"GLORIFICAÇÃO DO "TAILLEUR"
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Publicado
na Folha da Manhã, domingo, 5 de outubro de 1952
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Neste
texto foi mantida a grafia original
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Desfile
para o verão de 52/53 |
"... e apenas há poesia onde há simplicidade.
"Isto é uma opinião de poeta, e os poetas, como
se crianças, dizem sempre a verdade. A poesia da simplicidade
reinou nesta coisa tão seria que é uma exibição
previa de modelos para a proxima estação. Durval exibiu,
em sua sala da rua Barão de Itapetininga, apenas o vestuario
predileto da paulistana: o desfile foi a glorificação
do "tailleur", tão somente".
Começando pela mais absoluta sobriedade, os modelos de linhas
retas, com saias justas e pequenos efeitos de cores contrastantes,
acentuando a gola ou os bolsos, foram aos poucos tomando audacia e
colorido e dinamismo. Os bolsos ficaram maiores, marcando mais a cintura,
as saias se alargaram e as golas subiram, e as cores se tornaram mais
alegres. Havia sido anunciado o estilo classico e francês, e
realmente, a moda apresentada ficou dentro dos moldes tradicionais
e da graça francesa. Os enfeites não foram alem de um
pouco de pasamanaria colocado com discrição, de alguns
pormenores delicados, como naquele "tailleur" de Hermès,
de linhas geometricas negras sobre fundo branco.
Um dos conjuntos mais agradaveis foi o de saia preta e casaco amarelo,
de inspiração Jacques Fath, em que uma longa fita, amarela,
pendia do laço da gravata, em estilo pintor, até abaixo
da cintura. Aliás, é de notar a preocupação
da moda no momento de marcar, com um pormenor de cor de feitio, a
linha abaixo da cintura, como noutro "tailleur" de Jacques
Fath, de "shantung" azul-marinho e branco. Ou como noutro
modelo de Hermès, em que o recorte em forma de envelope, unico
enfeite, estava colocado nessa linhas. Já num modelo de Manguin,
em linho branco e azul-marinho, havia duas asas verticais de cada
lado do casaquinho: quatro andorinhas brancas sobre mar de tempestade.
E depois, se sucederam os modelos para a tarde ou para a noite, de
seda, "faille", gorgorão, tafetá. As saias
apresentavam godês amplos, às vezes; ou permaneciam na
elegancia classica da saia reta. Houve apenas um modelo em estampado
"píed-de-poule", original de Rafael, com manga "raglan"
e punhos revirados.
O cinzento foi, talvez, a cor mais repetida no desfile, cinzento de
céu de garoa, cinto cor de chumbo, todas as tonalidades da
melancolia, que servem para realçar a alegria de um sorriso.
A harmonia dos conjuntos apresentados provinha sempre da singeleza,
das linhas felizes. Foi uma agradavel apresentação de
modelos para o verão que se aproxima. Deste verão que
já nos manda avisos por seu amigo, o sol, contando que logo
vai desmentir a fama da garoa, que vai destronar esta ditadora, substituindo
o encanto dos sueteres pelo feitiço bem mais decisivo dos braços
nus e dos decotes arrojados.
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