EM PRÓL DO CINEMA BRASILEIRO
Entrevista
com o "metteur-en-scéne" Léo Marten
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Publicado
na Folha da Manhã, quinta-feira, 8 de abril de 1937
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Prosseguindo no nosso inquerito, sobre o desenvolvimento do cinema
brasileiro, fomos hontem ouvir o notavel "metteur-en-scéne"
Léo Marten - que se encontra a alguns dias em São Paulo.
Léo Marten - que é checoslovaco - é uma figura
muito conhecida nos grandes centros do cinema europeu. Depois de trabalhar
no seu paiz, em estudios que são hoje dos mais bem apparelhados
da Europa. Léo Marten trabalhou em Berlim, em Vienna, em Paris,
viajando constantemente da França para a Checoslovaquia, tratando
dos "films" feitos em collaboração com artistas
fracezes e checos, "films" destinados aos dois paizes.
Um dos primeiros "films" apresentados por Léo Marten
em Paris - "La neige" - despertou enorme interesse e foi
elogiado pelos criticos mais dificeis.
"La neige - disse um delles no seu jornal - filme de idées,
de association de idées, est un véritable poéme
cinématographique".
Depois de "La neige", Léo Marten apresentou "La
jungle d'une grande ville"- successo que ultrapassou em Paris
o do famoso "Troika".
Léo Marten, ao que sabemos dirigiu Olga Tschechowa, trabalhou
com Léo Perret e foi "descobridor" de Lida Barova.
O que é interessantissimo notar é que o notavel "metteur-en-scéne",
apesar de estar ha pouco tempo no Brasil, fala perfeitamente a nossa
lingua e conhece a literatura brasileira e portugueza.
Conversando com Léo Marten - que vem a São Paulo para
dirigir as produções da Companhia Americana - a respeito
das possibilidades do cinema brasileiro, tivemos occasião de
ouvir as suas interessantes opiniões.
- Podemos considerar - disse-nos Léo Marten em excellente portuguez
- que o cinema é a arte representativa do nosso tempo - como
a pintura o foi de tempos idos. E sendo assim necessita do apoio dos
intellectuaes - que têm o dever de conduzir a opinião
publica e serem os primeiros a ajudar a cinematographia da sua patria.
Ajuda que não póde limitar-se a uma simples apreciação,
como a de quem vê uma festa da janella de sua casa - mas precisa
ser a de uma activa collaboração. Aliás elles
sabem disso melhor do que eu.
Outros grandes povos demonstram pelo cinema um superior interesse,
tão notavel no meio intelectual como social e financeiro.
O filho de Mussoline occupa-se de cinema. A esposa de Goering é
ainda hoje uma das artistas da Ufa. Mme. Levy Cohan - em Paris - prefere
trocar o conforto da sua existencia de multimilionaria pelo trabalho
do estudio.
E tantos, tantos outros exemplos!
É portanto natural que as pessoas cultas e que vivem num ambiente
civilizado, "raffiné" e brilhante contribuam tambem
para o progresso dessa arte, por que nem as maiores facilidades financeiras,
nem as maiores subvenções de um governo dadas aos "films"
nacionais de valor indiscutivel, que pódem rapidamente incentivar
a industrialização do cinema - bastariam para supprimir
o "handicap" que seria a falta de interesse dos intellectuaes
e dos artistas inteligentes, vindos de um meio culto.
Para se ter bons "films" brasileiros creio que é
necessario que estes representem qualquer coisa de profundamente caracteristico,
e não o desejo de imitar o cinema de outros paizes, a não
ser na excellencia das condições de trabalho.
O melhor "film" nacional não será, imagino,
aquelle em que vemos filmados os emblemas nacionaes e ouvimos tocar
o himno, mas sim aquelles que se destinem a influenciar o grande publico
- por exemplo, como o fizeram os escriptores brasileiros que mais
souberam compreender e explicar o caracter do povo a que pertencem".
E Léo Marten falou-nos ainda durante algum tempo dos autores
brasileiros que já teve occasião de ler, com um justo
conhecimento dos valores literarios da nossa terra.
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