MORRE O PAI DA NOSSA ARQUITETA MODERNA


Publicado na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 1972

Gregori Warchavchik, um dos nomes mais importantes da moderna arquitetura brasileira, morreu ontem, em São Paulo. Ele nasceu na Russia em 1896, formou-se arquiteto em Roma e veio para São Paulo em 1923, no auge da vaga modernista. Numerosos prédios e casas que ele projetou ainda estão de pé na cidade.

Morreu Gregori Warchavchik

Com a morte de Gregori Warchavchik, aos 76 anos de idade, ocorrida na manhã de ontem em São Paulo, a arquitetura brasileira perde um de seus mais importantes nomes. Warchavchik, que até sua morte foi um homem de atividade intensa, foi quem introduziu a arquitetura moderna no Brasil. O marco dessa arquitetura é a casa por ele construída na rua Itapolis, no bairro do Pacaembu, cuja inauguração, acontecimento da maior importancia naquele ano de 1930, foi considerada na epoca, a "Semana de Arte Moderna na Arquitetura".
Warchavchik morreu em seu leito, durante o sono. O enterro sairá às 10 horas de sua casa, na avenida Europa, 641, para o Cemiterio Israelita de Vila Mariana.

A vida

Gregori Warchavchik nasceu a 2 de abril de 1896 em Odessa, na Russia, deixou sua cidade natal em 1918, seguindo para Roma, onde estudou arquitetura no "Instituto Superiore di Belle Arti", conseguindo seu diploma em 1920. Trabalhou durante dois anos com Marcello Piacentini e, como seu ajudante, dirigiu a construção do Teatro de Savoia, em Florença.
Veio para o Brasil em 1923, embebido das idéias novas que marcavam a Europa de então, contratado pela Companhia Construtora de Santos, que Roberto Simonsen dirigia. Encontrou aqui uma São Paulo apenas pequena provincia, mas que fervia, em seus meios intelectuais, de ideias renovadoras que artistas como Graça Aranha, Menotti Del Picchia, Ronald de Carvalho, Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti, Anita Malfatti e outros deram a publico na Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro do ano anterior.
Neste ambiente, que o proprio Warchavchik considerou como "terreno preparado para minhas ideias e meus sonhos", começou a trabalhar.
Já em 1927 construia, na Vila Mariana, mais exatamente na rua Santa Cruz, aquela que seria a primeira casa modernista, "surgindo revolucionariamente no panorama arquitetonico paulistano", como disse Geraldo Ferraz.
O espirito renovador e revolucionario de Warchavchik iria se fazer presente no arquiteto até o dia de sua morte. E, naturalmente, diversas dificuldades se lhe impuseram a ele e a suas concepções esteticas.
A Prefeitura Municipal, por exemplo, negava-se a aprovar seus projetos com fachadas lisas. Para receber a aprovação, Warchavchik modificava a planta original, disfarçando a com nichos. Desta forma, conseguia a aprovação e quando a Prefeitura, na hora de conceder o "habite-se" percebia que a construção não correspondia à planta autorizada, Warchavchik desculpava-se dizendo que a construção não havia sido acabada por falta de dinheiro. Assim, conseguiu a autorização para diversas construções.
Além da "primeira casa modernista" da rua Santa Cruz, de 1927 e da casa também modernista da rua Itapolis (1930), há, ainda em São Paulo, inumeras construções suas, como o predio numero 1003, da alameda Barão de Limeira, pequenas residencias na rua Melo Alves, rua Avanhandava e casa populares na rua Afonso Celso e Dona Berta. Trabalhou ainda com Lucio Costa e tem casa construidas no Rio.

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