COSTUMES E MANIAS DOS ESCRITORES FAMOSOS


Publicado na Folha da Manhã - 13 de janeiro de 1952

Neste texto foi mantida a grafia original

Como escreviam Alexandre Dumas, Victor Hugo, Dickens, Verlaine, Hoffman, Balzac e outros - Quartos pequeninos, casinholas e escritorios suntuosos

Os escritores mais modernos, em geral, preferem escrever a maquina os seus originais e depois corrigi-los a mão, entretanto, há fatos realmente curiosos sobre os metodos de trabalho de alguns intelectuais antigos, dos mais famosos. A personalidade de cada um distinguia-se ainda pelo seu metodo caracteristico de escrever.
Os horarios para tudo, o relogio, as mil e uma obrigações impelem o escritor moderno a dedicar tambem um numero exato de horas para um trabalho e ele é feito, geralmente, num escritorio, com o autor sentado à mesa, como um datilografo qualquer.
Entretanto a historia nos consta fatos bastante interessantes sobre alguns famosos escritores.
Alexandre Dumas, por exemplo, uma vez começado um livro, trabalhava dia após dia, noite após noite, sem cessar, até ver concluido o trabalho. Tambem não admitia interrupção, fosse lá de quem fosse e para estar certo disso o metodo mais eficiente que encontrou foi entregar os sapatos e a roupa ao criado...
Alguns tinham horas mais ou menos regulares para o trabalho, enquanto outros só trabalhavam quando tinham vontade. Edgard Wallace preferia fazê-lo à noite. Nunca escreveu obra alguma durante o dia.
Dizem que Verlaine, o grande poeta francês, só podia trabalhar sob a influencia de drogas e Hoffman, o celebre autor dos "Contos" sob a influencia de uma beberagem de ervas.
Balzac, abstemio total, não dispensava entretanto o café. Ingeria dezenas e dezenas de xicaras enquanto escrevia. Bernard Shaw produziu todas as suas obras com o metodo que ele chamava "de Pitman" mas que não era, porem, a taquigrafia comum. Afirmava que o sistema lhe poupava metade do trabalho, alem de economizar tempo.
Edgard Wallace, por outro lado, preferia ditar ao aparelho mecanico; chegou a dizer mil e duzentas palavras em vinte minutos; sentava-se comodamente à mesa do escritorio, com o microfone nunca das mãos e uma xicara de chá na outra e ditava sem parar até concluir um capitulo ou mais.
O metodo de Victor Hugo, porem, foi dos mais extraordinarios: trabalhava de pé, por vezes até catorze horas seguidas e foi assim que produziu "Os Miseraveis.".
Charles Dickens gostava de trabalhar num escritorio suntuoso, ricamente ornamentado; esse metodo era justamente o contrario de Thackeray que adorava o quarto pequenino e intimo que mandou construir no fundo do quintal de sua casa. Por falar em quarto separado, Bernard Shaw tambem preferia ficar longe de todos. Fez construir, para isso, uma casinhola de madeira no jardim de sua residencia, em Ayot St. Lawrence. Winston Churchill preferiu a tecnica moderna dos chefes de escritorio: primeiro, ditado do texto a uma secretaria e em seguida correção com caneta tinteiro de tinta vermelha; daí para o datilografo, que vai colecionando as folhas. Terminando o trabalho, revisão com tinta vermelha, outra vez, antes de enviar o livro a impressão.
Wordsworth, o poeta, fazia a maior parte dos seus trabalhos ao ar livre e os criados já sabiam como informar os visitantes: "O patrão trabalha fora" e conduzia-os para a biblioteca onde tinham que esperar até que ele chegasse. H. E. Bates trabalhava sempre sentado num velho sofá de sua casa de campo, em Kent.
Enid Blyton, escritora de numerosos livros infantis, tambem preferia o jardim, com maquina portatil.
A tendencia atual, entretanto, tem dois ramos principais: o proprio escritor bater a maquina os originais ou então escrevê-los a mão para entregá-los depois à datilografa, como Somerset Maugham. No primeiro caso está maioria como Aldous Huxley e J.B. Priestleu. Desde que começou a escrever, em 1914. J. B. Priestley empregou as mais diferentes marcas de maquinas em seus trabalhos. Chegou até a usar maquinas silenciosas mas não lhe agradaram. Decidiu-se então a trabalhar com "um ruido ao longe" de maquina e para isso nada melhor do que as mechas de algodão nos ouvidos.
Alguns, dos que escreviam a mão, tinham letras tão grandes que uma pagina não comportava mais do que seis ou sete dezenas de palavras, enquanto outros tinham letras tão minusculas que acomodavam centenas de palavras numa só pagina.
Mas, na questão de caligrafia não deve existir ninguem pior do que H.G. Wells; dizem que apenas duas pessoas podem "decifrar" o que ele escreve e felizmente uma delas é o secretario.

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