O VERDADEIRO PELEZINHO NÃO ESTÁ NO GIBI
O
estranho crioulinho matou a bola no peito, fez embaixadas, impressionou
os extasiados americanos. Era Edinho, o filho do Rei, que a Warner
adotou para não deixar Pelé parar
|
Publicado
na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 1977
|
|
|
Um controle de bola perfeito, uma disposição incomum,
uma ginga de corpo já conhecida (só a China ainda não
foi apresentada, mas mês que vem, terá este prazer).
Ontem, momentos antes do jogo decisivo entre o Cosmos e o Lancers,
pelas semifinais do Campeonato Norte-Americano de Futebol, o New York
Times apresentava seu novo mascote: um crioulinho de apenas seis anos
de idade de rara afinidade com a bola. Seu nome: Edinho, o filho do
Rei.
Na verdade, mais que um mascote, aquele menino que chegava a surpreender
às quase 80 mil pessoas que esperavam pelo jogo no "Giants
Stadium" passou a ter, para a Warner, um novo sentido. Bem mais
prático, como era de se esperar dos americanos. A partir de
agora, ele já está sendo conversado, pelos homens do
Cosmos, a convencer seu pai de que ainda não é hora
de parar com o futebol. Pelé sabe disse, mas não discute:
- É, o Edinho está sempre me perguntando "agora
que eu estou começando a entender o que você faz, você
vai parar?". Mas não tem jeito. Já avisei a Warner
que paro mesmo no dia 1o de outubro, quando o Santos virá jogar
aqui. Depois, só jogos beneficentes.
Se Edinho não pode interceder num problema destes, pode, no
futuro, se transformar num grande jogador. Habilidade ele já
mostrou que tem - e Pelé a reconhece. Interesse também
- ele comparece a todos os treinos e jogos do Cosmos. Mas a preocupação
de Pelé está na responsabilidade que recairá
sobre o garoto no dia que ele resolver jogar bola. Ontem mesmo, apesar
dos sorrisos, Pelé não gostou, nem um pouco, daquela
exibição que era mais uma promoção americana.
- Sabe o que é? No dia que ele cismar de jogar, vão
cobrar dele o meu futebol. Você lembra do Zoca, meu irmão?
Pois é, era um bom jogador, mas insistiam sempre em compará-lo
comigo. Então ele não conseguia jogar. E, se não
fosse meu irmão, estaria jogando até hoje em qualquer
grande clube.
Esse desabafo fez Pelé no início do mês, quando
esteve no Brasil para lançar a revista "Pelezinho".
Em conversa com o repórter Michel Laurence, hoje na TV Globo,
ele reconhecia que, para um garoto de apenas seis anos, Edinho tinha
muita habilidade para o futebol, mas fazia questão de não
divulgar suas qualidades justamente para que, no futuro, se resolvesse
jogar futebol, não carregasse a sua fama.
O mesmo Michel Laurence lembra que, em 1974, quando Edinho tinha apenas
três anos, ele, durante uma entrevista com Pelé em sua
casa de Santos, assistiu a um fato inédito. O repórter
conta:
- Pelé me levou para uma sala - uma sala de projeção
de filmes -, afastou móveis, cadeiras, levantou a tela e bateu
bola com o garoto. E ele, com apenas três anos, já dava
bicicleta.
Àquela época, Edinho só não acompanhava
Pelé por causa das concentrações. Hoje, já
é sucesso não apenas nos treinos.
|
©
Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos
reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em
qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização
escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.
|
|