Divulgação
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Madonna
com figurino fetichista, usado no videoclipe "Erotica"
em 1992
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Por SABRINA CAIRO
A imagem e a moda fetichista permaneceram no obscurantismo, escondidas
em revistas sobre sexo como a "High Heel" (Salto Alto), até
a década de 60, quando os "normais" passaram a se vestir
do mesmo modo que os "pervertidos", motivados pela liberação
sexual e pela necessidade de ir contra toda tradição recatada,
vista como um produto judaíco-cristão e burguês.
A primeira moda fetichista que alcançou aceitação
popular foi a chamada bota bizarra, até então associada
a prostitutas, especialmente dominadoras. Essas botas de couro e salto
alto, lançadas em 1965, podiam ser da altura dos joelhos ou até
das coxas, e eram freqüentemente abotoadas ou amarradas.
Um dos elementos que contribuíram para essa popularização
foi o seriado de televisão "Os Vingadores". Nele, Diana
Rigg interpretava Emma Peel, uma mulher poderosa e sensual que usava,
além dessas botas, uma "catsuit" (macacão tipo
fantasia felina) de couro diretamente inspirada pelas roupas fetichistas
criadas por John Sutcliff.
Nessa época, as roupas masculinas também se tornaram mais
eróticas, e o rock and roll contribuiu bastante para isso. A maioria
dos cantores de rock, visíveis ditadores de tendências, usavam
roupas de couro coladas à pele, além de tatuagens e acessórios
de couro. Nesse cenário, também cabe lembrar dos punks que,
impulsionados por bandas como Sex Pistols, incorporaram à moda
vários objetos ofensivos ou ameaçadores, como coleiras e
correntes. As mulheres punks, principalmente, tiraram do armário
meias arrastão, saltos agulha e capas de borracha.
Mas foram nos anos 70 em particular que a revolução sexual
tornou-se um fenômeno de massa. Nesse momento, a censura enfraqueceu
e a comercialização do sexo e sua conseqüente transformação
em mercadoria se acelerou. Botas bizarras e espartilhos, por exemplo,
eram vendidos em lojas de departamentos a um preço irrisório.
Até os psiquiatras adotaram um tom mais permissivo em relação
ao fetichismo masculino e passaram a reprovar esposas que se incomodavam
com os pedidos dos maridos fetichistas.
As roupas dessa época, em geral, acabaram se caracterizando por
uma grande dose de erotismo perverso e violência sadomasoquista.
É desse período também o fetichismo chique, criado
pelo fotógrafo alemão Helmut Newton.
Apenas no início dos anos 80 tanto a psiquiatria como as pessoas
começaram a rever sua posição no que diz respeito
ao fetichismo, que passou a ser avaliado juntamente com todo material
pornográfico e sexualizado. Principalmente as feministas começaram
a chamar a atenção para a maneira como o comportamento sexual
masculino explorava ou até mesmo desumanizava as mulheres.
No entanto, esse pensamento mais conservador não impediu o surgimento
dos clubes de moda fetichistas em 1983, onde fetichistas de plantão
até hoje se juntam a jovens modernos com tendência ao fetichismo.
Nesta década também surgiram os góticos, que deram
seqüência ao interesse dos punks pelo fetichismo, traduzindo
uma maneira mais extravagante de se vestir, e as bad girls, que trabalhavam
com uma imagem mais agressiva, conveniente à mulher moderna.
Apesar de toda essa transformação e aceitação,
o fetichismo só se tornou uma referência para a moda internacional
na década de 90, pontualmente em 1992, com a coleção
de "amarrados" apresentada por Versace. Gaultier já havia
feito incursões neste mundo, quando recuperou os espartilhos -
esquecidos desde o começo do século 20 - com sua célebre
peça rosa criada para Madonna,
que a cantora usou em sua turnê européia "Blonde Ambition".
Essa tendência ao fetiche e a seu repertório visual extremamente
característico se cristalizou na forma de um revival do estilo
Emma Peel, que pode ser percebido no filme "Batman - O Retorno",
em que Michelle
Pfeiffer usa uma "catsuit" de borracha colada
à pele, fazendo referência a uma mulher dominadora. Os clubbers,
extremamente receptivos à moda, também incorporaram rapidamente
essas peças no seu visual moderno, assim como o mundo gay.
Como toda moda - em que o pensamento vigente e a condição
das mulheres no momento são traduzidos pelos estilistas em modelos
que correspondam às necessidades femininas -, a adoção
do estilo fetichista está diretamente relacionado com a mulher
ideal da década de 90, ou seja, com a mulher forte, poderosa e
independente. O apelo dessa moda está basicamente aí, e
não no fetiche como objeto de consumo masculino, como se pode pensar.
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