Emir
M. Nogueira
O
Formulário Ortográfico brasileiro - ou seja, a nossa
ortografia oficial - estabelece o seguinte, como norma geral,
a respeito de nomes próprios: "Os nomes próprios
personativos, locativos e de qualquer natureza, sendo portugueses
ou aportuguesados, estão sujeitos às mesmas regras
estabelecidas para os nomes comuns".
Ora, uma regra estabelecida para os nomes comuns é que
o h só se emprega, "em razão da etimologia
e da tradição escrita do nosso idioma", no
principio de certas palavras (homem, honra, haver) e no fim de
algumas interjeições (oh!, ah"); no meio das
palavras, ele só aparece nos grupos ch, lh e nh. Não
há th, no atual estágio da ortografia brasileira.
Logo, Coríntians, sem th (nomes próprios de qualquer
natureza estão sujeitos às mesmas regras existentes
para os nomes comuns).
O mesmo Formulário Ortográfico, porém, estabelece
exceções à regra geral. A que nos interessa:
"Poderá também ser mantida a grafia original
de quaisquer firmas, sociedades, títulos e marcas que se
achem inscritos em registro público".
Logo, Corinthians, com th (nome de uma sociedade devidamente registrada).
Conclusão? Tanto Coríntians como Corinthians são
formas justificáveis. Só que...
Só que quem escreve Corinthians deve também escrever
o nome completo do clube assim - Sport Clube Corinthians Paulista,
que é como consta no registro público, deve escrever
São Paulo Football Club, pelo mesmo motivo. Se duvidar,
deve voltar a dizer que o "team tem um "goalkeeper",
dois "backs" e vários "forwards".
Afinal, o mundo caminha para a frente não para trás.
A nomenclatura futebolística, que é de origem inglesa,
há muito foi nacionalizada, abrasileirada, mediante a tradução
ou a adaptação de seus termos à nossa pronúncia
e à nossa ortografia. Não teria sentido que precisamente
o clube mais popular de São Paulo constituísse uma
exceção, teimando-se em escrever-lhe o nome à
maneira inglesa (o Corinthians inglês, em homenagem ao qual,
segundo os cronistas esportivos, o nosso foi batizado, tem seu
nome ligado a Corinto, região grega familiar a nós
por causa das cartas de São Paulo; ninguém escreve
Corinto com th).
Emprego de letras exóticas (k, w, y) e de grupos de letras
(ph, sh, th) estranhos à nossa ortografia é muito
comum, hoje, em firmas comerciais, por duas razões: 1)
a convicção de que tudo que pareça estangeiro,
principalmente norte-americano, impressiona mais o homem comum;
2) a crença no fascínio que as coisas exóticas
têm. Mas o Coríntians não precisa disso e
exatamente o caráter eminentemente popular do clube deve
repelir esses sofisticados artifícios.
Outra observação: o a nasal final, seguido ou não
de s, oxítono ou não, é representado em nossa
ortografia por til e não n ou m: irmã, irmãs,
ímã, ímãs. Logo, a rigor, deveríamos
ter Corintiãs e não Coríntians. Mas em Corintiãs
parece haver demasiada alteração da morfologia original
- e por isso a forma não "pegou". Registre-se
ainda que é de difícil pronúncia o som final
do nome do clube, razão por que, na linguagem coloquial,
ele passa a Corintia ou Curintia.
Em suma, Coríntians. Corinthians só para os tradicionalistas,
passadistas, conservadores.