Infarto, pneumonia e problemas respiratórios matam nos EUA
o músico, considerado "pai do cool jazz"
O trompetista
Miles Davis, considerado o "pai do cool jazz", morreu
ontem, aos 65 anos, de pneumonia, problemas respiratórios
e infarto, no St. John's Hospital, perto de Santa Mônica,
na Califôrnia, Estados Unidos. Ele estava internado há
cerca de um mês.
O músico
sempre teve muitos problemas de saúde. Em entrevistas concedidas
três anos atrás, Davis chegou a admitir que parte desses
problemas tinha origem no vício da heroína.
Miles
Davis foi um reinventor do jazz e desde os anos 40 ocupava a frente
de quase todos os movimentos jazzísticos, tais como "bebop",
"cool jazz", "eletric jazz" ou "jazz-rock-flusion".
O trompetista
Dewey Miles Davis Jr. nasceu em 25 de maio de 1926 em Alton, Estado
de Illinois, nos Estados Unidos. filho de um dentista, começou
tocar trompete aos 13 anos, quando ganhou o instrumento do pai.
Influenciado inicialmente pelos trompetistas Roy Eldridge e Dizzy
Gillespie, Davis, aos 18 anos, estudou música na Julliard
Scholl of Music, de Nova York.
Protegido
por Charlie "Bird" Parker, acompanhou a primeira geração
do "bebop", tocando com Thelonious Monk, Gillespie e Kenny
Clarke, entre outros. Visto como grosso, mal-humorado e violento
com tudo que considerasse racismo, Davis ficou deslumbrado quando
viajou pela primeira vez à Europa em 1948. Paris lhe abriu
as portas. De volta aos EUA, o choque cultural foi tão grande
que ele se entregou à heroína, relata o músico
em sua autobiografia, lançada no Brasil em maio deste ano
pela editora Campus.
Em
1949, já mais próximo do arranjador Gil Evans, liderou
gravações consideradas deflagradoras do "cool
jazz".
Na
década de 50, aderiu às drogas pesadas e enfrentou
períodos de inatividade, mas a partir de 1954 formou seu
mais famoso quinteto, que incluía o saxofonista John Coltrane.
Novas parcerias com Gil Evans, como "Porgy and Bess",
renderam obras-primas.
Nos
anos 60, recusando-se a aderir ao "free jazz", sua música
chegou a ser esnobada pela mídia. A partir de 68, aderiu
aos instrumentos eletrônicos e ao rock. Seus discos entraram
para a Billboard. Davis revelou toda uma geração de
estrelas, como Herbie Hancock, Chick Corea e Keith Jarret.
Em
76, o consumo de drogas interrompeu novamente sua carreira, reiniciada
apenas em 81. Nos últimos anos, o músico enfrentou
vários problemas de saúde. Essas doenças eram
atribuídas por muitos ao consumo de heroína pelo músico.
Numa
entrevista concedida em junho último ao jornal francês
"Le Monde", Miles Davis disse que ficava muito doente
após cada turnê, "Tenho calafrios, uma mancha
no pulmão, duas hérnias por causa de esforço
físico, um nervo comprimido nas costas. A minha mão
formiga quando eu furmo. Tenho muitos problemas, inclusive diabetes
e pés inchados."
Ao
mesmo tempo, Davis dizia que a música e o palco sempre lhe
proporcionavam bem-estar. "Se eu pudesse estar no palco durante
todo o ano, eu não pararia de tocar. No palco, eu sinto o
ar entrar nos meus pulmões", afirmou. Nessa mesma entrevista,
o músico revelou que pretendia encerrar a carreira em 92.
Davis
exibiu-se no Brasil em 1974 e em 1986, no Free Jazz Festival. Uma
terceira apresentação, agendada em 88 no 4° Free
Jazz, foi cancelada devido a uma pneumonia.
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