A capital do cinema, Los Angeles, está querendo tornar-se, ao que
parece, um caso de policia. A preocupação de dar ás fitas o maior
realismo possivel tem levado alguns productores americanos a servir-se,
para desenvolvimento dos enredos em que entram "gangsters", de "gangsters"
de verdade. Esses pápeis eram até hoje representados pelos "extras",
mas os proprios salteadores sugeriram aos fabricantes de pelliculas
a conveniencia de substituir o falso pelo verdadeiro. Conta-se,
em telegramma de 28 do corrente, da "United Press", que o procurador
districtal de Los Angeles, Buron Fitts, chefiando um grupo de detectives
e policiaes, penetrou ha dias num "studio" e interrompeu a "filmagem"
de uma historia de bandidos, porque entre os "extras" se encontrava,
calmamente, um tal Frankie Fischer, "gangster" authentico!... Se
a moda pega não sabemos como irá parar o mundo. Dado, todavia, o
extraordinario fascinio que o cinema exerce sobre os espiritos,
e considerando a attração que a vida de Hollywood offerece aos que
se dedicam de corpo e alma ao cinema, é bem possivel que Los Angeles
consiga fazer aquillo que hoje não o conseguiu a policia americana,
apezar do grau de perfeição a que attingiu. E' possivel, com effeito,
que o cinema acabe matando o banditismo! Como assim? Muito simplesmente.
Seduzidos pelo prazer de figurar numa fita e pela honra de ser depois
admirado por milhões e milhões de espectadores, em todos os recantos
do universo o "gangster" profissional não se limitará a trabalhar
em um ou outro filme. Ha de querer repetir a façanha. Assignará
contratos com os productores. Estabelecer-se-á em Hollywood. Fará
tres, quatro, cinco, vinte "filmes" de "gangster". E depois ...
e depois era uma vez o terror da policia: "gangster" de verdade,
que entrou para o theatro afim de emprestar realidade ás fitas,
transformar-se-á num "gangster" de mentira, um "gangster" de cinema,
desses que fazem a alegria da meninada nas "matinées" de domingo!...
Não lhes parece que seria uma bôa experiencia a tentar?
|