FAMILIAS LITERARIAS
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Publicado
na Folha de S.Paulo, quarta-feira, 6 de março de 1968
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Neste texto foi mantida a grafia original
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LONDRES, março - As irmãs Bronte formam talvez
a mais conhecida de todas as familias literarias britanicas, talvez
mesmo a mais conhecida do mundo. Isso decorre, contudo, em grande
parte, da natureza romantica de suas vidas, conforme relata a sra.
Gaskell na sua biografia de Charlotte. O caso das irmãs Bronte
ilustra o que parece ser um principio geral nas familias literarias
- a arte de escrever é transmitida "obliquamente",
ao invés de ser de uma geração para outra.
É dificil, senão impossivel, lembrarmos de um filho
que copiasse o genio do pai escritor ou mesmo dele se aproximasse.
Hartley Coleridge escreveu sonetos que foram apreciados, no seu tempo,
mais do que os do seu pai, mas quem os lê hoje em dia? É
significativo, a proposito, o fato de que Hartley não foi criado
na casa do pai. Samuel Taylor Coleridge abandonou a esposa e Hartley
foi criado por um amigo do pai, Robert Southey, escritor sem importancia
mas que conseguiu algum sucesso.
Já houve casos de pai e filho de igual fama, como atualmente
o de Evelyn Waugh e seu filho Auberdon. O mais notavel desses casos
é o de Bulwer Lytton e seu filho, o conde de Lytton, que escreveu
boa poesia sob o pseudonimo de Owen Meredith. Não é
o valor literario que os tornam notaveis, mas o fato de suas obras
serem um produto de vidas excepcionalmente ocupadas. Bulwer Lytton
foi politico e ministro de gabinete; seu filho foi vice-rei da Índia
e embaixador britanico em Paris.
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Pagou
pela educação do filho |
A sra. Frances Trollope, mãe de Anthony, escreveu mais de 100
livros, quase todos há muito caidos no esquecimento. Seu valor
real reside no fato de que sua renda serviu para pagar a educação
de Anthony, o que lhe proporcionou o material necessario para escrever
os romances de Barchester.
As pessoas em geral pensam apenas em uma geração quando
procuram familias literarias. Neste seculo, nenhuma foi mais notavel
do que a dos irmãos Powys. Não só foram todos
três escritores de grande habilidade - um deles tinha até
genio -, mas escreviam tipos totalmente diferentes de romances.
T. F. Powys estabeleceu-se em Dorset ainda jovem e viveu sempre aí,
servindo o vilarejo e a vizinhança de fundo para seus romances.
O mais jovem, Llewelyn Powys, era tuberculoso e passou grande parte
de sua vida viajando por motivo de saude. Suas estórias mais
conhecidas se desenrolam em ambiente africano. O maior da familia
foi sem duvida John Cowper Powys. Viveu mais de 90 anos, mas foi somente
após a sua morte que vem sendo reconhecido o valor dos seus
longos romances, de visão apocaliptica. "A Glastonbury
Romance", por exemplo, é pouco inferior a "Guerra
e Paz".
Há outros irmãos e irmãs escrevendo atualmente.
Margaret Drabble e sua irmã que escreveu sob o pseudonimo de
A. S. Byatt são duas escritoras. James Pope-Hennessy, o biografo
da Rainha Mary, e seu irmão, Sir John, o historiador de arte,
são filhos de Una Pope-Hennessey, que escreveu um dos melhores
livros sobre a vida de Dickens, mostrando-o como um escritor de genio,
mas muito falivel como ser humano. Não se deve esquecer que
a bisneta de Dickens, Monica, merece destaque como romancista por
força do seu proprio valor. John e Rosamond Lehmann ocupam,
ambos, lugares importantes no cenario literario moderno.
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Três
filhos do arcebispo |
Entre os ultimos escritores da era vitoriana, os irmãos mais
famosos foram, sem duvida, Dante Gabriel Rossetti e sua irmã
Cristina, a poetisa. Outro irmão, William, foi um destacado
critico de arte e propagandista da familia.
Houve tambem os três irmãos Benson, filhos do Arcebispo
de Canterbury. Os escritos historicos de R. H. Benson dificilmente
serão lidos novamente, mas está havendo uma renovação
de interesse pelas obras de E. F. Benson. O seu livro "Dodo"
foi um "best-seller" na sua epoca. A fama do terceiro irmão,
A. C. Benson, deve-se à letra de uma canção que
dificilmente será esquecida "Land of Hope and Glory".
Algumas familias literarias merecem realmente ser chamadas de dinastias,
tão fartas são elas em nomes importantes e em casamentos
entre si. A maior de todas é sem duvida a que começou
com o nome de Thomas Arnold, o grande diretor da Rugby School. Seu
sobrinho, Mathew Arnold, foi poeta e critico; a neta, a sra. Humphrey
Ward, fez nome como romancista radical. Sua irmã casou-se com
o filho de T. H. Huxley, o maior biologo britanico do seculo XIX,
e tornaram-se os pais de Aldous e Julian Huxley. Aldous se destacou
como um dos maiores romancistas do seculo, enquanto Sir Julian tornou-se
conhecido em muitos campos, como o da zoologia, filosofia e administração
(diretor da UNESCO), alem de ser ensaista e poeta (ganhou o Premio
Newdigate de Poesia de Oxford). Seu filho Michael revelou seu talento
como escritor de viagens.
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Dinastia
de escritores |
Mas esses não são os unicos casos. Voltemos à
sra. Humphrey Ward. Sua filha casou-se com G. M. Trevelyan, o historiador,
filho de Sir George Otto Trevelyan, historiador tão famoso
quanto seu filho viria a ser 50 anos mais tarde. Era ainda neto de
Lord Macaulay. Uma verdadeira dinastia de escritores!
Atualmente, outra familia vem apresentando numero impressionante de
escritores, embora nenhum seja ainda de primeira linha. O primeiro
dessa linhagem foi J. W. Mackail, um dos sucessores de Mathew Arnold
como professor de poesia de Oxford. Seus filhos, Denis Mackail e Angela
Thirkell, eram romancistas. Os filhos desta, Colin MacInnes e Lance
Thirkell, são tambem romancistas. Seu outro filho, Graham CcInnes
(este escreve o nome de maneira diferente da do irmão), atualmente
escreve uma autobiografia, em estilo leve, em varios volumes. (BNS)
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