O corpo de Clarice Lispector ficou no cemitério Comunal
Israelita
Numa
cerimonia simples, sem discursos, na qual a família chegou
até a dispensar a presença do grão-rabino Henrique
Lemle, substituido pelo cantor-mór Joseph Aronsohn, a escritora
e jornalista Clarice Lispector - ela completaria anteontem 53 anos
de idade - foi sepultada ontem no Cemitério Comunal Israelita,
no Caju. Cerca de 200 pessoas, entre parentes e amigos, acompanharam
o corpo - velado desde sexta-feira no oratório do Cemitério
- até o túmulo 123, da fila G, onde ao lado, repousa
o corpo do deputado Francisco Silbert Sobrinho.
Antes de ser enterrado o corpo da escritora, de acordo com o ritual
judaico, foi purificado, sendo lavado, interna e externamente, por
quatro mulheres da Irmandade sagrada "Havra Kadisha".
No oratório, o caixão, fechado, coberto apenas por
um manto negro com uma Estrela de David bordada em prateado foi
visitado pelos escritores Rubem Braga, Fernando Sabino, Nélida
Piñon e José Rubem Fonseca e pelo embaixador Vasco
Leitão da Cunha. Nélida Piñon e José
Rubem Fonseca acompanharam Clarice nos seu últimos momentos
no Hospital da Lagoa, onde a escritora morreu vitimada por um câncer.
Ainda no oratório, precisamente às 11 horas, o substituto
do rabino deu início à liturgia lendo, em aramaico,
o Salmo 91, do Artigo Testamento, seguido de cânticos em hebraico
e de uma leitura, agora em português, de alguns Salmos. Ali,
antes do caixão ser conduzido à sepultura, Joseph
Aronsohn ainda fez a despedida do corpo, rezando o "El Molê
Rachamim". De lá o caixão seguiu até o
túmulo 123, onde o filho de Clarice, Paulo Gurgel Valente
(o filho Pedro não compareceu por se encontrar com o pai,
o embaixador Mauri Gurgel Valente, em Montevidéu) chorou,
sendo constantemente amparado pelas tias Elvira e Tânia, também
escritoras.
A beira do túmulo, Joseph Aronsohn, tendo ao lado Pedro Gurgel
Valente, rezou o "Kadish" - oração fúnebre
-, enquanto a última homenagem a Clarice Lispector era prestada
com o lançamento de três pás de terra sobre
o caixão, indicando que "da terra viestes, à
terra voltarás". A cerimônia foi encerrada com
o substituto do rabino pedindo aos presentes que se voltassem para
a direita, em direção ao Oriente, indicando o sentido
de Jerusalém.
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