Portuguesa não quis Maradona por US$ 300 mil

Publicado na Folha de S.Paulo, terça-feira, 21 de agosto de 1990


Menotti cortou o meia antes do Mundial de 78

Da Redação

Não foi só a Portuguesa que ignorou o talento de Maradona. Convocado para a seleção argentina em uma lista de 25 atletas para a preparação da Copa do Mundo de 78, Maradona, então com 17 anos, acabou cortado às vésperas do Mundial pelo técnico César Menotti por ser "jovem demais para integrar a seleção".

Menotti foi duramente criticado pela imprensa argentina, mas Maradona aceitou a decisão. "É muita responsabilidade disputar um Mundial dentro do próprio país", disse o jogador. Menotti, hoje treinador do Peñarol, do Uruguai, escapou de maiores críticas porque a Argentina chegou ao título. Em 79, Maradona conquistou o título do Mundial de juniores, no Japão.

Diego Armando Maradona (29, 1,68 e 70 kg) iniciou sua carreira profissional na equipe dos Argentinos Juniors, onde jogou entre 76 e 80. No Argentinos, o "Pibe de Oro" disputou 166 partidas pelo Campeonato Argentino e marcou 116 gols. Depois, se transferiu para o Boca Juniors onde ficou entre 81 e 82 antes de ir para o futebol europeu. Maradona jogou no Barcelona, da Espanha, por duas temporadas e, em 84, foi contratado pelo Napoli, da Itália, onde joga até hoje.

Seus principais títulos são a Copa do Mundo de 1986, no México; o título argentino de 1981 pelo Boca; os títulos italianos de 86/87 e 89/90 e a Copa Uefa de 88/89. Maradona declarou após a Copa da Itália que não vai disputar outro Mundial.

Mauro Teixeira

Da Reportagem Local

A Portuguesa se recusou a comprar o passe de Diego Armando Maradona em 1975. A revelação foi feita pelo empresário Juan Figer durante o programa "Toque de Bola", da TV Manchete, no último domingo. Figer ofereceu o jogador argentino por US$ 300 mil a Manuel Mendes Gregório, então diretor do clube paulista, quando os dois se encontraram no prédio da Federação Paulista de Futebol.

Segundo Figer, Gregório achou "um absurdo" pagar US$ 300 mil por um atleta desconhecido de 15 para 16 anos e encerrou a conversa. Maradona, que anos depois viria a ser considerado um dos melhores jogadores do mundo, jogava no Argentinos Juniors. O empresário explicou que fora convidado a assistir uma partida de Maradona por um procurador do jogador argentino. Viu, gostou, mas não conseguiu vendê-lo a um clube brasileiro antes que o talento de Maradona fosse reconhecido em seu país. Manuel Mendes Gregório não foi encontrado ontem pela Folha. Sua secretária afirmou que ele está passando suas férias em Portugal. Os familiares de Osvaldo Teixeira Duarte, presidente do clube na época, informaram que ele está doente e não tem condições de dar entrevistas.

Marcel Figer, filho e sócio de Juan Figer, considera normal o fato. E explica: "Seria a mesma coisa se eu oferecesse hoje ao presidente de um grande clube um jogador completamente desconhecido e pedisse US$ 600 mil ou US$ 700 mil. Ele iria rir da minha proposta e esquecer o assunto". Ele contou que seu pai não pôde negociar Maradona no Brasil porque o jogador evoluiu cada vez mais e despertou a atenção dos clubes europeus. Em 1978, aos 18 anos, o "Pibe de Oro" era considerado um nome certo no selecionado argentino que disputaria a Copa do Mundo. Entretanto, o técnico César Menotti preferiu não convocá-lo, mas admitiu, após o Mundial, que Maradona era o maior jogador de seu país. Nessa época, o Argentinos Juniors já pedia cerca de US$ 1 milhão pelo passe de sua maior revelação.

Se a história fosse outra e Manuel Mendes Gregório tivesse aceitado a proposta de Juan Figer, a Portuguesa ganharia um importante reforço para o seu meio-campo, formado então por Badeco, Enéas e Dicá.

Talvez o time do Canindé tivesse conseguido mais do que o vice-campeonato paulista de 75. A equipe da Portuguesa derrotada nos pênaltis pelo São Paulo na decisão era formada por Zecão; Cardoso, Mendes, Calegari e Santos; Badeco, Enéas e Dicá; Antônio Carlos, Tatá e Wilsinho. A tarefa de achar um lugar no time para o "Pibe" argentino estaria a cargo do técnico Otó Glória.

Nélson da Custódia, na época vice-presidente do clube - cargo que ocupa hoje em dia -, declarou que nunca tomou conhecimento do fato, mas concorda com Marcel Figer: "Se estivesse no lugar do Mendes Gregório, recusaria da mesma forma". O dirigente citou o jogador Bentinho, 18, a quem considera um "fora-de-série" e fez uma ousada comparação. "Qual seria a reação do presidente do Milan se eu lhe oferecesse o Bentinho, uma 'pérola' que temos no Canindé, por US$ 500 mil? Ele iria mandar me prender", encerrou.



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