WHITBY FOI PRIMEIRA A RECEBER O DRÁCULA


Publicado na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 1992

Neste texto foi mantida a grafia original

O Cidade inglesa ainda alimenta mito do vampiro

Silvio Cioffi
Editor de Turismo

Na última sexta-feira 13, em 13 de novembro, o diretor Francis Ford Coppola ressuscitou ninguém menos do que o conde Drácula, o vampiro gótico de poderes sobrenaturais que, de acordo com o romance de Bram Stoker —"Drácula" (1897)— veio da Transilvânia e se refugiou em Whitby, uma cidade portuária inglesa no mar do Norte. Só neste dia de exibição nos EUA, o filme "Bram Stoker's Drácula" faturou US$ 11,2 milhões, um recorde para a indústria cinematográfica.
Mas se nos EUA o Drácula do irlandês Bram (Abraham) Stoker andava hibernando, em Whitby, a 420 km de Londres e a 70 km de York, ele nunca deixou de fazer suas aparições noturnas nas ruelas únidas dessa cidadezinha construída sobre penhascos e dividida pelo rio Esk, na região de Yorkshire do Norte.
Stoker, que vendeu cerca de 1 milhão de exemplares no ano em que o livro foi lançado, ambientou em Whitby somente três dos 27 capítulos de seu romance de terror. Mas ninguém duvida que era lá, e não na Transilvânia, onde aliás o autor nunca esteve, que Drácula se sentia mais à vontade para fazer suas vítimas.
Tudo começou em meio a muita tempestade, numa noite que o romance, escrito em forma de notícias de jornal e cartas, diz ser a de 8 de agosto: no exato momento em que um cargueiro russo que estava à deriva tocou o porto, um imenso cão preto pulou para o píer, como que empurrado pela batida do barco. De lá foi direto para um promontório, onde estão a velha igreja de St. Mary e um cemitério.
Um passeio atrás das pegadas de Drácula em Whitby pode começar por aí, com o cuidado de se colocar o pé direito no primeiro dos 199 degraus que separam a rua Henrietta da abadia e da igreja de St. Mary, no alto do morro.
De lá mesmo sem o vento e a chuva fina que constantemente se abatem sobre Whitby, tem-se uma visão fantasmagórica das casinhas que se amontoam nas margens do rio Esk e do cinzento mar do Norte, onde desde o século 12 funciona um porto importante.
Os outros tantos lugares que, em Whitby, fazem referência a Drácula, como a estação de trem do século 19 usada pelo vampiro em sua viagem para Londres e o memorial Bram Stoker, numa ponte sobre o rio, estão mencionados num folheto que é vendido em todos os centros de informação turística ("Whitby/Drácula Trail" 8 páginas, 30 centavos de libra).
Mas os rastros deste conde meio-cão e meio-morcego são ainda mais impressionantes para quem participa do "Drácula Experience", um show cheio de efeitos especiais aprovado pela Drácula Society, organização sediada em Londres para cultuar o mito do vampiro.
Mas Whitby é também uma cidade de mitos reais. Foi lá que Caedmon, considerado o primeiro poeta da língua inglesa, morreu, no ano 680. James Cook, o explorador mitológico que descobriu para a coroa britânica a Austrália, Nova Zelândia e Havaí, também partiu desse porto para suas viagens ao redor do mundo, entre 1769 e 1775.
Há quem diga que referências literárias e histórias não enchem barriga. Para esses, Whitby, uma cidade que vice da pesca e que já foi importante porto baleeiro, em um endereço único, o Magpei Cafe. Trata-se de um restaurante simples e antológico, na margem esquerda do Esk (rua do Píer, 14). Localizado bem na frente de um atrancadouro, numa casa bastante antiga, o Magpie Cafe é dirigido por mais de 40 anos pela familia Mackenzie e serve por umas poucas libras deliciosas saladas de caranguejo e lagosta, além de pratos principais com haddock, bacalhau, arenque ou linguado que constam sempre no cardápio.


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