elsa em suas memórias. "Minha
ignorância era suprema, e minha coragem, consequentemente, infinita."
|
Inspiração
surrealista |
Somente no final da década de 30 a italiana foi reconhecida.
Ela já tinha 40 anos quando começou a trabalhar com
costura e 45 quando abriu sua famosa boutique no 21, Place Vendôme.
Seu perfume "Comme tu Veux" foi inspirado num filme de Greta
Garbo e Elsa, que tinha uma veia surrealista, também trabalhou
com Salvador Dali. Assim nasceram entre outros, o chapéu-sapato,
a bolsa em forma de telefone, o chapéu-cérebro. O toque
surrealista surgia na coleção Arlequim, inspirada na
commedia dell'art, em cores ardentes; a coleção astrológica,
com horóscopos; a coleção pagã, reproduzindo
ninfas saídas diretamente de Boticelli. E principalmente a
coleção do circo, considerada por Elsa a mais fulgurante.
O chapéu em forma de costeleta foi um escândalo. Na época,
a imprensa comentou assim: "Por modéstia, certamente,
Madame Schiaparelli não colocou também as batatas fritas."
Mesmo com todas essas criações arrojadas, Elsa nunca
perdeu qualquer de suas ricas e conservadoras clientes. Pelo contrário,
sempre ganhava novas, e particularmente as estrelas do cinema.
Entre elas, uma galeria de musas: Marlene Dietrich (especialmente
para chapéus), Katherine Hepburn, Claudete Colbert, Norma Shearer,
Lauren Bacall. E ainda Mae West: suas formas foram reproduzidas nos
vidros do perfume "Schoking". Ela também lançou
a cor famosa, o rosa shocking.
"Quando o vento tira o seu chapéu, e o leva cada vez mais
longe, é preciso correr mais rápido que o vento, para
tê-lo de volta. Eu sempre soube que para construir mais solidamente,
por vezes somos obrigados a destruir, a fim de estabelecer uma nova
elegância para as maneiras e as roupas, uma nova aristocracia
de acordo com os ritmos brutais da vida moderna."
Em seu trabalho, Elsa Schiaparelli preferiu sempre a elegância
refinada. E aconselhava as mulheres a reclamarem críticas e
conselhos, e escutá-los. "A maior parte das mulheres ignora
sua própria personalidade, elas deveriam tentar se conhecer",
afirmava.
|
©
Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos
reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em
qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização
escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.
|
|