FLORESTAN
FERNANDES
O
Partido Comunista do Brasil divulgou os três conjuntos de teses
que orientarão os debates no 8º congresso: "A Luta pelo Socialismo",
"Problemas Atuais do Brasil e do Mundo" e "Questão de Organização
do Partido". Ele se manifesta por uma posição intransigente de defesa
do socialismo e de sua própria posição revolucionária.
O
primeiro opúsculo apresenta uma síntese da evolução do marxismo-leninismo
e das revoluções em outros países. Caracteriza a progressiva generalização
do revisionismo, da burocracia e do oportunismo, com suas devastadoras
consequências. "Apontamos os equívocos não para negar o socialismo,
mas com o objetivo de afirmá-lo como o fulcro luminoso da humanidade".
O
segundo opúsculo trata da vitória e do eclipse da revolução proletária,
em um cenário histórico mundial de revivescimento do capitalismo
oligopolista e do seu padrão de imperialismo. São focalizadas a
emergência de novas potências e a regionalização dos mercados, a
agressividade dos Estados Unidos como superpotência em declínio
e as contradições do mundo capitalista pós-guerra fria. São equacionadas
a decadência do "social-imperialismo soviético" e a crise dos países
em transição para o socialismo. A política da perestroika e a social
democratização dos PCs são examinadas como símbolo e modelo da desagregação
em curso. O PC do B coloca-se no plano oposto. Aponta sua inabalável
identificação com o socialismo revolucionário, o valor da legalidade
para o partido e a imperiosa necessidade de união à esquerda, decorrente
do egoísmo caolho da burguesia brasileira e sua submissão ao imperialismo.
Quanto a Collor e suas promessas qualifica-os como "governo recente
(que) já se encontra velho".
O
último opúsculo avalia os problemas táticos e estratégicos de organização,
realçando os caracteres democráticos, de vanguarda e de massas do
partido. Preserva o centralismo democrático com mão dupla e põe
em relevo o papel que lhe cabe na luta por reformas sociais profundas
e na construção de uma sociedade socialista.
Esses
documentos são importantes no contexto da esquerda brasileira. Repõe-se
a pergunta: O que fazer? A burguesia proclama que o marxismo se
desvaneceu. Porém, sucumbe diante dos problemas cruciais das "nações
ricas" e da periferia, como sucede com a pobreza absoluta e relativa.
O neoliberalismo soa como o fim de uma civilização, que perdeu o
sentido da vida, da natureza e da condição humana.
Há
certas ponderações a fazer. Se o marxismo continua ativo, como realidade
histórica, concepção do mundo e prática, ele não pode ser reduzido
à versão do marxismo-leninismo da era de Stalin. O centralismo democrático
não faz parte do legado de Marx e Engels. Nas condições históricas
concretas da Rússia pré-revolucionária foi preciso centralizar o
poder das classes trabalhadoras e dos seus aliados no partido e
nos sovietes. Mas Lênin confiava em que, adiante, os sovietes dissolveriam
toda concentração institucional do poder, no Estado inclusive. Aprendemos
o que significa voltar a Marx: existem ou não as premissas históricas
para a implantação do socialismo? Os partidos revolucionários, especialmente
na periferia, não podem repetir "equívocos". Devem superar os obstáculos
à conquista do poder dentro de perspectivas realistas, segundo a
lógica da democracia socialista e do comunismo.
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