BELEZA ANTIGA E BELEZA MODERNA

Publicado na Folha da Manhã, domingo, 4 de abril de 1943

Neste texto foi mantida a grafia original

A beleza sempre foi uma preocupação não só das mulheres mas até mesmo dos homens pois se elas tudo fazem para obtê-la e mantê-la, eles não se cansam de admirá-la.
As mulheres sempre se preocuparam em realçar seus encantos, e aquilo que antigamente só era possível a um diminuto número de pessoas, tornou-se com o correr dos tempos, acessivel a todas, e somente as que continuam indiferentes ao problema, não tem ao seu alcance os métodos e os conselhos, com que os mais famosos peritos do mundo se esforçam para torná-las mais belas.
Tambem no tempo de nossas avós, elas se preocupavam com os problemas da beleza e dos vestidos, ainda que esse ato não tivesse a publicidade dos nossos dias. No entanto, em meios restritos, tornaram-se, famosos, cabeleireiros e modistas de Paris, então mais do que nunca o centro da moda, conhecidos por esse grupo de alta eram tambem os produtos que se usavam, fórmulas que ainda hoje são aproveitadas na maioria dos casos.
Agora mesmo ao ler o livro de Wanderley Pinho. "Salões de Damas do Segundo Reinado" não posso deixar de pensar no encanto daquelas paulistas, de flores presas ao cabelo, flores que seriam oferecidas ao forasteiro, a quem cabia, depois, no correr da visita, escolher no balcão ou no jardim outra flor, para ofertá-la à dama que acabara de conhecer.
Flores sempre foram grandes aliadas da beleza feminina, e flores não deixaram de existir em São Paulo. Eis um hábito de beleza paulista que não ficaria mal fazer ressurgir.
Conta ainda Wanderley Pinho, segundo uma descrição de Mawe, Inglês que em 1809 visitou S.Paulo, que as paulistas tinham fama de belas em todo o Brasil, como damas cheias de atrativos, sóbrias, amantes da música e da dansa, sabendo manter uma conversação alegre, vaidosa e preocupadas em aumentar seus encantos.
Elas se vestiam de sedas ou cachemira, em elegantes composições, preferindo a cor preta para ir à missa, usando véus de seda e rendas, ou chapeuzinhos redondos que tanto lhes realçavam a beleza.
Nos bailes ao compasso da dansa, jovens exibiam seus vestidos brancos, cujos modelos vindos de Paris, encontravam nas paulistas os manequins ideais. No colo, usavam grossas cadeias de ouro, e os cabelos eram presos a finos pentes, em arranjos de bom gosto.
Comparando a beleza de antigamente com a dos nossos dias, chega-se à conclusão de que a única diferença foi uma maior industrialização e divulgação, abstraindo-se, é claro, a evolução que a moda seguiu.
Nos tempos antigos as fórmulas dos produtos eram frutos de observações caseiras e circulavam entre um restrito número de pessoas, pois a bem dizer a preocupação de beleza cuidada, não passava das damas da sociedade.
Foi depois da outra guerra, que as fábricas e produtos químicos, ou farmacêuticos, começaram a lançar no mercado cremes produtos similares que permitiam à mulher, por processos rápidos e acessíveis, preservar a pela ou usar pinturas que lhe realçassem os encantos.
Muitos falam, admirados, da beleza das damas do outro século, e estranham que sem terem usado a escala de variados produtos hoje existentes, tivessem conservado tão fina epiderme!
Essas pessoas esquecem-se de como era diferente para uma mulher a vida no século passado.
Nenhuma das nossas avós soube jamais, em sua vida, o que era passar um dia ao sol, correr a 120 à hora com o rosto exposto ao vento, dansar até às quatro da manhã e tantas outras coisas que existem na vida moderna.


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