Amanhã
Camargo Guarnieri e Frank Smith dois grandes artistas, exhibir-se-ão
no Clube dos Artistas Modernos. Procuramos ouvir o compositor Camargo
Guarnieri, encontramol-o sentado numa poltrona meditando, sobre
a vida. Moço, sympathico, de nariz comprido, o que portanto
corre o risco, sem justificativa, porém, da campanha anti
semitica. Camargo Guarnieri olhou-nos, surpreendido, ante as nossas
primeiras perguntas:
Que historia é essa do seu concerto?
"Estou pensando na difficuldade quem tem o musico de
encontrar um papel bastante liso, com muitas pautas e que não
seja mata borrão".
Que ligação tem o papel, com a musica?
"Hoje eu estou muito contente, o meu amigo e compositor
Arthur Pereira fez-me presente de um caderno de papel de musica;
eram desses que eu queria infelizmente importado da Italia, cheirava
a Mussolini. O Arthur Pereira estudou na Italia, mas não
tem nada com aquelle paiz (comtudo vem com o optimos papeis que
não borram, quando a gente escreve)... Gosto da Italia.
Mas, como é esse negocio de concerto e essa
historia de musica moderna?
"A musica moderna não me interessa. Si sou modernista
é pela mesma fatalidade por que sou cidadão das Americas;
a gama sonora é o meu material de trabalho. Nella, está
incluido o tropico de Capricornio, o analphabetismo, as macumbas
do Brasil e o feminismo dos padres; agora, quanto ao concerto, elle
me interessa muito. Não vi ainda um programa de violino e
piano, organizado exclusivamente com compositores contemporaneos.
Creio que é a primeira vez que dois artistas acreditam tanto
no publico a ponto de não se preocupar com o publico."
Qual é o seu compositor favorito?
"Gosto daquelles que compuzeram o que eu comporia se
elles não compuzessem".
Muito bem. E que acha da corrente musical brasileira?
"Essa corrente é curiosa - tem os que são
brasileiros, e não escrevem musica brasileira, outros que
são brasileiros e querem escrever musica brasileira, e outros,
ainda, que são brasileiros e escrevem, sem querer, musica
brasileira.
Então qual é o seu caso?
"Ah!... isso é dificil, deixo para os outros
resolverem".
Assim dizendo, Camargo Guarnieri levantou-se e abandonou
a sala. Desistiu de pensar na vida. Felicidade de ser musico sem
corrente...
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