Desclassificados os brasileiros


Publicado na Folha da Noite, segunda-feira, 28 de junho de 1954

Neste texto foi mantida a grafia original

 
Vitoria hungara por 4 a 2 em partida repleta de incidentes — a agencia "Ansa" considerou parcial a arbitragem de Ellis — dois a um no primeiro tempo — o quarto gol magiar foi assinalado nos ultimos minutos

BERNA, 27 - Uma multidão calculada em 55 mil espectadores, comprime-se nas dependencias do estado "Wakdorf" a fim de presenciar o esperado embate entre os selecionados do Brasil e da Hungria.
O tempo está encoberto, ameaçando chuva. Sob grande expectativa os quadros entram no gramado obedecendo às seguintes constituições:
BRASIL: Castilho, Pinheiro, Nilton Santos, Djalma Santos, Brandãozinho, Bauer, Julinho, Didi, Indio, Humberto, Maurinho.
HUNGRIA: Grosics, Buzanski, Lantos, Bozsik, Lorant, Zakarias, Toth II, Kocsis, Hidegkuti, Csibor, Toth I.

Pressão magiar

Às 17 horas exatamente o juiz britanico Ellis trila o inicio da contenda. Dada a saida os hungaros atiram-se decididamente à luta. A pressão magiar é realmente impressionante, e a defesa brasileira desdobra-se a fim de impedir a queda da meta de Castilho. Aos 2 minutos por um triz os magiares não abrem a contagem, vencido o arqueiro brasileiro, a bola está prestes a transpor a linha de gol, quando intervem um defensor brasileiro para rebater aliviando o perigo.
Aos 3 minutos a defesa brasileira é obrigada a desviar a esfera para escanteio. O tiro de canto é cobrado. A bola pinga na area sendo atrazada para Hidegkuti que atira para marcar, abrindo a contagem.
Contra-ataca o Brasil e aos 6 minutos Lorant concede um escanteio a favor da linha de frente do selecionado auri-verde. O tiro de quina é cobrado sem exito. Em seguida voltam os hungaros a assediar o ultimo reduto brasileiro. Um remate de Toth I passa raspando o poste direito da meta de Castilho. Aos 7 minutos a Hungria volta a marcar por intermedio de Kocsis, que se encontra em flagrante impedimento. Hidegkuti domina no centro do gramado e cede ao meia direita. Deste a bola viaja para Toth I, que investe contra a area adversaria pela direita. Junto ao bico da area Toth centra; Kocsis, impedido no centro da grande area, golpeia de cabeça para assinalar o segundo tento magiar.

Reage o Brasil

A Hungria, apesar de favorecida pelo juiz, neste seu segundo ponto está jogando melhor do que o Brasil, nestes primeiros instantes da peleja. A partir dos 10 minutos de jogo no entanto, o Brasil reage. Aos 10 minutos um cerrado ataque brasileiro conclui-se com a intervenção do zagueiro direito hungaro, que desvia pela linha de fundo. O tiro de canto é cobrado, a bola é atrazada para Humberto que atira provocando segura intervenção de Grosics.

Primeiro gol do Brasil

Aos 14 minutos Didi remata de fora da area, e a esfera se perde por cima do travessão. Aos 15 minutos Brandãozinho volta a atirar sem exito de grande distancia. O dominio brasileiro é agora absoluto. Aos 17 minutos os brasileiros organizam uma ação veloz e perigosa. Quando Indio se preparava para levantar, é trancado ilicitamente em plena grande area. O juiz, proximo ao lance não titubeia em assinalar a penalidade maxima, cobrada com exito por Djalma Santos que vence Grosics, com um tiro rasteiro, no canto direito.
Aos 20 minutos Toth I cobra uma falta contra os brasileiros. Defende mal Castilho e quando o avante hungaro se prepara a intervir, Pinheiro salva a situação rechaçando.
Aos 33 minutos, lançado por Kocsis, Toth II atira precipitadamente por cima do travessão. Aos 35 minutos organizam os hungaros novo ataque. O golpe de cabeça de Kocsis, num centro da direita é facilmente neutralizado por Castilho.
Voltam ao ataque os brasileiros. A defesa hungara está apelando para o jogo violento a fim de conter as arremetidas brasileiras. Aos 37 minutos Indio livra-se de seu marcador e cede a Didi. O meia esquerda lança Humberto, que no entanto perde boa oportunidade rematando pela linha de fundo.

Perigo!

Aos 38 minutos a meta brasileira corre grave perigo: Hidegkuti investe contra o campo adversario, livra-se da marcação de Brandãozinho, e atira finalmente com extrema violencia. Djalma Santos intervem em tempo para desviar o remate pela linha de fundo com o bico da chuteira. O tiro de canto é cobrado por Toth II. Csibor domina a esfera e serve Kocsis que finaliza pela linha de fundo.
Aos 39 minutos magnifica ação pessoal de Maurinho arranca aplausos da assistencia. Buzanski intervem a ultima hora para desviar pela linha de fundo. Logo mais Nilton Santos atira de fora da area e Grosics é obrigado a praticar sensacional defesa, afastando de munheca.

Toth II se contunde

Os brasileiros permanecem no ataque. A decantada objetividade da linha de frente hungara está neutralizada pela defesa brasileira. Entremente o ponteiro direito Toth II, depois de ter sido atingido na perna direita, manca, ressentindo-se da contusão. Aos 40 minutos Indio lança Maurinho, mas Lantos puxa a esfera antes que o passe chegue a seu destino.
Aos 41 minutos Lorant tranca ilicitamente os passos de Indio lançado irresistivelmente contra a meta adversaria. O zagueiro central hungaro é vaiado pela assistencia, à vista de sua intervenção ilegal. A falta é cobrada por Julinho: Grosics defende mas não segura. A bola bate no terreno, e o arqueiro se atira para segurá-la definitivamente. Aos 43 minutos Julinho arranca contra a area adversaria. Domina dois contrarios e cede finalmente a Indio. O juiz, no entanto assinala o impedimento do centro-avante brasileiro.
Contra-atacam os hungaros. Lançado por Hidegkuti o medio direito Bozsik, que se infiltrou na defesa brasileira, remata por cima do travessão. Depois de cobrado o tiro de meta, a bola chega aos pés de Humberto, que de posição angulada atira violentamente. Grosics, pratica então sensacional defesa para agarrar a esfera no canto direito de sua meta.
Os brasileiros continuam no ataque, e o trilo do juiz, dando por encerrada a primeira fase do encontro, trunca ao meio uma ação brasileira.

Segundo tempo

Acreditava-se que Toth II não regressasse ao gramado na segunda fase. No entanto tal não acontece, e o ponteiro direito volta a ocupar a sua posição na segunda etapa.
Logo depois do inicio da segunda fase, lançado por Hidegkuti, Kocsis finaliza pela linha de fundo.
Aos 3 minutos, lançado por Didi, Indio atira violentamente mas nos braços do arqueiro hungaro, que não encontra dificuldade em defender.

Pressão magiar

Aos 5 minutos os hungaros cobram sem exito um tiro de canto concedido pela defesa do selecionado auri-verde. Os hungaros continuam a assediar o ultimo reduto brasileiro. Csibor evita seu marcador e cede em seguida a Toth I. O ponteiro centra para Jocsis emendar por cima do travessão.
No contra-ataque brasileiro Grosics pratica sensacional defesa, a fim de defender o remate de Julinho. Grosics levanta para o centro do gramado onde domina Csibor. O meia-esquerda investe contra o campo brasileiro e de fora da area remata. Castilho, atento e bem colocado defende com segurança.
Aos 13 minutos Didi lança Humberto mas o ponta de lança perde boa oportunidade, permitindo a intervenção de um defensor hungaro, que afasta o perigo.

Penal inexistente

Aos 15 minutos surge inesperadamente o terceiro tento magiar. Toth II estica para Csibor. O meia-esquerda remata de fora da area e Pinheiro escora junto à linha da pequena area. O juiz aponta a penalidade maxima, alegando que o zagueiro central dominou a esfera com mão. A penalidade maxima, inexistente foi cobrada por Lantos, que vence Castilho com um tiro a meia altura colocado no canto esquerdo.

Atacam os brasileiros

Os brasileiros não se entregam, apesar da flagrante parcialidade do juiz. Aos 17 minutos um violento remate de Didi passa pouco acima do travessão da meta de Grosics. Aos 18 minutos, Humberto choca-se com Hidegkuti, que fica contundido, caindo ao solo. Prontamente atendido o centroavante volta à sua posição. Aos 19 minutos Didi lança Maurinho, Zakarias desfaz a ação, colocando pela lateral.
Os brasileiros não esmorecem, e aos 20 minutos consignam seu segundo ponto, por intermedio de Julinho com violento remate a meia altura, que vence Grosics pela esquerda.
Aos 22 minutos Toth II lança Kocsis. O meia direita finaliza. Castilho defende espetacularmente, mas não segura. Nilton Santos intervêm, para aliviar definitivamente o perigo.
Os brasileiros atacam ameaçadoramente. Indio livra-se da marcação de um contrario e investe contra a area adversaria. Grosics sai a seu encontro, e com os pés consegue desviar à ultima hora. Em seguida Maurinho não domina um lançamento em profundidade, e a defesa hungara afasta o perigo.

Chuva forte

Começa agora a cair sobre o estadio uma chuva mais ou menos forte. Os brasileiros demonstram claramente dificuldade em jogar com o campo escorregadio. Aos 24 minutos Nilton Santos afasta o perigo criado por uma investida de Toth II, à boca da meta brasileira, desviando a esfera pela linha de fundo.
Aos 25 minutos o juiz, continuando a agir com a parcialidade que até este instante caracterizou suas decisões expulsa do gramado Bozzik e Nilton Santos, quando o unico expulso deveria ser o medio direito hungaro. Os dois jogadores chocam-se no centro do gramado. Nilton Santos domina a esfera e prepara-se para rechaçar quando o medio direito o agride. O jogador brasileiro atacado a socos e pontapés, procura então revidar. O juiz intervem para expulsar a ambos.
O quadro brasileiro ataca em bloco, à procura do empate. Num rapido contra-ataque, lançado por Toth II, Kocsis, surpreende desguarnecida a defesa brasileira, mas Maurinho intervem em tempo, para desviar pela linha de fundo. A chuva entrementes aumentou de intensidade, e o gramado torna-se cada vez mais escoregadio.

Quarto gol hungaro

Aos 40 minutos Humberto investe contra a grande area contraria, mas perde o dominio da esfera, permitindo a intervenção de Hidegkuti, que alivia o perigo. Aos 43 minutos os hungaros consignam seu ultimo tento. Hidegkuti cobra uma falta pouco alem do grande circulo, no campo brasileiro. A bola é endereçada para Toth I, que concede a Kocsis. Remata o meia direita, vencendo Castilho, e consignando o tento. Os hungaros, sob chuva torrencial atacam agora ameaçadoramente. A defesa brasileira rechaça: Humberto apodera-se da esfera e investe contra o campo contrario. Buzanski intervem faltosamente sobre Humberto e o meia brasileiro revida. O juiz expulsa Humberto do Gramado. Protestam os jogadores do Brasil, enquanto os hungaros apóiam o juiz. Desentendem-se Didi e Csibor, que trocam pontapés, intervindo tambem na briga o ponteiro-direito Julinho.
Finalmente a partida pode continuar. Julinho lançado por Brandãozinho remata pela linha de fundo.
Em seguida o juiz dá por encerrada a acidentada peleja, que viu uma imerecida vitoria hungara.


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