A capoeira
chegou ao Brasil trazida pelos escravos africanos e foi utilizada,
segundo a lenda, por esses escravos que não possuiam armas,
para se defenderem dos castigos impostos pelos feitores portugueses.
Os escravos armavam suas rodas nas senzalas e, na aproximação
dos feitores, transformavam as lutas em espécie de danças.
Alguns folcloristas apontam daí a utilização
do berimbau, dos atabaques e de outros instrumentos musicais nos
combates.
Há também quem atribui as origens da capoeira apenas
aos escravos brasileiros. O falecido "Mestre Bimba", um
dos maiores capoeiristas do Brasil também defendia essa tese,
que surgiu de uma visita que fez a Africa, em 1967, para participar
do Festival de Artes Negras, em Dakar, no Senegal. Ali não
viu vestígios da capoeira e voltou ao Brasil afirmando que
ela realmente surgiu na Bahia e em Alagoas, com os filhos de escravos.
Até hoje a capoeira respeita a tradição. No
início do século sua prática era proibida pelos
governantes e reprimida pela polícia. Devido a isso, os grandes
capoeiras eram conhecidos por apelidos que eram usados nas rodas,
para evitar possível identificação posterior
por parte das autoridades. Isso existe, até hoje, não
a preocupação com identificações, mas
sim a tradição. Os capoeiristas, quando participam
do seu primeiro jogo são rebatizados e passam a ser conhecidos
por esses apelidos. Como Mestre Bimba, Mestre Pastinha, Mestre Onça,
Mestre Vermelho.
A capoeira, até 1930, aproximadamente, era praticada por
marginais e pessoas de classe inferior. Foi quando Mestre Bimba
começou a ensiná-la para universitários, sendo
introduzida na sociedade baiana. Em outros Estados, ela também
era praticada e começou a despertar interesse como esporte.
Há vários tipos de capoeira e os mais importantes
são a Angola e a Regional. Os angoleiros jogam mais no chão,
com golpes rasteiros, enquanto que os regionalistas jogam em pé,
com golpes mais vigorosos.
A roda é o local onde se joga capoeira. Os participantes
ficam sentados num círculo, esperando o desafio. Ao som de
berimbaus, atabaques, pandeiros e agogôs cantam chulas - quadras
compostas - e muitas vezes cantam de improviso sobre os participantes.
Na capoeira existem golpes classificados como mortais. Nos jogos,
os capoeiristas não chegam a atingir o adversário.
No campeonato eles contam pontos baseados nos seus efeitos imaginários.
Os mortais desclassificam o adversário, enquanto os outros
contam ponto, até um limite que aponta o vencedor.
Um trabalho de Edson Carneiro para a Campanha de Defesa do Folclore
Brasileiro, do MEC, conta uma breve história da capoeira.
Nesse trabalho, Edison aponta a capoeira como um jogo de destreza,
que teve a sua origem em Angola. Uma luta muito valiosa na defesa
de fato ou de direito da liberdade do negro. Mas a repressão
policial e as novas condições sociais desde o início
do século, a transformaram num jogo, num combate singular,
onde se demonstrava a capacidade de ataque e defesa, sem efetivamente
atingir o adversário. O nome do jogo vem do mato, para onde
os escravos fugiam ("Ele foi para a capoeira").
No tempo do império, a capoeira também foi perseguida,
no Rio de Janeiro. Na época os capoeiristas eram verdadeiros
marginais que preocupam os vice-reis. Esses marginais acabavam com
as festas e colocavam a polícia para correr. Tudo isso empregando
apenas a agilidade muscular, e, às vezes, facas e porretes.
Houve desterro e castigos corporais para os capoeiristas, como aconteceu
com Juca Reis e Manduca da Praia, enviados para a Ilha de Fernando
de Noronha. Mesmo assim, os jogos continuaram a ser praticados no
Rio. Até da Guerra do Paraguai participaram os capoeiras,
com muitos baianos incorporados a força dos "Voluntários
da Pátria".
No começo do século XX, com a transformação
do jogo, surgiram inúmeros estilos de capoeira, como o de
Angola, manhoso, falso e calculado, quase coreográfico, o
de São Bento e o Regional, este com golpes rápidos,
contínuos e violentos.
Nos combates, os capoeiristas ficam em torno da roda. Entram no
jogo fazendo uma volta completa na roda, girando ao som das chulas.
O que está na frente inicia o jogo com o primeiro golpe.
As mãos são pouco usadas, servindo-se delas os capoeiristas
apenas para conseguir mais apoio, enquanto que os golpes, na sua
maioria, são dados com os pés. De início, apenas
para experimentar a guarda do adversário.
Os golpes podem ser desequilibrantes, como a rasteira, a banda de
corte, tesoura, banda trançada e outros. Também podem
ser traumatizantes como o martelo, a meia lua do compasso ou rabo
de arraia, armada, queixada, esporão, cabeçada e outros,
alguns deles mortais quando bem aplicados.
O combate parte da ginga, onde o capoeirista mostra as suas qualidades.
Flexiona o corpo, apoia as mãos no chão, faz uma circunferência
no ar, com os pés e volta à posição
ereta, dois metros depois, dando o golpe chamado Aú, sempre
ao som dos berimbaus e atabaques.
"A capoeira não existe sem o acompanhamento dos berimbaus.
Ele é que dita o ritmo de combate, dá inspiração
para a criatividade. Se tirarem o berimbau, a capoeira sai com ele",
diz Augusto Lopes, Mestre Angó, do Grupo Senzala, um dos
melhores de capoeira no Rio.
"Sem berimbau não há capoeira. Vão lançar
a tese do fim do berimbau no jogo, mas eu não a aceito. E
acho que comigo estão os grandes capoeiristas, como Mestre
Onça, de São Paulo, Mestre Ezequiel, da Bahia e muitos
outros. O berimbau é parte do jogo", afirma.
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