JOSÉ LINS DO REGO


Publicado na Folha da Manhã, domingo, 3 de junho de 1951

Neste texto foi mantida a grafia original

Romancista, fiscal do imposto de consumo e torcedor do Flamengo — Transcorre hoje seu cinquentenario

Transcorre hoje o cinquentenario de José Lins do Rego, sem duvida alguma uma das mais poderosas expressões do romance brasileiro contemporaneo. E como romancista, é ele um representante autentico da sua classe social e do ambiente fisico em que nasceu, igualmente solicitado e conduzido por essas duas realidades que marcam toda a sua obra. Através de seus trabalhos, oferece-nos a imagem de um homem eternamente preso à terra, como se dela recebesse toda a esplendida vitalidade que o anima, o que em Lins do Rego é uma verdade parcial.

José Lins do Rego nasceu em Engenho Corredor, na Paraiba, de uma familia pertencente à melhor aristocracia rural. Sua infancia decorreu no ambiente livre dos banguês do Nordeste, que para sempre gravou na memoria do futuro romancista. Passou pelos bancos escolares do Instituto Nossa Senhora do Carmo, em Itabaiana, onde fez os estudos primarios: do Colégio Diocesano Pio X, em João Pessoa, onde cursou os preparatorios; e finalmente, da Faculdade de Direito de Recife, onde se bacharelou. Após militar no jornalismo da provincia, experimentou a promotoria publica, em Minas Gerais, passando depois a exercer funções de fiscal de bancos em Alagoas. Está radicado no Rio desde 1935, onde, alem de escritor e jornalista, é fiscal do imposto de consumo e diretor de entidades esportivas.

Sua estréia nas letras deu-se em 1932, com o romance "Menino de Engenho" (Premio da Fundação Graça Aranha). A seguir publicou os seguintes livros de ficção: "Doidinho" (1933), Benguê (1934), "Moleque Ricardo" (1935), "Usina" (1936), "Pureza" (1937), "Pedra Bonita" (1938), "Riacho Doce" (1939), "Água Mãe" (1941, Premio da Sociedade Felipe D'Oliveira), "Fogo Morto" (1943) e "Euridice" (1947, Premio Fabio Prado). É autor, ainda, de volume de ensaios e de uma coletanea de historias infantis; possivelmente este mês será lançado o seu anunciado romance "Cangaceiros".

No momento, José Lins do Rego encontra-se na Suecia, na qualidade de chefe da delegação do C. R. Flamengo, de que é torcedor intransigente.

AUTO-RETRATO DO ESCRITOR


A respeito de si proprio, José Lins do Rego traçou o seguinte retrato:

"Dezembro de 1947.

"Tenho quarenta e seis anos, moreno, cabelos pretos, com meia duzia de fios brancos, um metro e 74 centimetros, casado, com três filhas e um genro, 86 quilos bem pesados, muita saude e muito medo de morrer. Não gosto de trabalhar, não fumo, durmo com muitos sonhos, e já escrevi 11 romances. Se chove, tenho saudades do sol, se faz calor, tenho saudades da chuva. Vou ao futebol, e sofro como um pobre diabo. Jogo tenis, pessimamente, e daria tudo para ver meu clube campeão de tudo. Sou homem de paixões violentas. Temo os poderes de Deus, e fui devoto de Nossa Senhora da Conceição. Enfim, literato da cabeça aos pés, amigo de meus amigos e capaz de tudo se me pisarem nos calos. Perco então a cabeça e fico ridiculo. Não sou mau pagador. Se tenho, pago, mas se não tenho, não pago, e não perco o sono por isso. Afinal de contas, sou um homem como os outros. E Deus queira que assim continue."


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