"TEMPOS MODERNOS"

Publicado na Folha da Noite, terça-feira, 28 de janeiro de 1936

Neste texto foi mantida a grafia original
O filme gigantesco de Charles Chaplin

A prodigalidade com que o grande actor organiza as suas "mise-en-scene" - Uma fabrica formidavel com um gigantesco motor; uma penitenciaria, um hospital, tudo improvisado com requintes de perfeição - 400 "extras" - Gastos superiores a 120 mil dollares

A NOVA YORK, janeiro - Via aérea - "Tempos modernos", o filme consagrado este mez pelo publico desta metropole, vale como exemplo ideal da super-prodigalidade com que o imortal Charles Chaplin confecciona seus celluloides. Só com a construção do scenario, gastou Chaplin 70 mil dollares, de sorte a reproduzir com perfeição de detalhes o interior de colossal usina de aço. A "fabrica" foi erguida dentro de enorme studio-galpão, num lote de terreno de cinco acres, que o genial actor possue na esquina das ruas - La Brea e Wine, em pleno coração de Hollywood. A peça mais cara, pesadelo de technico desenhada pelo proprio Chaplin, foi o gigantesco motor, de 12 metros por sete com 8 de altura, todo em madeira mas pintado com a côr cinzenta do aço. Dá a impressão de formidavel rotativa de imprensa, excepto no que se refere á profusão de engrenagens em rodas denteadas. A abundacia de rodas denteadas é mesmo de entontecer. Uma são devéras grandes, com metro e meio de diametro outras comicamente compridas, com diametro de 30 centimetros e um metro de espessura. Tudo isso de páo. Enquanto os cameramen trabalhavam de um lado desse tremendo motor, do outro lado uma equipe de trabalhadores suava a pôr o exercito de rodinhas e rodonas em movimento, com o acompanhamento de pistões a entrar e sahir dos embolos. Durante a filmagem era de ver Carlitos a se agitar por cima e aos flancos do mostro, de chave ingleza na mão, enquanto que Chester Conklin tanto se mexeu a acompanhal-o que um bello dia metteu a cabeça numa engrenagem, sendo salvo da "guilhotina" por ter soado justamente naquelle momento a hora do lunch, interrompendo a actividade da complicada "machina". Nesse dia Conklin devorou o lunch do proprio Carlitos. Nas paredes do studio, flanqueando o gigante de "aço, foram imbutidos em baixo relevo monstros auxiliares , como fossem caldeiras de 12 metros de altura. Em outro estudio-galpão foi armado o salão da refeição da "usina", com dimensões sufficientes para accomodar 400 actores "extras", encarregados de fazer de massa obrera. Sempre que foi necessario filmar o exterior da "fabrica", os cameramen valeram-se do enorme edificio de Los Angeles Gas and Electric Cooporation, que occupa toda uma quadra naquella populosa cidade. Uma aréa nada menor de cinco acres, foi alugada no cáes de Terminal Island, onde amarram na bahia de Los Angeles, os barcos de pesca, afim de que um exercito de mil "extras" pudesse jogar á vontade as amotinadas scenas de gréves e disturbios. Nessa mesma área de beira-porto gastou Chaplin 55 mil dollares, construindo um scenario de armazem, salões de dansa, residencias e ruas com signaleiros para o trafico. Dentre a variedade de outros scenarios especialmente levantados para o filme, destacam-se um interior de pentenciaria, desde a serie de cubiculos com grades de madeira até o escriptorio do director do presidio, e um interior de hospital. Tanto a penitenciaria como o hospital foram construídos no lote de terreno de Chaplin, no canto das ruas La Brea e Vine, em Hollywood.


© Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.