A ALIMENTAÇÃO E A MODA

Publicado na Folha da Noite, quarta-feira, 7 de setembro de 1938

Neste texto foi mantida a grafia original

Tem toda opportunidade a divulgação, neste momento, de idéas expedidas pelo dr. Hemmerdinger, em uma revista de Paris, sobre "a alimentação e a moda". A "Folha" tem agitado, como se sabem por meio de entrevistas com especialistas, o problema do "Instituto de Nutrição", e todos elles não deixam de referir-se a uma especie de padrão alimentar para o homem do Brasil. Donde parece concluir-se que existe um typo de alimentação para o brasileiro como typo de alimentação para o europeu, outro para o asiatico, e assim por diante.
Segundo o dr., Hemmerdinger até a moda influe no caso. "Em qualquer paiz - observa o collaborador de "Grande Révue" - existem pratos especiaes para determinadas circunstancias da vida ou para certas festas do anno. As proprias religiões patrocinaram modas de alimentos que se espalharam pelo mundo, como por exemplo as festas israelitas, que se caracterizam por alimentos ou pratos especiaes, como o pão azimo: as comidas mussulmanas do Ramadam, depois do cahir do sol, fazem parte da mesma série, como o alimento de jejum da sexta-feira ou da quaresma".
A observação é exacta. Nós mesmos, no Brasil, possuimos pratos adequados a certas cerimonias da vida: o peru com farofa, nos dias de grande gala; o leitão assado em dias de baptizado; o frango assado, aos domingos; o virado com linguiça, durante as festas campestres. Por ocasião das festas de Natal e Anno Bom, a despeito de não possuirmos propriamente uma tradição de mesa para esses dias, fizemos largo consumo das gulodices importadas do estrangeiro e já se vae convertendo em tradição paulista o "panetone"...
Os usos alimenticios - diz o dr. Hemmerdinger - têm-se modificado de accordo com as possibilidades do momento e com as necessidades economicas; as dificuldades de aprovisionamento da ultima guerra introduziram a simplificação dos "menus" nos restaurantes. Todavia mais do que por motivos das necessidades economicas, as modas alimenticias são adoptadas em nosso tempo por campanhas de imprensa, naturalmente interessadas, ainda que sob a excusa de razões hygienicas e economicas. A moda dos "cock-tais", propagada na Europa com a rapidez de uma epidemia, provocou taes desastres em França, que motivou um protesto da Academia de Medicina.
Existe, porém, uma moda que se vae generalizando e que deve merecer o nosso apoio: a do ensino domestico, destinado a diffundir os principio de uma alimentação racional com a esperança de crear costumes alimentares normaes e duradouros, inspirados em dados scientificos e em necessidades economicas locaes.


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