ATLANTIDA, IMPERIO DA LUA, DOS ASTECAS OU DA ESPANHA?
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Publicado
na Folha da Noite, sexta-feira, 7 de junho de 1957
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Segundo uma velha tradição egípcia, teria existido,
há cerca de nove mil anos, uma velha ilha situada a oeste das
colunas de Hercules. Ilha de extensão maior que a Asia e a
Libia em conjunto, e cujos reis dominaram vastos territorios europeus
e africanos. Logo que esses reis tentaram conquistar o resto da Europa,
foram vencidos numa batalha pelo exercito grego, comandado por chefes
atenienses. Derrota que marcou o declinio e o aniquilamento do imperio.
"Houve terremotos e inundações. No espaço
de um espantoso dia e de uma espantosa noite, o solo engoliu toda
a armada helenica, e a ilha Atlantida pereceu entre as vagas. O mar,
nesta região, deixou de ser navegavel. O fundo baixo e lamacento,
consequencia do afundamento da ilha, impedia toda e qualquer exploração..."
Assim se referia Platão, no "Kritias", à Atlantida.
Essa, a unica e solitaria alusão à fantastica ilha,
que chegou da literatura da antiguidade, até aos nossos dias.
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Atlantida,
país dos astecas? |
Através dos tempos, a Atlantida foi sempre motivo de cogitações
e explorações fantasticas. Não faltaram, mais
recentemente, os escritores, jornalistas ou romancistas, e mesmo cineastas,
que chegaram a reconstituir, por um esforço de imaginação,
a arquitetura, o traçado e os materiais de construção
da capital da Atlantida; o vestuario e o modo de vida da população;
sua economia, suas classes sociais, sua religião, seus deuses
e demonios; seus imperadores; as orgias dos imperadores, a beleza
estranha da soberana a que alguns obrigaram a reinar sobre um reino
submerso.
Especulações, e nada mais.
Platão tem sido submetido a uma das mais ferozes analises criticas,
na tentativa de descobrir mais algum pormenor que conduza à
localização da misteriosa Atlantida.
Quiseram alguns geografos e historiadores ver na narrativa do filosofo
grego uma alusão poetica a um muito antigo conhecimento da
America. O fato não é tão extraordinario como
pode parecer à primeira vista, se considerarmos o arrojo marinheiro
dos fenicios, e se a esse arrojo juntarmos as recentes provas de travessia
do Atlantico por navegadores solitarios em frageis embarcações.
Mas há mais: o historiador Pausanias diria mais tarde (150
antes de Cristo) que existia em pleno oceano, longe, e a oeste, um
grupo de ilhas habitadas por homens de pele vermelha e cabelos como
crinas de cavalo. Narrativa extraordinaria se a considerarmos pura
imaginação. E mais tarde entre os anos 40 e 120 depois
de Cristo. Plutarco escrevia que existe a oeste, no oceano, na mesma
latitude da Grã-Bretanha, diversas ilhas atrás das quais
se estende um vasto continente. Essas ilhas - e eis o maravilhoso!
- caracterizam-se pelo fato de que o sol aí brilha ininterruptamente
durante trinta dias. A noite, o astro recolher-se-ia cerca de uma
hora, mas mesmo nessas alturas, a obscuridade não seria total,
porque o horizonte, a ocidente, ficava sempre iluminado por um crepusculo.
Plutarco descrevia, sem duvida, terras proximas do circulo polar.
E o continente a que se referia, só poderia ser a America.
Juntem-se essas narrativas ao fato de que, muito antes de Cristo,
já os Açores e a Madeira tinham sido explorados pelos
fenicios, e não acharemos tão improvavel o fato de que
o Novo Mundo fosse conhecido na antiguidade.
A Atlantida não seria então o continente que habitamos
hoje? E o poderoso reino a que se referia Platão não
seria o imperio dos astecas? Dois argumentos se levantaram contra
a ambiciosa hipotese. Como poderiam os atlantes ter ocupado parte
da Europa, e como poderiam ter sido derrotados pelo exercito grego?
E como poderia a Atlantida ter desaparecido no espaço de um
dia e uma noite, se fosse realmente o continente americano?
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Atlantida,
imperio da lua ou da Espanha? |
Há cerca de 60 anos afirmava-se que o nosso simpatico satelite,
a lua, há uns bons milhares de anos se destacara da Terra,
passando a gravitar em torno de nosso planeta. Quiseram então
alguns historiadores identificar a Lua com a Atlantida. Posteriormente
afirmou-se que a Lua exercera uma tal atração sobre
as massas oceanicas que um continente intermedio entre a Europa e
a America fora submergido. Qualquer das hipoteses foi destruida pelas
recentes investigações geologicas dos sedimentos oceanicos.
Se realmente houve a submersão de um continente, isso não
aconteceu há menos de 500 milhões de anos... E se realmente
um pedaço de territorio atlantico, em virtude de fenomenos
vulcanicos, se destacou de nosso planeta (hipotese rejeitada pelos
geologos, por absurda) isso teria acontecido no período terciario,
muito antes, portanto, do aparecimento do homem na face da Terra.
Limitaram então os historiadores suas incursões no fantastico,
e procuraram algo de mais plausivel.
"Tartessos", a opulenta, a depravada", chama a Biblia
a uma poderosa cidade, localizada algures entre Xeres de la Fronteira
e a desembocadura do Guadalquivir, no sul da Espanha. Pouco se sabe
acerca dessa cidade. Ignora-se a sua nacionalidade e a constituição
racial de seus habitantes. Ignora-se ainda a data da sua fundação
- provavelmente no final do terceiro milenio antes de Cristo - e a
data da sua destruição. Porque houve uma destruição
e certamente brutal, tragica, semelhante à catastrofe narrada
por Platão, porque até hoje não foi possivel
encontrar qualquer ruinas ou vestigios dessa cidade.
"Um dia virá em que a colera de Deus há de abater-se
sobre todos os navios de Tartessos", profetizara Isaias 700 anos
antes de Cristo.
E nem só a Biblia, mas textos de assirios e outros povos orientais
se referem à misteriosa cidade cujo poderio era consequencia
de suas fundições de bronze, essa sensacional amalgama
de 10% de estanho de 90% de cobre que revolucionou as civilizações
européias. Nas margens do rio Tinto, onde alguns historiadores
localizam Tartessos, as minas de estanho e de cobre encontram-se lado
a lado. Tartessos foi a grande produtora de bronze. Suas armas e braceletes
eram vendidos, procurados e invejados por toda a Europa. Teriam os
cartagineses destruido Tartessos, para eliminarem um concorrente que
prejudicava a venda do estanho que eles traziam da Grã-Bretanha?
Não se sabe. De qualquer forma, inclinam-se muitos historiadores
modernos a identificar Tartessos com a Atlantida, a ilha Atlantida.
Aliás, a propria Peninsula Iberica não é ela
uma "quase" ilha?
Até que a verdade se descubra, podem os leitores continuar
sonhando reinos submarinos e rainhas de estranha e languida beleza...
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