NOITE DO "REI DA VELA" FOI SUCESSO NO OFICINA


Publicado na Folha de S.Paulo, sabado, 30 de setembro de 1967

Neste texto foi mantida a grafia original

"O Rei da Vela", peça inedita de Oswald de Andrade, estreou oficialmente, ontem à noite, para um grande publico que lotou o Teatro Oficina e que aplaudiu as interpretações de Renato Borghi, Francisco Martins, Fernando Peixoto, Liana Duval, Itala Nandi, Etty Fraser, Dirce Migliaccio e outros atores do elenco.

"Aqui e agora"

O diretor de "O Rei da Vela", José Celso Martinez Correa, entusiasmou-se com a receptividade e a boa acolhida que o grande publico ofereceu à peça de Oswald de Andrade. Ele diz que "o Oficina procurava um texto para a inauguração de sua nova casa de espetaculos que, ao mesmo tempo, inaugurasse a comunicação ao publico de toda uma nova visão do teatro e da realidade brasileira. Eu havia lido o texto há alguns anos e ele permanecera mudo para mim. Me irritara mesmo. Parecia modernoso e futuristoide. Mas, mudou o Natal, e mudei eu. Depois de toda a festividade esgotar suas possibilidades de cantar a nossa terra, uma leitura do texto em voz alta para um grupo de pessoas fez saltar, para mim e todos os colegas do Oficina, todo o percurso de Oswald na sua tentativa de tornar obra de arte toda a consciencia possivel do seu tempo".

As revoluções

José Celso salienta que para exprimir uma realidade nova e complexa, era preciso reinventar formas que captassem essa nova realidade. "E Oswald nos deu, em "O Rei da Vela", a "forma" de tentar apreender, através de sua consciencia revolucionaria, uma realidade que era e é o oposto de todas as revoluções. "O Rei da Vela" ficou sendo uma revolução de forma e conteudo para exprimir uma não-revolução. De sua consciencia utopica e revolucionaria, Oswald reviu seu país, e em estado de criação quase selvagem captou toda a falta de criatividade e de historia desse mesmo país. A peça, seus 34 anos e o fato de não ter sido montada até hoje, fez com que captassemos as mensagens do autor e as fizessemos nossas mensagens de hoje".
O diretor conclui dizendo que sua geração apanhará a bola que Oswald lançou com sua consciencia cruel e antifestiva da realidade nacional e dos dificeis caminhos de revolucioná-la. "Ela não está, ainda, totalmente conformada em somente levar sua vela. São os dados que procuramos tornar legiveis nesse espetaculo".


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