A BENGALA
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Publicado
na Folha da Manhã, domingo, 9 de março de 1930
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Neste
texto foi mantida a grafia original
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Ha uma "questão de bengalas", tão grave com
certeza como o imperialismo britannico ou a instabilidade dos cambios.
Um homem elegante deve usar bengala? Ou deve ella ser desterrada para
as vitrines de museus?
A actividade dos costumes modernos fez relaxar um pouco o dandysmo
e glorificar as attitudes desembaraçadas, as mãos livres.
Mas uma reação solutar se desenhou logo. Poderiamos
decentemente abandonar este attributo essencial d'uma elegancia pessoal
que, nos Gregos, já destinguia os requintados e os Lacedemonios,
partidarios da bengala, dos philosophos cynicos armados do pão?
Nós damos agora à bengala um culto renovado.
Mas a questão se simplificou, se disciplinou, pode-se dizer.
Nada de bengalas phantasistas com castões symbolicos ou humoristicos,
nada de materiaes excentricos, pão ferro, nervo de boi, amoreira,
cachalot, pão das ilhas, barbatana, espinha de tubarão.
Dois estylos unicos têm agora todos os favores a bengala da
manhã e a bengala de cerimonia ou da noite.
Para o trabalho, os passeios e os chás, são só
usadas as de bambú, cipó ou junco.
Um bello junco polido, lustroso, decorado com essas admiraveis manchas
escuras ou algum cipó ambreado.
Existem mais de quarenta especies de cipó na Asia e na Africa
intertropical, que sombreiam as suas florestas impenetraveis: cipó
que laça os elephantes selvagens, cipó sangue de dragão
com virtudes secretas, cipó de pedra, cipó de nós,
etc.
Uma simples bengala de madeira com castão de marfim de chifre
de veado ou de madreperola.
Ou ainda com uma bola de crystal, de tartaruga loura, de jaspe, de
ouro canelado, de chrysopraze, fazendo lembrar a famosa bengala de
Balzac, tornada celebre pelo romance de mme. de Girardin, que continha
a mecha loura e gravadas as seguintes palavras "Adivinhe quem?"
cujo enigma não poude nunca ser descoberto.
O bambu, mais rustico, menos chic, não deve nunca ter outra
guarnição senão os seus nós.
Para as reuniões à noite, theatros, domina a mesma nota
simples mas mais rica.
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