Rio
- Sem a fama que hoje só a televisão pode dar,
Jackson do Pandeiro morreu ativo. Aos 62 anos, tocando pandeiro
desde os 12, ele participou no sábado, dia 5, da Festa da
Associação Recreativa do Ministério da Educação
e Cultura, em Brasília, e no dia seguinte desmaiou no aeroporto,
esperando avião para o Rio. Lá, foi internado na Casa
de Saúde Santa Lúcia onde morreu anteontem de embolia
cerebral e pulmonar.
Foi enterrado ontem, ao final da tarde, no Cemitério do Caju,
pela mulher, Neusa Flores, e pelos irmãos, Geraldo e João
Gomes, que com os nomes de Cícero e Tinda tocavam com Jackson
formando o "Conjunto Borborema". O ritmista, cantor e
compositor não teve filhos nem com Neusa e nem com a primeira
mulher, a cantora Almira, que com ele dividiu por muitos anos sucessos
como "Maria Chiquinha".
Carmélia Alves, Benedito Nunes, Antônio Barros (autor
de "Homem com "H", recentemente gravado por Nei Matogrosso)
e Ceceu (autora de "Bate Coração", sucesso
de Elba Ramalho) eram dos poucos amigos artistas que ontem acompanhavam
o enterro de Jackson do Pandeiro, que, para Carmélia Alves,
"é, sem dúvida, um nome importante na história
da música brasileira".
A
morte
Neusa,
a mulher de Jackson do Pandeiro, seguiu para Brasília na
segunda-feira da semana passada mas pouco esteve com ele, já
que o cantor esteve em coma no início da semana passada,
e mesmo depois continuou internado no centro de tratamento intensivo
da Casa de Saúde Santa Lúcia.
No sábado, Neusa passou algumas horas com o marido, ele interessado
nos "gols" de Zico e sem saber, segundo Neusa, da desclassificação
do Brasil na Copa do Mundo. Reclamou da comida sem sal que lhe serviram
de almoço e, apesar de diabético, pediu açúcar
para o mamão da sobremesa e para a laranjada. Confiante em
sua recuperação, Neusa voltou para o hotel em que
se hospedava e às cinco da tarde recebeu telefonema para
voltar urgentemente ao hospital, onde já encontrou Jackson
do Pandeiro morto.
Carreira
Paraibano
de Lagoa Grande, Jackson do Pandeiro se criou em Campina Grande,
onde iniciou a carreira artística cantando em cabarés.
Aí surgiu o nome "Jackson do Pandeiro", pelo fascínio
do artista pelos filmes americanos de "far-west". Seu
nome de batismo era José Gomes Filho.
O sucesso veio no inicio dos anos 50. Contratado pela Rádio
Jornal do Comércio, de Recife, a principio somente como ritmista
(conforme as recordações de Carmélia Alves,
também à época da Rádio Jornal do Comércio),
Jackson do Pandeiro gravou nos estúdios da propria emissora
um 78 rotações com as músicas "Forró
em Limoeiro" e "Comadre Sebastiana" (que Gal Costa
gravou de novo no início dos anos 70).
Com este disco "estourou no Sul", e pouco depois veio
morar no Rio para onde trouxe Almira, que conheceu também
na Rádio Jornal do Comércio onde ela era "tele-atriz"
de novelas. Já no Rio trabalhou para as rádios Nacional
e Mayrink Veiga, as principais emissoras da época.
Autor de músicas como "Chiclete com Banana" e "Canto
da Ema", regravadas muitos anos depois por Gilberto Gil, de
"Me Segura Que-Eu Vou Dar um Troço" e de "Cantiga
do Sapo", ele estava no momento sem gravadora. Há um
ano desligou-se da Poligram e estava agora sendo chamado pela "Ariola",
que pretendia fazer um disco de Jackson com outros intérpretes
como Elba Ramalho, Alceu Valença e Moraes Moreira cantando
sucessos seus.
Apesar de um tanto apagado, "desde que a televisão substituiu
o rádio", segundo as palavras de Carmélia Alves,
Jackson do Pandeiro teve sempre o reconhecimento do público
e agenda cheia, fazendo espetáculos por todo o Brasil. Deixou
pensão para a viúva, Neusa, e apartamento de quarto
e sala no centro da cidade. Morava em casa.
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