O CINEMOBILE, NOVA FORMA DE USAR O CINEMA

Publicado na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 1974

Neste texto foi mantida a grafia original

Há o cinemascope, o cinerama, o cinevisão, o cinespacial,, o processos de utilização da imagem obtida por uma camara cinematográfica. Agora, surge uma nova maneira de uso para um filme: o Cinemobile, que será lançado às 21 horas, hoje, durante um coquetel na sede do GRIFE - Grupo de Realizadores Independentes de Filmes Experimentais (rua Estados Unidos, 2240) e apresentado por seus dois criadores, Abrão Berman, realizador de filmes em Super 8 milimetros, e Claudio Tozzi, artista plástico.
Berman e Tozzi vão mostrar todas as formas de utilização dos Cinemobiles no happening que organizaram e durante o qual num ambiente de galeria de arte, os convidados não encontrarão óleos ou esculturas expostas. As paredes do GRIFE servirão de telas para uma exibição simultanea e interrupta dos filmes curtos em Super 8, que constituem os Cinemobiles, e que já estão prontos para venda aos interessados. Eles podem ser projetados nas paredes, no chão, no teto, em muros, nas próprias pessoas e, enfim, em qualquer lugar, dependendo da imaginação do organizador de uma festa familiar. Assim, o Cinemobile passa a ser um novo substituto para os atrativos domesticos tradicionais, a para vernissagens, exposições, feiras ou qualquer outro tipo de promoção.
Abrão Berman, diretor do GRIFE, não sabe definir exatamente o que é o Cinemobile. Mas diz que é, basicamente, um novo tipo de pesquisas no campo das artes plasticas.
"É uma reunião das formulas da pintura, da gravura, da escultura, da fotografia num objeto só. Sua novidade é trazer nesse conjunto, também o movimento e o som, usando como base a pelicula Super 8, comprovando mais uma vez as inumeras possibilidades dessa bitola".
A idéia de lançar o Cinemobile nasceu, segundo Berman, em razão do exito e da repercussão da mostra Expo-Projeção, organizada no GRIFE, em junho do ano passado por Aracy Amaral. Ficou comprovado, então, que grande parte dos artistas plásticos estava incursionando na faixa da obra audiovisual com slides ou filmes Super 8, com resultados totalmente ineditos.
"A ideia surgiu, inclusive, pelo interesse diante do filme Super 8. As lojas vendem, hoje, grande numero de projetores sonoros e a procura de obras originais, por parte desses compradores, é intensa. Eles querem filmes que possam ser exibidos para valorizar uma reunião familiar ou simplesmente complementar uma decoração", afirma Berman.
Os Cinemobiles possuem uma série de usos que seus criadores explicam no folheto de apresentação, sugerindo a projeção com o entreterimento, decoração, no forro, nas paredes sobre as pessoas reunidas, no chão, com sons fantasticos ou musicais serenas. O uso depende da imaginação. Cada filmes possui um tema diferente.
Hoje à noite, na vernissage que prepararam, Tozzi e Berman vão exibir 10 Cinemobiles diferentes um do outro: quatro são de Claudio Tozzi, intitulados "Grama", "Fotograma", "A Morte da Galinha" e "Seio". Os outros, de Abrão Berman, são "Colores", "São Paulo", "Caretas", "Marilyn" (sobre Marilyn Monroe), "Cinemania 50" e "Calendário". Os filmes têm duração média de 5 minutos, mas podem ter seu tempo aumentado: basta que o proprietário de um Cinemobile o projete em velocidade de 18 fotogramas por segundo, ou, uma vez terminada a exibição, o projete de trás para a frente.
"O preço de lançamento dos Cinemobiles - diz Abrão Berman - é de 600 cruzeiros. Podem ser adquiridos diretamente no GRIFE ou através de financiamento bancário. O interesse pelo Cinemobile, por enquanto, é mistério e curiosidade. Ninguém ainda viu nenhum em funcionamento e estamos deixando que as pessoas nos digam, hoje, quais são possibilidades".
Berman e Tozzi, entretanto, cofiam no exito da idéia. Vão exibir os seus Cinemobiles numa exposição de arte na Antuerpia, Belgica, no fim do mês. E acreditam que o comprador ideal dos Cinemobiles serão as mesmas pessoas que estão habituadas a adquirir quadros, gravuras, filmes ou discos.

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