MORREU EUGENE O' NEILL


Publicado na Folha da Manhã, sábado, 28 de novembro de 1953

Neste texto foi mantida a grafia original

Boston, 27 - Faleceu hoje à noite, nesta cidade, o dramaturgo Eugene O' Neill, premio Nobel de Literatura, homem de uma vida tão tragica quanto suas obras.
Vitimou-se um ataque de pneumonia.
Eugene O' Neill, cuja morte um breve telegrama noticiou na madrugada de hoje, nasceu no coração da Broadway, no ano de 1888. Desde a infancia manifestou-se um espírito rebelde e sonhador, - que os pais e os mestres não conseguiram corrigir. Em 1906, matriculou-se na Universidade de Princeton, de onde, um ano mais tarde, foi expulso. Desiludido, entregou-se ao alcool e à vagabundagem. Aos vinte anos, casou-se, mas três dias depois do casamento sua esposa requeria o divorcio. Resolvendo emendar-se, O' Neill empregou-se como reporter e matriculou-se na Universidade de Harvard, mas voltou a beber e pela segunda vez foi expulso da Universidade. Parta concretizar um velho sonho, fez-se marinheiro. Um naufragio atirou-o numa praia duma ilha das Honduras, onde o estouvado O' Neill tentou fundar um novo imperio. Tido como demente pelos ingenuos habitantes da ilha, teve que voltar ao mar, e no mar permaneceu até que a tuberculose o obrigou a regressar aos Estados Unidos. No silencio do sanatorio onde foi internado, decidiu enfim o que iria ser na vida: teatrologo. Seus primeiros trabalhos dramáticos chamavam-se "A lua das Caraibas e outras seis peças do mar", os quais apareceram em 1919. Logo depois surgia a tragedia "Antes do Café", duma originalidade que empolgou as platéias. No entanto, somente com "Ana Cristie" e "Alem do Horizonte" foi que O' Neill se revelou um teatrologo inteiramente realizado. A consagração veio logo em seguida, em 1920, com a famosa peça "O Imperador Jones", pela qual lhe concederam o Premio Pulitzer. Seguem-se outras peças, estas mais reais e mais vivas do que as primeiras: "Distintos", que foi um escandalo para os puritanos de Boston, "Macaco Peludo". "A Fonte", "O Primeiro Homem", "Ligados", "Desejo sob os Olmos", "O Grande Deus Brown" e muitas outras. Logo após ter obtido o Premio Pulitzer, a fama do grande teatrologo espalhou-se por todo o mundo. Veio, então, o Premio Nobel, pela primeira e unica vez concedido a um dramaturgo americano, e vieram outras peças, como o "Estranho Intermedio" e "Enlutada torna-se Electra", dois monumentos do teatro contemporaneo.
A obra de Eugene O' Neill é vasta, complexa e desnorteante. Não é facil julgá-la e mesmo comentá-la é um trabalho dificil. Nela tudo é inedito e pessoal: a forma, a tecnica e o conteudo. Basta conhecermos algumas de suas peças para asseverarmos que Eugene O' Neill é um dos maiores dramaturgos que a America deu ao mundo.

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