CASAMENTOS DE PRINCIPES E REIS
"As
princezas reaes não são mulheres como as outras. Ellas
devem amar apenas a sua Patria, como as religiosas amam apenas o
seu Deus" - Casamentos morganaticos e casamentos forçados
- Episodios curiosos
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Publicado
na Folha da Manhã, domingo 10 de Janeiro de 1937
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Quando a princeza Marina da Grecia se casou, ha menos de dez annos,
com o duque de Kent, esse acontecimento suscitou, não só
na Inglaterra, mas no mundo inteiro, curiosidade indisfarçavel
que ninguem, em nossos tempos, julgaria possivel. Esse casamento,
que determinou a movimentação de algumas centenas de
curiosos, foi, em ultima analyse, um excellente negocio para o imperio
britannico. É muito possivel que as considerações
de ordem material não foram estranhas á publicidade
que se deu aos preparativos sumptuosos da ceremonia. Evidentemente,
não se poderia dizer que esse casamento foi a causa única
do renascimento da confiança, mas é innegavel que os
esforços dos que, nesse momento, tentavam reanimar o mercado,
encontraram nas nupcias reaes um optimo elemento para alcançarem
seus objetivos.
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As
nupcias de Alberto I |
A união de Alberto I, da Belgica, com aquella que mais tarde
seria a rainha Elisabeth determinou, no principio deste seculo, uma
aura de optimismo conmovedor, tanto o mais que a minuciosa descripção
do banquete de nucias, feita pelo jornalista Van Zyppe que delle participou.
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Casamento
e morte da rainha Astrid |
Quando
uma princeza ou uma rainha é bonita, o romantismo das multidões
põe-lhe sobre a fronte uma aureola. Foi o que succedeu com
a princesa Astrid, quando viva e, principalmente depois de sua morte
em circunstancias tragicas. Ella correspondia, em verdade, exatamente
á imagem que os povos costuman crear para as rainhas dos seus
sonhos.
- Eu não me casarei nunca senão por amor! dissera ella,
varias vezes. Esquecia-se, sem dúvida que Leopoldo II, por
ocasião do matrimonio de sua irmã, a princeza Carlota,
com Maximiliano da Austria, tinha decidido que as princezas de sangue
real não deviam ser realizados por conveniencias pessoaes,
razões sentimentaes ou romantismos anachronicos, mas unicamente
por exigencias do interesse nacional. A proposito de certos noivados
principescos que lhe pareciam contrarios ao interesse publico, o velho
rei não fez concessões nem excepções,
mantendo-se inflexivel no seu ponto de vista. E exclamava:
- As princezas reaes não são como as outras mulheres.
Ellas devem amar apenas sua pátria, como as religiosas amam
seu Deus.
Ora, uma noite de inverno, durante um baile, a princeza Astrid, viu
pela primeira vez o principe Leopoldo que, então não
contava mais de vinte e cinco annos de idade. E, quando a festa terminou,
ambos se separaram trocando um sorriso que continha toda a felicidade
do futuro - até a estupida catastrofe que todos conhecemos.
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A
força do principio monarchico |
O casamento
tem uma importancia primordial nas familias reaes. É necessario
dar herdeiros ao paiz assegurando assim a continuação
da dynastia e do proprio regime.
É uma das forças do principio monarchico destruir logo
no inicio toda inquietude em torno do problema da sucessão.
O nascimento do primeiro principe da Inglaterra, na geração
actual - o filho da duqueza de Kent foi tido, a esse respeito, como
uma verdadeira felicidade por todo o povo Inglez. O seu sobrinho era,
pois, o herdeiro do throno.
As uniões principescas são sempre, aos olhos da multidão,
acontecimentos felizes. O casamento do principe real da Dinamarca
com a encantadora princeza Ingrid da Suecia, e do principe herdeiro
da Suecia com a princeza Sibylla de Coburg foram festejados pela população
dos dois paizes, ainda que elles, nesse momento, estivessem sob o
governo de gabinetes socialistas. A politica não tem nada que
ver com esses sentimentos.
E é preciso notar que os herdeiros dos thronos da Noruega,
da Suecia e da Italia só tiveram filhas, como tambem o rei
Boris da Bulgaria e a rainha da Hollanda. Quem se casará com
a princeza Juliana dos Paizes Baixos? É uma pergunta que se
reveste de excepcional importancia e que constitue, hoje um dos mais
sérios problemas da Hollanda.
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Felicidade
coisa rara |
O papel
de principe consorte, tão ingrato em muitos sentidos, tem sido
desempenhados ás vezes, com muita felicidade. O principe Alberto,
marido da rainha Victoria da Inglaterra, e o principe Felix de Bourbon
que se casou com a grã duqueza de Luxemburgo, são exemplos
comprobantes. É verdade que a felicidade não é
sempre o apanagio dos casamentos reaes. Mas, ás vezes, isso
acontece, embora se costume dizer que esses casos são excepções
que existem apenas para confirmar a regra geral. Sabe-se, por exemplo,
que a rainha Victoria da Inglaterra não cessou nunca de lamentar
a perda de seu marido. E que Nicolau II, da Russia, e sua esposa,
amaram-se loucamente e longamente. Este foi, tambem, o caso da rainha
Mary e do rei Jorge V da Inglaterra.
Os divorcios, porém, não têm sido raros. O rei
Carol da Rumania, casára-se com a irmã de George II
da Grecia e este com a irmã do rei Carol. Casamento em dupliciata
... e divorcio em duplicata.
O gran-duque de Hesse e sua esposa, "née" - Coburg,
irmã de Maria da Rumania, tambem se divorciaram. Ella casou-se,
depois com o principe Cyrillo da Russia, actual chefe da casa das
Romanoff.
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Casamentos
sem amor |
Como se
tem visto, os casamentos por necessidade têm sido em muito maior
numero, entre as familias reaes, que os casamentos por amor. Quando
Fernando da Bulgaria desposou Eleonora de Reuss, foi apenas para dar
uma mãe aos seus filhos, duplamente orphans pela morte de Maria
Luiza de Bourbon-Parme, sua mãe, e da avó Clementina
d'Orleans. Algumas difficuldades de ordem religiosa, logo removidas
pelo soberano, quasi chegaram a impedir o enlace. M. Paleologue, então
ministro da França na Bulgaria, dá-nos, a esse respeito,
um relato curiosissimo:
Logo após a confirmação orthodoxa do principe
Boris, o rei Fernando fôra excommungado pelo papa. Foi-lhe permittido,
portanto, contratar um casamento catholico com uma protestante, com
a condição de que o consorcio não se faria sob
o ritual protestante. Os Reuss, familia de sua segunda mulher, eram
fevorosamnete protestantes, enquanto os Parma, familia de sua primeira
esposa, eram ardentes catholicos. Não era facil, pois, conciliar
as exigencias dos Reuss com as do Vaticano, o pastor protestante de
Gera, residencia dos futuros sogros, recusava-se a realizar o casamento
desde que Fernando se recusava obstinadamente a pronunciar o "sim"
sacramental. Mas, finalmente, depois de longas e difficieis negociações,
chegou-se a uma solução. O pastor não diria:
- Eu vos pergunto, principe Fernando....
E depois:
- Eu vos pergunto, princeza Eleonora...
Mas diria simplesmente:
- Eu vos pergunto, principe Fernando e Princeza Eleonora...
A princeza respondeu. O principe ficou calado.
E todo o mundo ficou satisfeito.
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A
velha princeza e o joven garçon |
Os casamentos
morganaticos excitaram, em todos os tempos, a curiosidade publica.
Assim, pretendeu-se que o casamento de Guilherme II da Allemanha com
a princeza Herminia de Reuss, fôra um casamento morganatico.
É um engano. Os Reuss foram principes reinantes. É verdade
que elles reinaram apenas sobre alguns poucos milhares de subditos.
Mas, incontestavelmente, eram principes reinantes. (Essa curiosa familia
se dividia em um ramo "ainé" e um ramo "cadet",
independentes uma da outra, mas cujos principes, segundo uma tradição
secular, deviam todos se chamar Henrique. Quando um dos ramos chegou
ao seu Henrique ..... LXXXXX (99.0), decidiu que o seguinte voltaria
ao numero I. Vendo isso, o outro ramo da familia dicidiu que, com
elles um novo Henrique I seria nomeado no começo de cada seculo).
Se o casamento de Guilherme II não é morganatico, não
se póde negar que casamento desse genero já se realizaram
entre os Hoenzollern. O filho mais velho do Kromprinz casou-se com
uma senhorita de Salviati, em Bonn, seguindo o exemplo de sua avó,
a princeza Victoria, irmã do Kaizer, que, alguns annos antes,
já bastante velha, se casára com um joven e synpathico
russo, Alexandre Zoubkoff, que delapidou estrondosamente a fortuna
da esposa, voltando depois a ser garçon de café para,
mezes após morrer e ser atirado á valla commum do cemiterio
de Luxemburgo!
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A
joven poetisa |
A vida
matrimonial dos principes da Rumania é, certamente, a mais
fertil em episodios romanticos.
Em 1918, o rei actual, Carol II tinha se casado secretamente com mlle.
Lambrino, filha d'um general. Essa união foi dissolvida em
1920 e o principe casou-se, no anno seguinte, com a princeza Helena
da Grecia. Isso, sem falar nas suas aventuras com uma outra senhora
que quasi chegou a ser rainha, chegando mesmo a dissolver aquelle
segundo casamento.
O irmão do rei, o principe Nicolau, desposou por sua vez, uma
vaga senhorita Severano. O principe Fernando tambem não procurou
noivas de sangue azul; começou a nomorar Helena Vacaresco,
dama de companhia da rainha Carmen Sylva, tia do principe. A rainha,
que gostava da jovem poetisa, viu esse namoro com bons olhos mas ...
as razões de Estado interromperam o romance. Hoje, Helena Vacaresco
é delegada da Rumania na Liga das Nações e acaba
de publicar um livro de memorias em que relata esses episodios interessantes.
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Sangue
real |
Quando se suppõe que os casamentos morganaticos são
um signal de aviltamento da dignidade real, engana-se redondamente
( ).
É evidente que, se um casamento como o da princeza Marina da
Grecia com o duque de Kent suscitou tanto enthusiasmo na Inglaterra,
foi justamente porque ella era a primeira princeza de sangue real
puro que um principe inglez desposava, desde o começo do seculo.
Todavia, certos casamentos entre reis e plebéas dão
origem a ilustres descendencias. Pedro o Grande, ancestral dos Romanoff,
casou-se com uma simples camponeza. Sob o nome de Catharina I, ella
soube, após a morte do esposo, defender a pesada herança
que o rei lhe deixara. Nenhuma casa real contestou jamais a authenticidade
do sangue imperial misturado ao sangue plebeu da humilde Catharina
Skawronsky.
O famoso duque d'Anhalt casou-se com a filha de um pobre pharmaceutico
chamado Fohese e a sua descendencia foi das mais ilustres. O ultimo
principe de Monaco desposou a sobrinha do poeta Henri Heine e elevou-a
ao rol das princezas reinantes.
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Um
bello casamento morganatico |
O avô
do principe Alberto de Monaco, o principe Florestan I, sob cujo reinado
foram creados os jogos em Monte Carlo, casou-se com uma plebéa:
Carolina Gilbert.
Florestano I tinha sido actor durante a revolução franceza,
época em que o principado foi annexado á França.
Uma princeza de Monaco fôra guilhotinada como Maria Antonietta.
O filho do antigo principe reinante tornou-se escudeiro de Napoleão
e impediu a volta dos Bourbons e a intervenção de Talleyrand
para que a independencia de Monaco fosse restabelecida. O principe
de Monaco, voltando à sua terra em 1815, encontrou Napoleão
que voltava da ilha de Elba. Monaco, que soffrera muito com a revolução,
estava na maior miseria. Cantava-se, então:
"Son Monaco sopra um scoglio
Non semino e nom racolho
Ma pur mangiar vaglio"
Isto é :
"Sou Monaco sobre um rochedo
Não semeio e, pois, não colho
E preciso comer".
Mas, cincoenta annos depois, podia cantar:
"Não semeio, mas colho..."
Como? Artes de Carolina Gilbert que, de parceria com um famoso empresario
de jogos, M. Blanc, solvou Monaco da miseria. Se o rochedo não
produz os casinos produzem muito ...
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Vastos
imperios |
A proposito
citemos um outro pequenino paiz, o principado de Liechtenstein, minuscula
terra independente na fronteira austrosuissa. Seu soberano é
casado com uma senhorita Guttman, de Vienna. No inverno, o principe
reside em Vienna. No verão, nas suas terras na Sileria, capital
de LiechtensteinVaduz, cidadinha com 1.400 habitantes. Se se considera
que a superficie do principio de Monaco não vae além
de um kilometro quadrado Liechtenstein parece um vasto imperio com
seus 59 kilometros quadrados.
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Uma
paixão de Guilherme I |
Logo após
a guerra européa, o presidente Poincaré acariciou o
projecto de casar Alexandre da Jugoslavia com uma das filhas do duque
e Guise. Anteriormente, tinha constituido um problema para o herdeiro
servio o casamento com a princeza Olga, filha de Nicolau II. Estava-se
longe, nessa época, das considerações severas
sobre a igualdade dos casamentos reaes que tinham impedido o consorcio
de Guilherme I, imperador da Allemanha, com a princeza Radziwill que
elle amava sériamente. Uma vasta commissão de peritos
escolhidos entre os mais celebres jurisconsultos e professores de
Universidades, pronunciou-se contra o enlace. Apesar do passado hirtórico
dos principes Radziwill na Polonia, ficou decidido que elles não
eram dignos do rei da Prussia.
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Madame
Toselli, duqueza da Austria |
Uma outra
archiduqueza da Austria, Luiza de Toscana, deixou seu marido, o ultimo
rei de Saxe, para casar-se com um artista, o compositor Toselli.
O casamento de princezas com plebeus são, todavia, mais raros
que os de principes com plebéas. Ellas, porém, têm
sido felizes. Perdem definitivamente o titulo mas são largamente
compensadas pelo amor, como foi o caso de ex-duqueza austriaca e de
outra, a princeza Olga, irmã de czar Nicolau da Russia que
abandonou a Côrte para casar-se com um official da Guarda. Reritou-se,
depois, para viver numa aldeia da Dinamarca onde os camponezes a adoravam
e a consideravam como uma santa.
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- Este artigo foi publicado na imprensa européa um mez antes
do caso Eduardo VIII - Mistress Simpson. Vê-se que o autor foi
quem se anganou...
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